domingo, 26 de julho de 2009

António Marques da Silva - EHESE


Aqui publico a biografia (resumida) da vida e obra de António Marques da Silva, um homem marcante na história do concelho de Seia e do país, pela criação da Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela. Precisamente no ano que se comemora o centenário - (1909-2009).

O trabalho é da minha filha, Maria Branquinho, que apresentou no âmbito da disciplina História e Geografia Local, no 6º ano.
António Marques da Silva

... A Obra


António Marques da Silva nasceu em Gouveia no dia 26 de Julho de 1868 e faleceu em 28 de Agosto de 1953, com 85 anos.
Foi fundador em 1909 da Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela (EHESE) em Associação com António Rodrigues Frade e Guilherme Cardoso Pessoa, de Gouveia e António Rodrigues Nogueira, de Lisboa. O objectivo dessa empresa era aproveitar as águas da serra da Estrela para produção de energia eléctrica. Por isso, falar de Marques da Silva é necessariamente falar desta empresa de produção de energia eléctrica.
Possuidor de conhecimentos suficientes sobre a matéria, lançou-se na busca de água na Serra da Estrela, descobrindo que o caudal do Rio Alva era propício para a criação duma central. Feitos os estudos por técnicos franceses, foi assim concebido o projecto da Central da Senhora do Desterro, para levar a electricidade para a fábrica de Gouveia e fornecer energia às vilas de Seia e Gouveia.
As negociações para obtenção das licenças necessárias foram demoradas e difíceis, só em 1906 conseguiu o exclusivo do fornecimento de energia eléctrica a Seia pelo prazo de 35 anos, dando-lhe direito à posse das águas do Alva e da Ribeira da Caniça.
Em 25 de Setembro de 1908, António Marques da Silva obteve, por alvará régio, a concessão do aproveitamento das águas do Rio Alva entre as freguesias do Sabugueiro e São Romão, no concelho de Seia. No ano seguinte, 1909 era então criada a EHESE.
Em 23 de Dezembro de 1909, chegava a Seia a energia eléctrica produzida na central da Senhora do Desterro, colocada nas margens do Rio Alva, a 800 metros de altitude.
Cedo se verificou que o simples aproveitamento das águas do Rio Alva não chegavam e desde logo foi concebido o projecto de um reservatório regularizador, que desde o início estava previsto e que seria a Lagoa Comprida. A construção dessa barragem iniciou-se em 1911, em pleno coração da serra, sem estradas, sem acessos, sem luz, sem apoios de qualquer espécie. Em 1913, era atingido o objectivo definido: uma muralha em granito com 6 metros de altura, com o que se criava uma Albufeira, com a capacidade de cerca de 1.250.000 m3, situação que se manteve até 1928. Desde esta altura até 1966, nunca os trabalhos ali pararam.
Deste modo a Empresa Hidroeléctrica foi crescendo, sob o impulso inteligente de Marques da Silva. No fim da segunda Guerra Mundial, em 1945, o sistema produtor da empresa estava praticamente saturado, tendo-se já construído a Central do Sabugueiro, e que ficou a ser a hidroeléctrica mais alta do país – 985 metros. Até 1953 são introduzidos vários melhoramentos sob a superior orientação e iniciativa de Marques da Silva:
- A Barragem da Lagoa Comprida continua em aumento e a subir mais.
- Fazem-se ampliações do Canal, Câmara de Carga e Açude da Senhora do Desterro, e ainda o Canal da Ponte Jugais.
- Executam-se trabalhos para aproveitamento das águas da vertente de Loriga e faz-se a construção do Túnel para as conduzir à Lagoa Comprida.
A rede de transporte de energia era nessa época já de 750 Quilómetros.
Relativamente à empresa, o seu capital inicial de 100 contos, foi elevado em Dezembro de 1917 para 600 contos, transformando-se numa sociedade mais vasta para a qual entraram novos sócios que haviam manifestado o desejo de participar neste grande empreendimento regional. Esta nova estrutura mantém-se até Maio de 1946, sempre com Marques da Silva à frente da Empresa e sucessivas elevações de capital que atingiu nessa época a quantia de 48 mil contos. Foi nessa altura transformada em sociedade anónima.

António Marques da Silva continuou a comandar a grande empresa à frente do seu Conselho de Administração, até 1953, ano da sua morte, tendo sido um dos homens que mais contribuiu para o progresso de Seia.




