quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Obviamente Amaro demitiu Rodrigues!


Crónica de Seia

É óbvio que quem ganha eleições manda. É óbvio que na Guarda como em qualquer cidade, o Presidente da Câmara tem legitimidade para por e dispor, contratar ou despedir, orientar ou desorientar. É óbvio que na cidade da Guarda, Amaro podia e pode afastar de Diretor do Teatro Municipal Américo Rodrigues. Porque pode não gostar da pessoa, da maneira de ser, porque não se revê na programação, porque se quer vingar de um qualquer passado, porque quer mostrar à cidade e ao distrito que é ele quem manda, que até manda embora uma referência no panorama cultural nacional. E pronto! Há políticos que gostam do cheiro a pólvora e a mim parece-me que este é o caso. Quem chega e ganha nos votos como AA ganhou, e no seu estilo de homem que tem tudo para gritar alto aos acólitos, julgo que este é o cenário ideal para dizer, - comigo não faz farinha: Rua!

Obviamente Amaro demitiu Rodrigues! Assim mesmo, sem apelo nem agravo, pelo telefone, porque um edil furioso, pode não ter pejo.

Obviamente que a gente faz estas leituras, mas muito naturalmente, mesmo a uma distância de uma hora, como eu estou de Seia à Guarda, percebemos desde logo que a forma não foi a melhor. E pronto! Falamos, esbracejamos, mas já está aplicada a decisão. Implacavelmente!

Obviamente que nesta altura já muita gente escreveu muito argumento, e quase sempre em defesa do despedido. Já muita personalidade mostrou indignação, e até os próprios, AA e AR ficaram a saber de mais amigos e mais inimigos e vice-versa, coisa e tal! Mas este é só o princípio do início de um conjunto de mudanças. Isto não vai lá sem sangue. Não sou eleitor da Guarda, quando muito frequentava esporadicamente o TMG, acompanhava a programação do Teatro e o percurso artístico de AR, cheguei a fazer com ele um trabalho para uma cadeira do Mestrado de Animação Artística. Mas estou no direito de fazer leituras, de uma cena destas no meu distrito, de uma área que me é cara, de personagens que conheço, do programador que estimo, do político que não admiro.

Agora fico sentado à espera, para ver as cenas dos próximos capítulos, lamentando que a cultura fique mais pobre, lamentando ver maltratado na praça pública um agente cultural que faz falta ao país, quanto mais à Guarda. Mas pronto, é a legitimidade dos votos que teremos de respeitar, até ao dia que certos políticos percebam que a eles compete mobilizar meios técnicos e sobretudo financeiros, traçar estratégias, metas e objectivos e aos técnicos, aos bons técnicos, onde se incluem directores e programadores, implementar as estratégias e levar aos objectivos das missões que lhe são confiadas.

E pronto! Também tenho dito sobre o que penso desta espécie de tumulto cultural que se abateu sobre as rochas da Guarda, às portas da minha terra.

Mário Jorge Branquinho
Jornal Terras da Beira, Guarda - 5 de Dezembro de 2013

1 comentário:

Unknown disse...

Uma boa parte dos políticos, bem hajam as exceções, cultiva uma relação complicada com a Cultura por entenderem mal o seu interesse comum e finalidades civilizacionais. Basta ver como alguns se apressam a suprimir o Ministério da Cultura mal chegam ao poder, como aconteceu nos governos de Cavaco, Durão e Passos.
Relativamente a Américo Rodrigues, que daqui saúdo, não o vejo como herói nem como mártir. Trata-se de uma figura incontornável da cultura local, poeta, dramaturgo, encenador, ator, dinamizador cultural. O seu trabalho dedicado e de qualidade no TMG estabelece uma fasquia que não será fácil superar, neste Interior cada vez mais empobrecido, por quem vier a ocupar o seu lugar. Nos cargos públicos, não há pessoas insubstituíveis mas apenas pessoas mais ou menos fáceis de substituir.
Recordo aqui um poema, cujo autor desconheço, que será sempre um bom exercício de reflexão para todos os que são chamados a gerir os bens e o destino de todos:
“Dai-nos força, Senhor,
Para aceitar com serenidade,
O que não possa ser mudado.

Dai-nos coragem para mudar,
O que pode, e deve, ser mudado.

E dai-nos a sabedoria
Para distinguir uma coisa da outra.”
Sérgio Reis