terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Entrevista ao novo Presidente da Câmara de Seia

O Blogue feito pelos leitores

A primeira entrevista, mais ou menos de fundo dada pelo novo Presidente da Câmara de Seia, Carlos Filipe Camelo foi dada ao Jornal "Detectives da Informação" da EB 2,3 Dr. Guilherme Correia de Carvalho.

Porque achei interessante, falei com o Professor Luis Rente e depois de obtida a devida autorização, aí está a entrevista conduzida pelos alunos Maria Branquinho (minha filha), Carolina Diogo, Catarina e Marta Kriphall.



ENTREVISTA COM O SR. DR. CARLOS FILIPE CAMELO, PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SEIA


“ … acho que a escola de hoje não é melhor nem é pior que a escola do meu tempo: é uma escola diferente em que os jovens possuem competências e qualificações consentâneas com a realidade do nosso tempo”- afirmou o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Seia a uma equipa de jornalistas do “Detectives da Informação” – Jornal da EB 2,3 Dr. Guilherme C. Carvalho, Seia constituída pela Maria Branquinho, a Carolina Diogo, a Catarina e a Marta Kriphall.

- O que pensa da Escola da actualidade?
- Como sabem também sou professor. Desempenho agora a função de Presidente da Câmara por força da votação dos senenses em recentes eleições. Devido às minhas origens profissionais tenho uma ligação à escola que perdurará no tempo e, talvez ao contrário de algumas pessoas da minha geração (e mais velhos), não sou daqueles que diz que na escola está tudo mal e que no nosso tempo é que era bom, que nessa altura se aprendia tudo e agora não se aprende nada. O mundo mudou e com ele a escola também mudou e tem que se adaptar à nossa realidade actual. Por isso, acho que a escola de hoje não é melhor nem é pior que a escola do meu tempo: é uma escola diferente em que os jovens possuem competências e qualificações consentâneas com a realidade do nosso tempo.

- A Escola hoje em dia é mais ou menos exigente que a de antigamente?
- Pois foi precisamente isso que eu quis dizer. Eu acho que a escola hoje não é mais nem menos exigente. Vocês hoje têm conhecimentos em determinadas áreas muito maiores que no meu tempo. Na época em que eu andei na escola a maior parte não tinha condições de seguir os estudos ficando pela quarta classe, o quarto ano de hoje. As pessoas sabiam coisas que lhe podiam ser úteis para o desempenho das suas profissões. Hoje aprendem-se conteúdos de acordo com as exigências do mundo actual.

- Em termos de condições acha que a nossa escola corresponde às exigências dos jovens da actualidade?
- Penso que sim. Há sempre um caminho que é necessário percorrer, mas de uma forma geral, o que eu penso é que, no concelho de Seia tem havido uma grande preocupação para que as escolas, em termos de espaço físico e de equipamento, estejam adaptadas às exigências do mundo de hoje. Acho até que houve um caminhar muito rápido, e a escola mudou muito para melhor, democratizou-se, independentemente da origem social dos seus utentes, e também em termos de espaço. A escola procurou muito aquilo de que os políticos falam hoje que é a coesão social e, nesse aspecto, acho que os nossos governantes estão de parabéns porque a escola, nos últimos anos, evoluiu muito.

- Concorda com a construção do Centro Escolar de Seia?
- Não sei se sabem que eu fui um dos responsáveis pela decisão de construirmos esse Centro Escolar. Não fui o único porque, como vocês sabem, faço parte de um órgão que se chama Câmara Municipal. Nessa altura era Vice Presidente da Câmara. Essa foi uma decisão muito ponderada, pois consubstanciou um investimento significativo, na ordem de mais de 3 milhões de euros e a preocupação que esteve presente foi a de garantir uma melhoria das condições mormente para os alunos do 1º ciclo que assim obtiveram melhores condições de trabalho e aprendizagem, com espaços mais amplos para brincar e estudar. O Centro Escolar é aquele espaço que vocês, concerteza, gostariam de ter tido nos vossos primeiros anos de escolaridade.

- Que vantagens e desvantagens existem nesse tipo de escola?
- As desvantagens são mais no sentido da integração dos mais velhos que precisam dum tempo de adaptação mais alargado que os próprios alunos. E isto porque estes elementos sempre oferecem alguma resistência à mudança. As vantagens que eu vejo são as de se dotarem estes espaços de condições, se não ideais pelo menos perto disso, de modo a que vocês, alunos, possam aprender de uma forma tão fácil quanto possível e terem condições óptimas para o sucesso educativo. Aproveito até para vos informar que outro Centro Escolar está em construção, que é o Centro Escolar de S. Romão, que vai dar melhores condições às crianças daquela zona do concelho. Pensou-se na construção de um outro em Paranhos, projecto que está a ser repensado por força das alterações em termos demográficos por que passam as localidades destas nossas regiões de montanha – teremos que verificar da pertinência de um investimento desta dimensão dado o risco de a muito breve prazo não haver crianças que o justifiquem.

