sábado, 30 de novembro de 2013

Melancolia breve



Uma espécie de criativa


Nada bulia, nem a ventania, era mesmo melancolia. Assim, sem mais, ocorreu discorrer sobre o que não mexia, impulsionados na circunstância de querer descrever esta doce significação do estado da alma em certa parte desvalorizada. Tão só, melancolia!
Se for por falta de entusiasmo, vá que não vá, sempre pode curar-se com impulsos, gotas de acção ou doses moderadas de estímulos, a ver no que dá. Mas se for já em adiantado estado de depressão, é sinal de que afinal tudo se desequilibrou, precipitou e por ventura deixou de ser a circunstância do termo, para ser algo mais grave.
Na ténue esperança de abordar definições o mais perto do cerne, sobra a predisposição ao largo do termo, esse fatídico termo que a tanto português se agarra, como marca, como estigma de um modo de ser que não anda, nem age. E assim se atola na indiferença e na indefinição de acção, meio cá, meio lá, como por entre os pingos da chuva, à espera que algo floresça, que algo aconteça. Uma espécie de fado, esse tom magoado, a embalar para a negritude da alma, na fundura dos dias que se elevam em eloquências por vezes criativas, por vezes aflitivas, mas quase sempre a andar sem sair do lugar.
 Saindo daqui, gemendo e cantando na melancolia dos dias, como se os dias tivessem culpa, enrolamo-nos no fácil, naquilo que não nos esforça, não nos consome, e vamos, à espera! Na melancolia das tardes, na melancolia das noites, esperamos sentados, na vã esperança de nos desembrulharem a alma. É como ir e não ir, querer e não querer e na hesitação, enrolar a inspiração de um fúnebre cigarro, chupado até ao fim, a ver o que acontece.
Vai e não vai, o pensamento é assim, corta não corta, sem querer ou propositadamente e sobra sempre essa história de não fazer por falta de assunto, quando afinal é melancolia, tédio e tudo.  É falta de empenho, é degradação da alma lusa, esse estado de espirito que se apodera, se aloja e se despoja, sem margem para impulso que rasgue esse bulício de corda atado no pensamento.
Ainda se enriquecesse a alma! Mas não há volta a dar e acabamos na mais sublime das preguicites agudas, inebriados pela cor da doce adrenalina que corre em nossas veias. E por estarmos tão próximos, por descendermos ao largo, acabamos por espraiar-nos nesse humor de negro em que se veste a nossa dor. O nosso luto, esse estado próximo de um narcisismo ferrenho que não nos larga e nos impele a elucubrações impiedosamente sentidas.
Mas vamos e não vamos, na rotina melancólica que assola os nossos dias e com estação própria do ano. Começa no outono e vai até ao fim do inverno, neste inferno de quietude, com muitos apeadeiros, muitos lamentos e frenesins escassos. Embrulhamos no frio a doce magia a que chamamos melancolia, aconchegando à luz ténue dos dias, a inusitada inspiração que leva mais à preguiça do que à criatividade esperada. É duro, mas consequentemente não saímos do lugar, deste posteiro donde tantos navegadores partiram, outrora avessos a melancolias.
Pode não parecer, mas dá sempre ar de inútil e incapaz de amar, o que não se solta desta frente, que não faz mais do que deixar para trás a motivação de quem não consente marasmo e se afoita sempre “às do cabo”.
Invariavelmente suportamos o fardo, e dizemos que é fado, inato estado de alma, este espirito que nos anima no desânimo de querer ser o permanente inspirado no lado da criação. Criar, criamos e até cremos e queremos, mas a curtas distâncias, nas impiedosas voltas de quem não vai além de um inovador bocejo. De onde se avista o mar de ideias, falha a presunção de pragmatismo e acabamos por ficar, porque afinal é o destino. E assim fazemos e assim andamos neste comboio de corda curta, outrora caravela em mares atlânticos. Mas acreditamos, temos fé e deste sítio de onde nos espraiamos, havemos de chegar lá, a um qualquer destino, neste destino de fado que a melancolia nos transformou.


Seia, Portugal, 30 novembro 2013





SEIA NÃO PARA, NÃO PODE PARAR e com pouco se faz muito!


Artigo de opinião publicada na edição de hoje do Jornal Porta da Estrela


Seia sempre apostou na Cultura como um fator de desenvolvimento local, dentro das suas limitações de território do interior do país. Essa aposta tem-se acentuado ao longo dos tempos, e mesmo agora, em tempos difíceis, essa mesma aposta continua a dar alento às nossas comunidades.

Este é um caminho difícil, de resultados nem sempre muito visíveis e às vezes esperados, mas a persistência deve prevalecer.

