Correio da Manhã 6/02/2009
Luis Oliveira
"Estou a ficar sem forças e o queijo está cada vez menos rentável. Por isso, o mais provável é acabar com a produção", o desabafo do pastor António Simão espelha o sentimento dominante entre os produtores do queijo Serra da Estrela, uma actividade com o futuro cada vez mais em risco devido à falta de apoios, de mão-de-obra – sobretudo de pastores – e ao constante aumento dos custos de fabrico.
António Simão, de 48 anos, e Maria Odete, de 45, proprietários de uma queijaria tradicional em São Romão, Seia, são dos poucos na região que acompanham todo o processo de produção de queijo – desde o pastoreio das 400 ovelhas bordaleiras até à venda no domicílio.
Levantam-se diariamente às 06h00 para fazer a primeira ordenha, "quer chova ou caia neve". Depois, enquanto António – auxiliado pelo Leão e a Farrusca (dois cães da Serra da Estrela) – guia e vigia o rebanho pelos pastos, Maria fica no rés-do-chão de casa a fazer queijo com o leite recolhido de madrugada. Quarenta litros dão para seis/sete queijos.
A meio da tarde, António regressa com o rebanho e, após um descanso de três horas, os animais são sujeitos à segunda ordenha do dia. A seguir ao jantar, Maria desce de novo à sala de produção e faz mais sete queijos. "Há quatro anos fazia 30 por dia, agora só faço metade", lamenta Maria Odete, também ela cansada de uma tarefa "saturante" que impede o casal de conhecer o "outro mundo" para lá das encostas da Serra da Estrela.
"Há 23 anos que não fazemos outra coisa. Não podemos sair daqui, nem para visitar a nossa filha em Lisboa. No mês passado, o meu marido esteve três dias internado no hospital e foi um cabo dos trabalhos", refere a queijeira, que entrou no sector depois da fábrica têxtil onde trabalhava ter falido.
Esta é a forma de vida das pessoas que conseguem manter viva uma tradição milenar, mas que tem o futuro comprometido, como explica António Simão. "Os custos de produção – ração, gasóleo, energia e impostos – são cada vez mais elevados e o preço do queijo, ao contrário, está a baixar. Hoje vendemos o quilo a 12,50 euros – há cinco anos era a 18 – por causa de alguns produtores que não conseguiam vender o queijo de menor qualidade. Nós, que produzimos queijo certificado, tivemos que acompanhar a descida", conclui António Simão.
2 comentários:
Difícil, difícil era há sessenta (60) anos. Pastores do Sabugueiro, durante os meses de Inverno, tinham que se deslocar para S.Romão com os seus rebanhos para lhes dar de comer, no entanto, nesses tempos difíceis, alguns pastores conseguiram amealhar boas economias. Alguns provam isso, pelo o que têm feito em Seia.
O novo candidato dará resposta ao problema dos pastores e a outros.
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