… A Vida

António Marques da Silva fizera na Guarda os estudos liceais. Após 3 anos de bom aproveitamento, regressou a Gouveia e empregou-se como ajudante de escritório numa fábrica de lanifícios, propriedade do Conde de Caria. Entretanto estudava sempre pelos seus próprios meios, e chegou a concorrer às funções de tabelião, que na época substituíam os actuais notários. Classificado em primeiro lugar, não chegou a tomar posse, porque preferiu ir desempenhar as funções de guarda-livros, numa fábrica de Lanifícios em S. Paio, e depois em 1893, na firma Brás & Irmão, na altura gerida pelos dois amigos, Guilherme Cardoso Pessoa e António Rodrigues Frade.
A entrada de Marques da Silva para essa firma coincidiu com o estudo da remodelação que os gerentes andavam empenhados em realizar. Os 3 constituíram uma nova firma a que deram o nome de “Os Grandes Armazéns das Beiras”, onde instalaram maquinaria moderna e acessórios para a indústria de lanifícios. Ora o grande problema da nova fábrica era a potência motriz, insuficiente porque produzia a vapor. Aqui surgiu o interesse de António Marques da Silva pela produção da electricidade, lançando-se então na criação da EHESE.
Foi casado com D. Adélia Calixto Marques da Silva, de quem teve uma única filha, a senhora D. Maria da Glória Calixto Marques da Silva, que foi casada e depois viúva do insigne médico que foi o Dr. António Simões Pereira.
Em 1943 António Marques da Silva foi condecorado com o Grau de Comendador da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial (Classe de Mérito Industrial). Em Outubro de 1948 foi prestada uma significativa homenagem a Marques da Silva, tendo-lhe sido oferecida uma palavra de bronze com a sua imagem que foi fixada na muralha da Barragem da Lagoa Comprida, ficando a lembrar aos vindouros quem a ajudou a erguer.
O trabalhador infatigável que foi Marques da Silva, deixou o seu nome para sempre vinculado ao ramo da electricidade e deve ser considerado um dos pioneiros da electricidade em Portugal.





Bibliografia

Saraiva, António Júlio Vaz
Santos, Carlos Marrão
Mota Veiga, Humberto Manuel Sena
Revista 90º Aniversário da Fundação da EHSE (1909 - 1999)
Seia, Câmara Municipal, 1999


Bigotte, José Quelhas
Monografia da Cidade e Concelho de Seia
Seia, edição do autor, 1992



Fotos:

- Fototeca Municipal de Seia (2009)

- Monografia da Cidade e Concelho de Seia
Seia, edição do autor, 1992

- Revista 90º Aniversário da Fundação da EHSE (1909 - 1999)
Seia, Câmara Municipal, 1999


4 comentários:

Jonnhy disse...

Parabéns à Maria Branquinho pelo seu trabalho de investigação. Marques da Silva foi muito mais do que o impulsionador da EHESE, houve outra grande indústria que se desenvolveu na região graças ao seu contributo. De tal forma que, quando faleceu, foi ofertado à sua familia um automóvel de marca Bentley que custou 300.000$00. Quanto aos Armazéns das Beiras... será que era mesmo uma fábrica?:)

seia.portugal disse...

A este propósito, deve realçar-se a tese de Mestrado de João Orlindo de Vide joaodavide@net.sapo.pt
e da qual já foram publicados excertos no Jornal Porta da Estrela, com o titulo - Contributos para a história da electricidade no Concelho de Seia

http://www.portadaestrela.com/index.asp?idEdicao=282&id=12378&idSeccao=2599&Action=noticia


http://www.portadaestrela.com/index.asp?idEdicao=283&id=12421&idSeccao=2611&Action=noticia


Esse trabalho cientifico, devia em nossa opinião ser publicado pelo Município de Seia no ano do centenário da EHESE, coincidindo também com a abertura do Museu da electricidade.

edureis disse...

Brilhante trabalho de sua filha. A historia sempre será motivo de engrandecimento de uma comunidade. Sou grato por essa sua lembrança, ainda mais que passei, alguns anos de minha infancia, na Central da Senhora do Desterro aonde meu pai era funcionário. Sinceros agradecimentos. Eduardo Reis,Rio de Janeiro.

Anónimo disse...

Eu posso dizer-lhe, que tenho um relógio em ouro, que foi oferecido ao meu Pai já Falecido, pelos seus bons ( 40 Anos ) de serviços prestados como funcionário, na Central da Ponte jogais, Sabugueiro e Vila Cova. É de Lamentar que após o 25 de Abril, tivessem retirado do torreão da a Lagoa Comprida o Busto em Bronze, que foi oferecida por todos os funcionários da Empresa