quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Serra da Estrela. De quem é a marca?


A serra da Estrela como destino turístico tem sido um fiasco autêntico. Isto dito assim de rajada pode parecer cruel e assaz injusto para quem trabalha afincadamente na área, mas a verdade é que, aquilo a que nós assistimos, em matéria de política turística é a uma autêntica manta de retalhos em termos de gestão global do sector.
Vêem-se projectos pontuais de sucesso e pouco mais.
Há 30 anos que se fala que a serra é um gigante adormecido, que tem muitas potencialidades, etc., etc.
Passam os anos e a conversa é sempre a mesma. De quando em vez encomenda-se um estudo, um projecto e o resultado é sempre igual – é preciso avançar com uma estratégia global capaz de dar o dinamismo que o sector merece e carece! O PETUR foi um exemplo recente disso mesmo e é caso para dizer, “tanto trabalho para quê?” É que não deu em nada e gastou-se o dinheiro.
O drama é que os anos passam e não se passa daqui. Da espuma das intenções do colectivo, depressa se vai na onda do “cada um por si”, porque há muita gente a mandar na serra e no sector em verdadeiro espirito de capelinha. São as Câmara Municipais cada uma a puxar para si, é a Turistrela, a AIBT, os Bombeiros, a GNR, e Região de Turismo. Até os Governos Civis – Guarda e Castelo Branco às vezes chocam.
E como é que uma região pode ser vendida se não há uma estratégia global definida! E como é que se define uma estratégia se não há um comando central? Um dono da marca que faz a gestão dessa marca?!
Ainda recentemente o professor Daniel Bessa, que curiosamente está a fazer mais um estudo para a região (?) defendeu, na conferência do Cine’Eco de Seia sobre Desenvolvimento Sustentável, isso mesmo, a existência de uma entidade com plenos poderes e meios para gerir a marca “Serra da Estrela”. E nessa mesma conferência foi dado um bom exemplo prático de como estas coisas funcionam com estratégia e um comando próprio - as “Aldeias de Xisto”, - um projecto de desenvolvimento turístico que abrange 23 aldeias do Pinhal Interior.
A serra da Estrela está farta de palpites e de ideias desgarradas.
A Região de Turismo podia ser a verdadeira gestora da marca “Serra da Estrela” e aglutinar em seu redor todos os outros parceiros, mas não tem capacidade técnica e financeira para o fazer. A menos que a dotem de meios suficientes ou então se crie uma agência que levante esta empreitada do chão.
Tudo isto fica ainda mais complicado quando se ouve dizer que a Região de Turismo da Serra da Estrela irá passar a integrar a Região de Turismo do Centro.
Mas como somos espectadores e não actores deste filme, ficamos a ver da bancada, as cenas deste e de outros capítulos na vã esperança de não andar mais trinta anos a ouvir e a falar do mesmo.

Mário Jorge Branquinho
In Jornal Terras da Beira, Guarda 8 de Novembro de 2007

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