domingo, 10 de maio de 2009

Artistas de Seia, LUIZ MORGADINHO


O que Sérgio Reis escreveu sobre Luiz Morgadinho, por ocasião da homenagem que os artistas de Seia lhe prestaram na abertura da ARTIS 2009, que teve lugar ontem, dia 9 de Maio de 2009.



LUIZ MORGADINHO


"Existem vários e bons motivos para distinguir Luiz Morgadinho no contexto dos artistas senenses: em primeiro lugar, por ter representado esses artistas enquanto membro da direcção da Associação de Arte e Imagem de Seia, e a sua participação na organização de várias edições da ARTIS – Festa das Artes e das Ideias de Seia; depois, pela qualidade intrínseca da sua obra e os reflexos desta no prestígio global dos artistas senenses e das artes em Seia.


Luiz Morgadinho vive exclusivamente da sua arte, trabalhando simultaneamente para diferentes tipos de mercados, e esta liberdade espinhosa reforça a sua representatividade e bom exemplo. Uma parte da sua obra plástica trata, assim, aspectos imediatos da realidade com interesse histórico e turístico, distinguindo-se sobretudo pela técnica adoptada: o desenho e pintura com café.




A sua obra criativa, ao inverso, utiliza técnicas de pintura convencionais para nos mostrar mais caminhos de comunicação, alargar as janelas e corredores do gosto artístico tradicional, ao mesmo tempo que desafia o acomodado entendimento da realidade. Servindo-se de um dos métodos preferidos dos surrealistas, o ilusionismo fotográfico, e guiado pelo princípio da imaginação como motor da criação, Luiz Morgadinho constrói malabarismos filosóficos para desmascarar as incongruências do nosso tempo.



Os surrealistas revelam o sonho e o imaginário, fontes inesgotáveis e misteriosas de criatividade. O insólito, o cómico e o grotesco exprimem-se livremente nas suas obras e por isso o espírito e métodos deste movimento internacional, cujas bases teóricas foram estabelecidas por André Breton em 1924, continuam a atrair os artistas e poetas jovens. Nem todos, porém, persistem na infindável busca do ideal surrealista e Luiz Morgadinho faz parte do cada vez mais restrito e selecto grupo de continuadores do Surrealismo, uma opção que data da sua fixação em Seia, em 1999. Pode bem dizer-se que a parte mais significativa e divulgada da sua fase surrealista foi realizada por cá, entre nevões no alto da Estrela e os prados férteis de Santa Comba de Seia.






"O Morro da Estátua"




Natural de Coimbra, onde nasceu em 1964, o artista assume-se como pintor autodidacta, apesar de ter frequentado o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e o Curso de Artes e Técnicas do Fogo na Escola Avelar Brotero. Nos anos 80, partiu para a capital em busca de espaço para a sua irreverência vanguardista, chegando a integrar “algumas formações na área do rock alternativo, performances, e de acção libertária”. Logo depois, decidiu quebrar com as rotinas do emprego certo e passou a dedicar-se exclusivamente às artes. Realizou algumas experiências na área da cerâmica e aprendeu diferentes técnicas de pintura com os artistas Jorge Marcel, António Montelhano e Jorge Carlos de Oliveira. Pelo meio dos anos 90, a vida de Luiz Morgadinho estava definitivamente moldada pela agitação artística da Lisboa boémia e o artista desdobrava-se em projectos diversos.




Para além da intensa produção de pinturas com café e aguarelas, publicou um livro em parceria com o pintor e escritor Jorge Carlos de Oliveira, ilustrou um livro do Prof. Luís Filipe Maçarico e a colectânea “Arte 98”, de Fernando Infante do Carmo. Realizou então algumas exposições individuais em Portugal, Espanha e França, e participou em várias colectivas, tendo conquistado duas menções honrosas: em Lisboa (1996) e Torres Novas (1997).


A sua fixação em Seia não travou o seu envolvimento em projectos diversificados. Manteve ligações com a vida artística lisboeta e continuou a expor em colectivas, arrecadando nova menção honrosa, em Nisa, no último ano do milénio.


Participou em praticamente todas as mostras colectivas realizadas na região desde o início do novo século até à data, com destaque para as Exposições Colectivas dos Artistas Senenses, as várias edições da ARTIS e algumas AGIRARTE, realizadas na vizinha Oliveira do Hospital. Representado no museu do café de Cadenazzo, na Suíça, em várias Câmaras Municipais portuguesas e no Ayuntamento de Olivenza, Espanha, para além de diversas colecções particulares dispersas pelos cinco continentes, Luiz Morgadinho é uma mais-valia para a Associação de Arte e Imagem de Seia e para a dinâmica cultural que se pretende intensificar na cidade e na região".



Sérgio Reis

1 comentário:

Anónimo disse...

Conheci o Luís Morgadinho há alguns anos numa feira de artesanato, algures no Norte Alentejo. Na altura, fiquei maravilhado com as suas pinturas a café, pequenas obras de arte aqui e ali vendidas ao "desbarato". Tratando-se da sua obra, mais comercial, não deixa de ser genial e ilustrativa do seu potencial. É que em Portugal é difícil ser-se artista, escritor, cientista ou investigador...
Lamento que muitos dos nossos artitas ou criadores, como é o caso, se vejam "obrigados" a investir grande parte do seu tempo em "trabalhos de subsistência", porque os apoios são inexistentes ou miseráveis e o reconhecimento, muitas das vezes, só acontece depois da morte ou na idade da reforma. Apesar de se tratar de uma forma de reconhecimento, não basta condecorar, atribuir um prémio de "consolação" ou de mérito, é urgente dar condições de trabalho e de criação a artistas, criadores, investigadores, porque são eles que realmente inovam e nos enriquecem técnica e culturalmente.
Sérgio Pereira