sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Comunidade Intermunicipal promove debate sobre os acessos ao maciço central da Serra da Estrela


Agora fala-se de planos de prevenção de fogos florestais e de como combater o flagelo em tempo de “guerra”, com os fogos aí na ordem do dia, neste Verão quente de 2016.
Entretanto, aproximamo-nos de mais um Inverno e tão depressa teremos o assunto dos acessos ao maciço central outra vez na comunicação social, onde se fala do corte de estradas na sequência da queda de neve. Uma situação com mais de trinta anos e que ano após ano é recorrente.
Por isso, a Assembleia da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, a que presido, vai realizar um debate no próximo dia 9 de Setembro, no Auditório da Torre, de acordo com a seguinte nota de imprensa:




“Assembleia da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela promove debate na Torre sobre os acessos ao maciço central

No âmbito das suas atribuições, a Assembleia da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE) em colaboração com o Conselho da respetiva CIM, vai organizar no próximo dia 9 de setembro, pelas 10 horas no Auditório da Torre, um debate sobre os acessos ao maciço central da serra da Estrela. 
O Ministro das Infraestruturas de Portugal, Pedro Marques foi convidado para participar neste debate para o qual estão também convidados os Presidentes de Câmara e deputados da CIM das Beiras e Serra da Estrela, deputados eleitos pelos distritos de Guarda e Castelo Branco, Presidentes de Juntas de Freguesia, Turistrela, Turismo do Centro, empresários, forças policiais e de Proteção Civil, entre outros. 


No entender da Assembleia, esta será uma jornada de elevada importância e uma oportunidade para juntar vários intervenientes e procurar respostas para um problema que prevalece há várias décadas e com consequências para a imagem e economia da região. 
Com as alterações climáticas, tem diminuído de forma acentuada a queda de neve na serra da Estrela, mas mesmo assim, sempre que cai neve, são cortados os acessos ao maciço central, impedindo o acesso das pessoas àquele ponto. 
O que fazer então para promover a mobilidade na única estância de esqui em Portugal? 
Este é o desafio do debate que a Assembleia da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela vai realizar na Torre, a quase dois mil metros de altitude.”




quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O Real e o Fantástico de Luís Rente em Trancoso nos anos 60



“Entre o Real e o Fantástico – Memórias de Trancoso nos anos 60”, é o título da mais recente publicação de Luís Vieira Rente, onde relata episódios da sua infância e adolescência que viveu na terra de Bandarra.



Numa escrita leve e descontraída, às vezes com travo de sátira e humor subliminar, Rente inscreve recortes de prosa apurada e simultâneamente travos de storytelling, por entre uma narrativa corrida de histórias de sua vida enquanto jovem. Histórias de vida banais, em Trancoso, como em tantos lugares recônditos, de um país soterrado em expedientes de vida difícil, onde perpassam alegrias e feitos de quem se contenta com pouco.
Uma escrita escorreita, onde num quadro real se contemplam descrições de vizinhanças, andanças e locais míticos, colocando ênfase nos primeiros estudos e episódios de juventude de Rente, para quem a origem do apelido contínua envolta em mistério.
Nesta escrita, entre episódios reais e outros tantos disfarçados de fantásticos, espreita a hilariante descrição de episódios de vida simples, onde pontuam pessoas e lugares que marcaram a época. Quem é de Trancoso e tem mais de quarenta, revê isso mesmo, lugares e pessoas. Quem não é, como eu, entra num universo de histórias encantadoras. Simples episódios, como as que rodam à volta da Pacheca, o autocarro da Companhia Manuel Pacheco, que diariamente fazia o percurso Lamego – Guarda e retorno, onde iam e vinham encomendas, sobre o olhar atento do cobrador, ”um homem honestíssimo, o senhor Araújo de seu nome”.
Ingredientes bastos, entrecruzando entre os tempos livres, o desporto e o clube da terra, as peripécias e os jogos, os homens que passaram e fizeram história, ou as mulheres simples e influentes na vida da vila, como a cabeleireira, a modista ou a professora. O café, lugar de encontro e afetos, o Senhor da Pedra, altar de celebrações da Primavera e deambulações diversas.
Na segunda parte do livro, entra o fantástico onde resultam “personagens de recriação romanesca, vagamente inspiradas em figuras reais”, como o autor alerta, redundando em “coincidências fortuitas” com a realidade.
Por onde se deambula pelo Louva-a-deus, descrevendo-se o “Turinho” barbeiro; o “bom vivant” do Sargento; a Chefe dos Correios “senhora esmoler”, de grande dedicação e amor à arte; o Ângelo da Fonseca, outra figura típica e conhecida por feitos e desventuras, ou o Manel Sampedro, que tivera uma vida faustosa, entretanto dissipada. As descrições em torno do Zézinho Pombal, funcionário público, que se reformou da máquina de escrever e do ofício com o surgimento dos computadores; o Bitobá, considerado “um tipo porreiro”, sem horário para “despegar” do trabalho ou o Artur que sonhava ter uma Florett, um brinco de moto que acabou por ter, e perder mais tarde, com a própria vida, debaixo de um camião.
Assim se lê e se percebem episódios da vida de Rente na infância e juventude, como quem lê histórias simples de uma vila, numa escrita escorreita, leve e fresca, por entre o real e o fantástico descritos e separados.
Resta acrescentar que Luís Vieira Rente, embora nascido no Brasil (1956), viveu a sua infância e adolescência em Trancoso. Vive em Seia desde 1982, onde é professor do quadro de um dos agrupamentos de escolas da cidade. Licenciou-se em História (1979) e concluiu Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses (2003) com dissertação editada pela Câmara Municipal de Seia “O Marcelismo e o 25 de Abril vistos em dois jornais locais – Subsídios para a história recente de Seia (1968- 1975)”.

Mário Jorge Branquinho
Jornal Terras da Beira, 4 de Agosto de 2016