domingo, 21 de setembro de 2008

Pensar Seia - Contributo de Pedro Fraga (1)

O Blogue feito pelos leitores
Do Engº Pedro Fraga, um ilustre empreendedor senense em Braga, recebi um texto, na "mera perspectiva de troca de ideias e reflexão" e que aqui dou a conhecer aos leitores do blogue, dividido em duas partes:
Opinião de Pedro Fraga
"Uma pergunta inicial
Começo com uma pergunta : será que alguém que não é de Seia e passe por Seia, lembrar-se-á de algo positivo na viagem de retorno a casa ? A minha resposta é não. Gostam de Seia os senenses que lá vivem e os que estão fora, seja em Portugal ou em qualquer país estrangeiro.
Sinceramente e por muito que me custe, não acredito que qualquer visitante, seja ele turista ocasional ou passante em actividade profissional, leve uma impressão minimamente positiva de Seia. Não há localidades naturalmente feias, é a “mão humana” que as torna mais ou menos aprazíveis.
Seia fica localizada numa zona agradável em termos de paisagem natural, mas se por momentos deixarmos de ver a cidade como senenses, o cenário fica entre o arrepiante e o indescritível. Muitos de nós, senenses residentes e não residentes, olhamos para a cidade como os pais olham para os filhos e muitas vezes temos dificuldades para descortinar algo para lá desse “amor paternal”.
Mas, abstraiamo-nos da nossa condição de pais e o que vemos ? O state of the art- devemos ter uma das poucas cidades do país, onde se passa de uma zona principal para outra, através de um “beco”, onde um carro que não seja pequeno tem muita dificuldade em passar. Esta situação é absolutamente aberrante, caricata, risível; - a passagem de viaturas (ligeiras e pesadas) da entrada pela ponte para a Serra é algo que custa a acreditar. Será que alguém pode garantir que um transporte de grandes dimensões consegue fazer alguns destes trajectos : S. Romão à centro da cidade à Serra; S. Romão à centro da cidade à Vodra; ponte do Rio (é assim que eu lhe chamo) à Serra, etc. Alguém o garante ? Tenho dúvidas que, de boa fé, alguém o possa fazer;- o que era a chamada zona do bairro, onde nasci e cresci até sair de Seia para estudar, é hoje um amontoado disforme, semelhante a dezenas e dezenas de cidades portuguesas, onde o pato-bravismo campeia e a construção anárquica cresceu sem controle. Não colhe o argumento estafado das autarquias que quem não é arquitecto não deve opinar sobre este tipo de situações. É um argumento pobre e, menoriza quem o usa, pois parece sempre que se está a tentar esconder algo de menos claro; - na onde do nacional-pacovismo autárquico, as rotundas começaram a campear nos últimos anos.
Durante quase duas décadas, sempre achei que Seia se distinguia dessa febre low level que parece atacar a maioria dos autarcas nacionais (às vezes penso que quem projecta este tipo de situações julga que o horizonte de todas as pessoas acaba na fronteira com Espanha …) e que os leva a construir rotundas a torto e a direito, de preferência com fonte e, last but not the least, com iluminação. Afinal, nos últimos anos a febre também atacou em Seia e as rotundas começaram a surgir a esmo, como se fosse essa a única forma de controlar/ordenar o trânsito; - todas as entradas de Seia são uma vergonha em termos de aspecto. Aliás, acho que nem vale a pena alargar-me muito sobre este tema, pois os 4 cartões de visita que disponibilizamos a quem visita Seia, levam esse visitante a querer rapidamente ir embora, ou porque o estado da estrada é indescritível (Ex: quem vem de Vodra – algo que devia fazer corar de vergonha os responsáveis por tal situação - e quem vem da Serra) ou porque a poluição visual é inacreditável (entrada por S. Romão ou pela ponte).