É pois, por isso verdade que Seia não para, não pode parar e com pouco se faz muito. Basta ver o conjunto de iniciativas que vão decorrendo, semana após semana, nas várias estruturas da cidade ou pelas nossas aldeias. Ora valorizando o nosso património cultural, ora proporcionando o encontro do público com vários bens culturais que se inscrevem na agenda do município.

Seia não para, nem pode parar! Dentro de todas as suas limitações, sobretudo financeiras, o município deve continuar a ser a mola impulsionadora do desenvolvimento, continuando a chamar os agentes locais para esta onda de dinamismo que se instala. E todos devemos entrar, independentemente das instituições que representamos, dos partidos a que pertencemos ou das diferenças de pontos de vista que porfiamos. O orgulho de ser senense deve sobrepor-se a eventuais divergências e procurarmos dar o nosso contributo. Como se tem visto e se tem feito e por isso a nossa comunidade está de parabéns.

Senão veja-se o conjunto de iniciativas que começam a consolidar-se no quadro de animação das aldeias de montanha! Veja-se o sucesso que tem sido tantas destas iniciativas, envolvendo as comunidades, gerando coesão, promovendo o concelho e valorizando o nosso património. E sem custos para os organizadores – instituições e município.

Veja-se a brilhante ideia vencedora do concurso promovido pela Câmara e que agora é posta em prática – a Cabeça, Aldeia Natal, que está a atrair as atenções ao nosso concelho e a dinamizar fortemente este território.

O conjunto de programação cultural que ano após ano é proporcionado na Casa Municipal da Cultura, por onde passam por ano mais de 30 mil pessoas, apesar das limitações. Programação financiada em 85% de fundos comunitários que ainda recentemente permitiu a realização de master classes e concertos com a Orquestra de Câmara Portuguesa, envolvendo músicos das nossas bandas filarmónicas, numa experiência inesquecível.
As Jornadas Históricas que ainda recentemente terminaram, e que trouxeram à cidade cerca de 200 pessoas de todo o país, ficando por aqui 3 dias, numa iniciativa de grande prestígio científico, que tanto quanto sei, se paga a si próprio.

Antes, tinha decorrido o CineEco, que pouco custou ao município e que se afirmou uma vez mais como um dos festivais de cinema de ambiente mais prestigiados no mundo, mobilizando mais de 6 mil espetadores. Um festival que decorre todo o ano, por todo o país, divulgando Seia.

Atente-se no trabalho notável dos técnicos do município junto de crianças, idosos e deficientes, do qual resulta uma grande valorização das suas prestações, sobretudo no teatro amador e na musicoterapia.

No trabalho do grupo Senna em Palco, que ainda agora foi selecionado para um festival Arte e Comunidade, no Porto, onde deixou uma marca da excelência do trabalho feito por atores amadores de Seia.

No Festival ARTIS que ano após ano proporciona aos artistas locais a oportunidade de mostrar os seus trabalhos e mais uma vez sem custos para os organizadores.
O Festival Jazz & Blues, que apesar de tudo se tem mantido no calendário, com financiamento da Cultrede a 85% e que tem mobilizado muito público à sala e crianças nas escolas.
O vasto conjunto de eventos promovidos pelas coletividades, onde se destacam os festivais de Orquestras, da Canção, de música coral, de folclore, de bandas filarmónicas e tantas outras manifestações artísticas multidisciplinares.

A Casa da Cultura, com cinema ou com outras atividades culturais, todos os fins de semana tem atividades, envolvendo agentes locais e públicos diversos.

As escolas são também grandes molas impulsionadoras no quadro cultural do concelho. O Conservatório, pela excelência de ensino artístico e pela intervenção comunitária. A escola Profissional da Serra da Estrela pelas iniciativas que organiza e pelas formações musicais que faz descer à cidade – concertos de ano novo, participação de orquestra no CineEco, no Seia Jazz & Blues, no dia da cidade, etc. A Escola Superior de Turismo, que é uma escola com um nível de empregabilidade superior a 80%, tem sido igualmente um parceiro importante na dinamização do nosso território, assim como os dois agrupamentos escolares através de ações pontuais. Assim como as coletividades de cultura e recreio e as IPSS, que dão também um forte contributo ao desenvolvimento local.

Ou seja, todos colaboram, e quando assim é, não custa tanto e tudo tem mais valor. E Seia precisa disso, Seia necessita continuar a apostar neste e noutros setores para se afirmar no quadro de desenvolvimento. Seia pela positiva, longe de aves agoirentas que ao invés de colaborarem, pretendem fazer definhar.

Precisamos mobilizar cada vez mais publico para as iniciativas, mais agentes para processos de criação artística e de organização, porque Seia não pode parar.

Mário Jorge Branquinho