quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

"A Vida Num Sopro", de José Rodrigues dos Santos

E de repente, numas férias de Natal e fim de ano, lêem-se as 611 páginas do romance de José Rodrigues dos Santos - "A vida num sopro".
Para além do enredo ser suficientemente atraente, numa escrita que nos mantém colados à história, há o pano de fundo de uma época da história de Portugal - anos 30. Salazar acabou de ascender ao poder e, com mão de ferro, vai impondo a ordem no país. Portugal muda de vida. As contas públicas são equilibradas, Beatriz Costa anima o Parque Mayer, a PVDE cala a oposição.

Este livro é em minha opinião mais um contributo para o enriquecimento da literatura portuguesa da actualidade que vive uma fase interessante, uma vez que vários escritores, por ventura desafiados pelas editoras, escrevem enredos passados em épocas interessantes da história de Portugal. Acontece com o período da queda da monarquia, das convulsões republicanas, da emergência da ditadura e todo o período da Estado Novo, e mais recentemente a guerra colonial e o fenómeno dos chamados “retornados”.

Convenhamos que é uma forma interessante e inteligente de se divulgarem cenários riquíssimos da história de Portugal. Surpreendente é também o estilo literário emergente, destacando-se nomes sonantes e populares como Miguel Sousa Tavares, Tiago Rebelo, Julio Magalhães, Vasco Pulido Valente e o próprio Rodrigues dos Santos.

Sousa Tavares, que surpreendeu com “Rio das Flores” tem agora o seu “Equador” adaptado a televisão, numa super-produção da TVI, com cenários verdadeiramente soberbos de Portugal, Índia e São Tomé e Príncipe, numa operação que promete ser um grande êxito de audiência.
Rodrigues dos Santos tem também uma vasta obra publicada com tradução em inúmeros países, tendo havido noticias recentes que apontam para a possibilidade do livro “O Codex 632” poder chegar a Hollywood.

Entretanto, fiz uma pesquisa no Google sobre este livro que agora acabo de ler “A vida num sopro” e deparo com esta noticia do Diário Digital que dá conta da afirmação de Lobo Antunes de que o livro é uma mer*:

O escritor António Lobo Antunes criticou na quinta-feira o romance de José Rodrigues dos Santos, dizendo que «A Vida num Sopro» é «uma grande merd*.Durante um debate em Oeiras, Lobo Antunes terá confessado que, num país «onde todos são escritores», «fica assombrado com pessoas que escrevem livros em dois meses», citou a agência Lusa. O Prémio Camões 2007 terá referido que não gosta de livros «fáceis (…), como as mulheres fáceis que nos piscam o olho».O autor de «Fado Alexandrino» explicou no colóquio moderado pelo jornalista da TSF Carlos Marques que lhe interessa exprimir as coisas «para as quais não existem palavras», já que a Literatura «é uma forma de pôr cá para fora as emoções».Lobo Antunes revelou que trabalha de 12 a 13 horas por dia numa garagem por cima de um bar de alterne em Lisboa, sem telemóvel nem computador e «com o dinheiro nos bolsos, como os ciganos».
DiarioDigital

Enfim, opiniões. Por isso é que o mundo não está perdido.
A editora do livro – Gradiva - por sua vez divulga as seguintes críticas de imprensa sobre o mesmo livro:

"Um estilo literário prodigiosamente poético e melódico"Literaturzirkel Belletristik, Alemanha
"Com uma escrita clara e escorreita, mantém o leitor colado à história"Corriere della Sera, Itália

"José Rodrigues dos Santos fascina e informa, ao mesmo tempo que entretém"Shelf Awareness, Estados Unidos

"Para ler com prazer"El Correo Gallego, Espanha

"Escrito com bom humor e uma erudição que resultam numa linguagem fluida"Bravo, Brasil

"O português dos Santos escreveu de facto um grande romance"Bild am Sonntag, Alemanha

"Um thriller histórico refrescante"Kirkus Reviews, Estados Unidos

"Um romance misterioso e atraente"Il Messagero di Roma, Itália

Nota:
Diante de tanta douta e díspar opinião quem sou eu para fazer apreciações. O que acho é que ultimamente se tem escrito muito em Portugal sobre vários períodos da história de Portugal e isso é benéfico, além de um invulgar enriquecimento da orla romancista portuguesa da actualidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me que este é o mais fraco dos últimos romances do J.R.S. que possuiam investigação historica e cientifica aprofundada e nos surpreendiam a cada momento. O presente é "simplemente" um romance - agradável, fácil de ler, mas com pouco que o diferencie para além da trama romanesca.
Profundo, portador de muitissma informação sobre acontecimentos fundamentais do antigo regime, em especial sobre a problemática das ex-colónias mas também sobre o papel de múltiplas personagens (ainda não acabei a leitura) é "A Espuma do Tempo - Memória do tempo de Vésperas" do Prof Adriano Moreira (que se anuncia como preector de uma conferência a realizar em Seia, em Maio próximo)Parabéns ao Mário Jorge pelo excelente blog que dinamiza. Cumprimentos. Luis Rente

Anónimo disse...

o rente está lá quase