Tentem olhar todos sem paternalismos e penso que a conclusão é óbvia; - a gastronomia senense não tem hoje a projecção que teve há algumas décadas atrás. Lembro-me de professores da Universidade e clientes falarem sempre do Restaurante Camelo quando falavam de Seia. Hoje, encontro inúmeras pessoas em reuniões que me falam no Antónios em Nelas, no Bem Haja em Gouveia, no Júlio em Gouveia, mas são poucos ou nenhuns os que são capazes de citar um restaurante em Seia. Dir-se-á que isso é um problema da iniciativa privada. Claro que é, mas este texto não é um libelo contra a autarquia; - o que é o turismo em Seia (poderia perguntar o mesmo em Gouveia, na Covilhã, em Manteigas) ?
Deixei de viver em Seia em 1982 e 26 anos depois a questão continua em cima da mesa. O turismo em Seia é ZERO e continuará a ser ZERO enquanto não for percebido que é o único trunfo que a cidade e a região têm para sair da apagada e vil tristeza em que caíram. Para haver turismo (e nem sequer entro na análise que há turismo e turistas que pura e simplesmente não interessa(m)) a cidade e o concelho têm que ser pensadas em função disso e Seia deve viver em função desse desígnio; - a projecção desportiva de Seia é ZERO, sendo apenas de realçar claramente o trabalho esforçado feito pelo João Gomes (meu colega de liceu) em termos de atletismo. O resto … Não se pode cair em devaneios e esperar ter em Seia equipas com projecção nacional.
Mas, nem projecção regional existe, se pensarmos nas duas modalidades (além do atletismo, claro) em que Seia atingiu alguma notoriedade : hóquei em patins e atletismo. Se a cidade definha, não há patrocínios; não os havendo não há desporto de cariz competitivo e isso é menos um factor de projecção da cidade que está a ser trabalhado;
- Seia sofre da desertificação (infelizmente) normal do interior e não revela a mínima capacidade em fixar pessoas/quadros. Assim, a actividade económica definha e cada vez mais essa actividade vai girar à volta dos serviços públicos (autarquia, finanças, etc).
É óbvio que residem no concelho de Seia verdadeiros exemplos de sucesso em termos de investimento, mas também é compreensível que uma decisão de um investimento de uma PME em Seia é algo muito difícil de conceber por incontáveis motivos : péssimas vias de acesso; dificuldades de encontrar colaboradores qualificados (estes não se criam com pólos de Politécnicos, criados – os politécnicos e os pólos – na febre incontrolável que varreu o país num dado momento e em que só faltava cada vila e aldeia ter uma instituição universitária, nem que fosse um pólo da Moderna …), ambiente de pessimismo, ambiente de trica regional com guerra de comadres e de protagonismo entre barões, baronetes e afins, etc, etc.
Assim, tirando o tão decantado contact centre que investimentos de relevo houve em Seia nos últimos anos ? Como previ, o parque empresarial de Vila Chã é um nado-morto (fazendo humor negro, talvez fosse melhor construir estes pólos longe das estradas principais de acesso ao Seia, pois era menos penoso …), as empresas têxteis vão definhando (o caso mais recente da Beiralã só pode ser surpresa para quem está fora do que é a realidade têxtil a nível global), não se vê uma aposta séria no turismo, etc, etc.
No meio deste panorama de quase indigência, o que impressiona é que parece que a resignação campeia e que enquanto os responsáveis autárquicos celebram e festejam por qualquer fontanário (já faltou mais …), a principal força de oposição, ignorando que tanto a nível local como (principalmente) nacional foi a erva mais daninha que este país já viu, não tem uma ideia útil. Repito, uma ideia que seja, ou pelo menos que surja na imprensa escrita local, tanto naquele que é o órgão local do PSD (embora com elevação e civismo, apesar do conservadorismo que se entende e subentende em cada linha), como naquele que é órgão local do PS ou do PSD consoante quem detém a cadeira de Presidente da Câmara. "
Pedro Fraga

1 comentário:

Anónimo disse...

este social-democrata faz falta em seia