- Acha que o património de Seia está bem preservado?
- Falemos então de Seia, em termos de concelho. Uma certa escassez de património edificado é compensada na nossa região pela grande riqueza que possuímos em termos de património natural. Relativamente ao património construído parece-me que está bem preservado fruto de intervenções da autarquia local em parceria com outras entidades e instituições. Não se poderá dizer que está tudo bem, pois sempre vão surgindo necessidades de pequenas intervenções, numa atitude que é de respeito pela História, pelo legado dos nossos antepassados e até por nós próprios já que o património a todos pertence.

- Acha que Seia é um bom ponto de turismo, ou há algo a melhorar?
- Este tema Turismo em termos de criação de riqueza e fonte de bem-estar para as populações é um aspecto muito discutido pelos políticos e nem sempre estamos de acordo. O Turismo pode ser uma forma de criar riqueza e condições de sustentabilidade ao nosso concelho, mas em minha opinião, não podemos pensar o desenvolvimento do concelho só à volta do Turismo, já que se trata de uma “indústria”, como eu gosto de dizer, criadora de riqueza que deve ser desenvolvida em complementaridade com outras formas. Não podemos esquecer a indústria têxtil, a produção de energias renováveis, hoje tanto na moda, que já existe no nosso concelho, através dos aerogeradores que produzem uma energia limpa, por via do aproveitamento da força do vento. A nossa região teve também a produção de energia eléctrica através da nossa riqueza hídrica (comemoram-se este ano 100 anos da criação de uma grande empresa de produção de energia hidroeléctrica – a Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela). Portanto, é através da conjugação destes factores que se poderá criar aquilo que se chama um desenvolvimento integrado e sustentado, quer dizer, a utilização racional daquilo que a Natureza nos oferece sem pôr em risco o futuro daqueles que hão-de viver depois de nós. Gostaria ainda de dizer que o Turismo não tem sido desenvolvido da forma mais correcta, já que temos feito uma venda sazonal da nossa região, na base do turismo da neve. Precisamos vender a nossa Serra durante todo o ano e é aí que temos que apostar – um turismo da natureza em todas as estações do ano. Precisamos também criar equipamentos, como o CISE, que suporta o chamado turismo científico, que não tem sido explorado convenientemente. Temos tido já conferências internacionais e há um conjunto de estudos que estão a ser desenvolvidos no CISE em colaboração com Universidades do nosso país – por exemplo, as plantas aromáticas que nos trarão a breve trecho mais-valias para o nosso concelho.

- Acha que os produtos típicos da serra da Estrela estão bem caracterizados como símbolos de Seia e da região da Serra da Estrela?
- Penso que ainda não. Os produtos que chamamos de endógenos, como o queijo, o pão, o vinho, o cabrito são produtos muito nossos que devemos não só preservar mas identificá-los de forma rigorosa, o que passa pela certificação desses mesmos produtos. Como isso nem sempre acontece ainda se vende por aí muito “gato por lebre” como diz o povo. Temos que dar tempo ao tempo de modo a podermos dar boas condições às pessoas que se dedicam a estas actividades, com a criação de mais postos de trabalho, donde provém afinal toda a riqueza.

- Pretende continuar com a Fiagris, o FootPáscoa, a Feira do Queijo, o Cine Eco, as Jornadas Históricas, entre outros?
- Os certames que enuncias pretendo continuar a desenvolvê-los surgindo a autarquia como motor desses eventos mas sempre na perspectiva do envolvimento de novas parcerias. Outros que realizámos no passado que não tinham muita aceitação por parte das pessoas, vamos deixar de realizar. Nós temos em Seia uma Empresa Municipal de Cultura que tem como função implementar a politica cultural do concelho. Vamos fazendo sempre avaliações, como vocês na escola, para verificarmos se devemos continuar, alterar aqui ou ali, ou até se os eventos não se devem realizar. Aliás, existem já situações e exemplos desses.


- Que vantagem trazem a Seia, esses eventos?
- Há dois tipos de eventos, os de grande dimensão como a FIAGRIS ou a Feira do Queijo, nos quais a Câmara se empenha. Outros eventos menores como espectáculos musicais, de dança ou de teatro. Aí tem que haver uma preocupação de agradar a todos os públicos, sem olhar aos nossos gostos pessoais, pois todos nos merecem o mesmo respeito. Aqueles trazem preocupações mais vastas já que consubstanciam outros eventos paralelos, com reflexos no Turismo e nas repercussões económicas no comércio e indústria locais.


- Muito Obrigado pela sua disponibilidade em receber as “Detectives da Informação”.

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