Se eu não escrevo é porque não escrevo, se escrevo, alto lá que há mouro na costa ou coisa assim. Mas, assim, como assim, sempre nos vamos encontrando, aqui neste canto de escrita, ao correr da leitura, a assomar as palavras que brotam daquilo que se vê e se sente, como que a entreter as palavras à espera de melhores dias.
Porque chove e anda tudo melancólico, porque neva e há muito frio e porque sim e assado e o tempo não ajuda nada, já não basta a crise, o desemprego e as taxas de juro e o raio que parta tudo, que parece que vai acabar o mundo. Mas não há-de se nada e se for que seja uma réstia de esperança como aquela que temos quando vamos jogar no jogo dos milhões.
Uma coisa que nos intriga a todos, são as más notícias que nos entram todos os dias em casa pela televisão que teimosamente permanece ligada, como fado indispensável e corriqueiro, sem termos meios ou vontade de nos desembaraçar de tamanha rotina. Sem grande força e vontade de nos livrarmos da má sina de viver num tempo que, se houver vida daqui por cem anos, os historiadores vão dar muito ênfase.
Já não basta as notícias de gente que a gente conhece, que teve uma dor forte, uma doença prolongada e por aí fora até à morte, vendo partir um, dois, três e tantos, e tão novos, sem que se ponha termo ao flagelo ou às coisas más que comemos, ou ao mal que fazemos ao ar que respiramos, à poluição que produzimos, enfim, tanta inquietação, tanta treta que temos a entulhar a consciência. Já nem na água que bebemos acreditamos, porque vem amarela e sabe não sei a quê!
Já é tempo do tempo melhorar e procurarmos refúgio no convívio que falta, nos afectos que escasseiam e na doce virtude de empreender novos rumos, para um mundo melhor, para uma vida mais feliz, porque o que se ouve é que as pessoas quanto mais têm, mais infelizes se tornam. Dantes, noutros tempos, até descalços andavam e andávamos, na alegria de viver, a correr para um lado qualquer, que se sabia melhor do que aquele de onde se partia.
Não sei se o tempo vai melhorar, se o mundo vai mudar e se a televisão passa a dar boas notícias, mas uma certeza me assola, - vamos ter de acordar da letargia de não querermos incomodar e sair, na compreensão dos dias e na ilusão dos factos até chegarmos a outro sítio qualquer. Já não há canalizador que valha ao sistema nervoso que só quer xanax e dormecuns, assim como não há pedreiro que levante a moral de quem não tem fibra de betão ou carpinteiro que faça a cruz que carregamos desde que o tempo teima em ser cinzento e deprimente. Realmente.
Em Seia, como noutro lado qualquer, do que precisamos é de cativar, de criar laços e desfazer nós que se sabe atados por coisa nenhuma, a ver se nos entendemos e saímos a apanhar ar, mesmo que o tempo não melhore assim tão depressa.
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