As pessoas do concelho de Seia bem podem dizer que não tinham razão de queixa do ex-Ministro da Saúde, Correia de Campos, dado que, enquanto que por todo o país há reclamações disto e daquilo, por cá constrói-se um grande edifício Hospitalar, quase em contra-ciclo. Por um lado, está a ser feito um investimento público bastante significativo na reconstrução do Hospital de Seia e por outro está a consolidar-se um conjunto de valências e serviços de saúde capazes de responder ás necessidades das populações da região.
A única questão que se pode protestar neste sector, tem a ver com o mau funcionamento do Centro de Saúde desta cidade, mas isso tem mais a ver com a falta de dinâmica e talvez competência do Director daquela instituição do que da actuação do Ministro. Há vários anos que o “Posto Médico” tem falta de médicos, carece de organização, de método, de planeamento e sobretudo de estratégias de prevenção na saúde. Mas nada é feito para inverter a situação, para evitar esperas ás 4 da manhã ou outras canseiras e dificuldades no acesso á saúde.
Sem me querer colocar na pele de político de craveira ou gestor da área da saúde, apraz-me o direito a uma leitura superficial de um sector tão sensível quanto importante e que tem sofrido nos últimos dois anos uma verdadeira revolução. E como qualquer revolução, também esta não se faz sem dor, nem tão pouco sem excessos, daí a turbulência e o furor causados pela acção directa do Ministro da pasta. E se há mudanças que têm de se operar a fundo, as da saúde não terão qualquer efeito se não forem de “rajada”, firmes e fortes, ao arrepio de interesses instalados ou de segundas outras intenções de registo camaleão.
Correia de Campos vinha a fazer um trabalho profundamente positivo na Saúde, pelas medidas introduzidas e reformas alinhadas, quer na melhoria dos serviços, quer na rentabilização de recursos. O seu pecado terá sido a forma inábil com que lidava com as situações e porventura a falta de sensibilidade numa área tão frágil como a saúde, dando argumentos á ala mais á esquerda no PS, liderada por Manuel Alegre, para que se moderasse o rumo.
Seja como for, Seia não tem razões aparentes para condenar Correia de Campos, um politico com competência técnica que soube interpretar o pensamento de Sócrates para o sector da Saúde, apostando na melhoria dos serviços e na rentabilização dos meios. De resto, estivemos perante um Ministro que caiu em combate, como um valoroso guerreiro em campo de batalha, coerente á linha traçada para fazer mudar alguma coisa numa área cheia de maleitas e vícios nocivos á saúde e ao erário público.
Nesta hora e neste sentido, apetece dizer que estar na política implica mais do que amar o que é fácil ou mais politicamente favorável, porque dos fracos pouco reza a história. E a coragem de remar ao arrepio pelo bem estar dos outros só muito mais tarde, ás vezes tarde demais, é que é identificada e relevada.
Enfim, são as voltas da política dura e difícil de fazer, que é má porque se faz, mas que é péssima quando se não pratica. Assim como assim, mais vale ver quem faz para que tudo não fique na mesma, do que deixar correr tudo ao “Deus Dará”.