quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Associativismo no concelho de Seia *


Através de um olhar descomprometido ao panorama associativo do concelho de Seia, constata-se desde logo vários patamares de intervenção, nas diversas áreas de actuação.

Com significado expressivo, verificamos as Bandas Filarmónicas, que são 7 e quase todas centenárias. Têm as suas actuações, os seus encontros (e desencontros), congregam pessoas, fomentam amizades e cumplicidades nos jovens e fazem-se ao caminho de novos desafios, que já vão para além das arruadas.

Os Ranchos folclóricos, que são 5, dos quais três Federados, que efectuam actuações por todo o país e que organizam anualmente no Verão o seu Festival Internacional de Folclore.

No canto coral, registo de dois Orfeons - São Romão e Seia – com este último a organizar o seu Festival de Música Coral “Em Terras de Senna”, além das actuações pontuais pelo país e estrangeiro, e do natural convívio, que os ensaios proporcionam, à semelhança do que acontece com as demais agremiações.

As colectividades de cultura e recreio propriamente ditas, os clubes desportivos e, uma outra força associativa e de voluntariado com peso significativo, que são as Instituições Particulares do Concelho de Seia, são também entidades expressivas no panorama local.

No âmbito desportivo, há uma tradição muito forte no atletismo, destacando-se o Centro de Atletismo de Seia, logo seguido da Associação Cultural e Recreativa da Senhora do Desterro, a disputarem provas e campeonatos de dimensão nacional e internacional. Meritória nesta área é também a acção dos grupos de Quintela, Santa Comba e Loriga, sobretudo pelo trabalho junto dos jovens. E é igualmente com as camadas jovens que os principais clubes do Concelho – Seia e São Romão – estão a disputar campeonatos, sendo por isso muito residual a prestação de clubes a disputar futebol sénior no âmbito distrital.

Relativamente ao associativismo juvenil, desponta um punhado de colectividades, com enfoque na Casa Da Juventude D. Ana Nogueira, que tem o seu ponto alto na realização de um festival Ibérico da Canção Jovem e a Orquestra Juvenil da Serra da estrela, que além do seu vasto programa de actuações, realiza anualmente o seu Festival Nacional de Orquestras de Música Ligeira.

Nas Artes, assume acção cimeira a Associação de Fomento Artístico, que dinamiza o Conservatório de Música de Seia, expoente máximo do ensino artístico de Seia e da região. Noutro plano, a Associação de Arte e Imagem, que congrega mais de cinquenta artistas locais, promove anualmente a ARTIS – Festa das Artes de Seia e outras exposições pontuais.

A Pesca Desportiva, o Ténis de Mesa, o Xadrez e o BTT, são outras actividades com alguma expressão no âmbito da acção associativa concelhia, mobilizando centenas de pessoas, quer na prática das modalidades, quer no registo directivo, assaz saudável e descontraído.

Sem pretensões de esmiuçar ao limite, prolongamos o nosso olhar ao trabalho desenvolvido pelas chamadas colectividades de cultura e recreio, que pelas freguesias do concelho, vão girando a entreter as pessoas através de acções pontuais e limitadas. Partindo das suas sedes, muitas vezes locais de encontro, onde não falta o bar, gerador de receita e de convívio, constatamos a organização de pequenos eventos, no intuito de mobilizar os outros e dinamizar as terras. Ouve-se, como se tem constatado ao longo das últimas três décadas, nos meandros do associativismo, de que “os dirigentes são quase sempre os mesmos”, mas são esses que vão mantendo a chama desta vela a meio brilho do associativismo concelhio.

Sem descer muito ao pormenor, constata-se que as colectividades no concelho têm uma intervenção, nuns casos muito visível e noutros, nem tanto. Mesmo assim, desempenham um papel determinante na sociedade local, não sendo por isso de estranhar o apelo tantas vezes repetido da necessidade de maior intervenção da comunidade no desenvolvimento do território. E também pelo que se constata, o Município tem sido uma mola impulsionadora do associativismo, ao dispor de instrumentos que definem regras para o apoio financeiro e material, à luz de uma transparência consensual que o panorama impõe.

No mais que se sabe e se observa, faltará uma política de proximidade que permita por um lado dignificar e estimular o associativismo e por outro, criar mecanismos de descentralização cultural, que faça chegar aos mais recônditos lugares do concelho iniciativas das próprias colectividades. Faltará uma lufada de ar fresco ao Associativismo concelhio que vive muito do passado, mas que tem de virar a sua acção para o futuro e abrir novas portas e janelas outrora inexistentes. E partindo das nossas raízes ancestrais, preservando e dignificando o património cultural e social, ir ao encontro a novas criações que a contemporaneidade exige e a modernidade impõe.

Mário Jorge Branquinho, dirigente associativo
Visão de um cidadão meramente atento e não documentado
in Revista da INATEL / Guarda, edição nº 21

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