sábado, 30 de janeiro de 2010

O que faz falta, é dar a volta por cima

Ao longo dos últimos vinte anos, fomos ouvindo desabafos do género: “um dia destes isto rebenta”, ou “ainda vamos pagar caro estes excessos”, ou “assim comprometemos o futuro”. Chegados a 2010 o que verificamos é que isto estoirou mesmo - que os excessos cometidos estão agora a ser pagos e que afinal o futuro é negro. Mesmo assim, como se impõe e pede, porque todos pedem e dão palpite, como eu neste texto breve, não podemos ser negativos e devemos encarar as dificuldades com coragem, para ir em frente e ultrapassar barreiras.
Apesar de verificarmos que a Região Autónoma da Madeira reclama o direito a continuar a endividar-se e ainda quer receber 111 milhões de retroactivos que lhe não permitiram gastar no passado. Apesar da produtividade do país não crescer e as exportações também não. Do desemprego aumentar. Da conjuntura internacional não ajudar. Das contas públicas serem cada vez mais desastrosas. Das chamadas “Forças Vivas” e as “Forças Mortas” exigirem cada vez mais subsídios. Mesmo sabendo nós que ninguém vigia os gastos inexplicáveis do Estado e que o Tribunal de Contas não é respeitado. Que o mais fácil a fazer na elaboração de um Orçamento de Estado em tempo de crise é congelar salários e manter gastos supérfluos para alimentar os lóbis e os poderosos. Mesmo sabendo que o dinheiro que a Caixa Geral injectou no BPN daria para um aeroporto ou para reconstruir metade do Haiti. Mesmo sabendo que o IEP – Instituto de Estradas de Portugal vai pagar mais 500 milhões nas auto-estradas ainda antes de estarem prontas e ninguém se importar com este roubo declarado.
Mesmo assim e sempre com pensamento optimista e espírito construtivo, sem desmoralizar, acreditamos num amanhã melhor.
Só não percebemos porque é que temos de ser sempre os mesmos a pagar a crise. Os mesmos que trabalham e não recebem o devido valor, os que querem trabalho e não têm, enquanto a outros, tudo é permitido. Ao nível dos investimentos directos do Estado pelas várias regiões do país é a mesma coisa. E o Interior é mais uma vez esquecido e ostracizado. Brutalmente marginalizado.
Veja-se o caso do concelho de Seia, onde o período actual é dos mais negros do ponto de vista político.
- Situação financeira do município muito complicada;
- Verbas contempladas em PIDDAC quase a zero;
- Retirada de aviões quase eminente;
- Execução dos Itinerários Complementares adiada por quatro anos.
Que mais mal nos pode acontecer? Eu que não sou ave de mau agoiro, nem quero imaginar se um dia destes a ARA não se aguentar. Aí seria mesmo o descalabro total.
Mas não, quero ser optimista e acreditar que os actores políticos vão dar a volta por cima. Actores políticos locais, distritais – que prometeram mundos e fundos – e os políticos nacionais.
No caso da não execução dos traçados rodoviários, anunciada pelo Ministro das Finanças, foi para mim, como será para todas as pessoas desta região, o maior balde de água fria político e a maior desilusão. Mais uma vez o desenvolvimento desta zona do interior atrasa-se uma década!
Quanto a obras que o Estado poderia vir a executar, injectando dinheiro no circuito, cito apenas alguns exemplos que não devem esperar muito, sob pena disto continuar a afundar-se:
- Reconstrução / remodelação do edifício da Escola Secundária de Seia;
- Ampliação do Quartel da GNR de Seia;
- Quartel dos Bombeiros de Loriga;
- 2ª Fase da Variante de Seia;
Estas e outras obras são fundamentais para Seia, além naturalmente dos tais traçados para nos ligarem mais rápido ao mundo.
Por último, lembro que temos de ser optimistas, não nos conformarmos nem nos deixarmos ir na primeira cantiga para nos embalar e ir em frente. Temos de ter a noção de que, além da importância estratégica das opções técnicas, importa agora e cada vez mais a acção política. O Chamado peso politico e institucional.
E da nossa parte, enquanto actores locais, temos de acreditar e pensar também que o Estado não pode fazer tudo e que dispomos de instrumentos aonde recorrer, para empreendermos novos investimentos. Seia precisa de novos alojamentos hoteleiros. Precisa de novas indústrias criativas. Há possibilidade de criar novos negócios e incrementar novas actividades. Não esquecendo, claro, que o Turismo e actividades paralelas são a via prioritária, onde há muito para explorar.
Por tudo isto, abre-se neste ano de 2010 uma nova etapa na história do desenvolvimento económico e social de Seia e Portugal. Para o bem e para o mal!

1 comentário:

Cagido disse...

Belo texto. Caracterizou muito bem o seu PS no melhor e pior. Votei nesse partido quando alcançou a maioria absoluta há 4 anos atrás, mas não me enganaram mais.
Junte-se ao sr. João Tilly e ao sr. Luís Silva e, talvez os vossos gritos de reivindicação sejam ouvidos no Terreiro do Paço. Criem uma Plataforma civil e independente lutando pelos direitos de Seia e do Interior, é uma sugestão. Também sou a favor do desenvolvimento da região interior.