terça-feira, 4 de setembro de 2012

É o fogo, senhores!

 
É assim todos os anos. E este ano, que pensávamos que íamos escapar da tragédia dos fogos, já que agosto tinha passado, sem grande fumaça e eis que vem o vento e vira a sorte e má fortuna a nossa. Tempo quente e seco e um “boi de vento” a soprar, para tornar as labaredas fortes e fartas, e tragicamente devastadoras.
Dias difíceis por estes lados, para cumprir a triste sina que ocorre todos os anos por esta altura. Momentos de angústia, num corre-corre de bombeiros, que acodem de várias partes do país a correrem à ocorrência, quase sempre com várias frentes de combate, nesse triste teatro de operações a que chamam fogos de verão.
Foto: Carlos Amaro
É uma espécie de guerra temporária que se sabe ter um tempo limitado, mas onde, invariavelmente as horas são meses e os dias anos, por nunca mais acabar a força bélica, nesse combate desigual, que faz jorrar toneladas de água ou depósitos imensos de suor e angústias por entre a fúria das labaredas.
E de um qualquer lugar de onde contemplemos, somos sempre impotentes num flagelo que irrompe quase sempre onde já pouco de bom pode suceder. E sempre, mas sempre, ou quase sempre, são os mais desfavorecidos, os mais atingidos, nessa fugaz e forte e medonha labareda que leva a paciência e nos impele a querer amarrar o filho da mãe culpado a um poste e queimá-lo vivo.
É a dureza da realidade anual que cumpre a profecia e queima e leva para longe as réstias de esperança de um futuro melhor em terras já de si depauperadas. E tudo vai na voragem, ardendo na noite escura e nos dias quentes e secos. E são matos, lojas de gado, fábricas, galinhas, coelhos, pastos, casas, carros, pessoas e meios e latas e tudo.
É o fogo. É o fogo!
Agora vem tudo à cabeça, e raivas e discursos e estratégias e formas de combate, e relatórios e dinheiro e limpezas e caminhos e negligências e atos de heroísmo, e vãs promessas, que depois de tudo passar, há-de ficar tudo na mesma como está, à espera do próximo ano. Mesmo que se limpe, se faça e se previna, nunca é suficiente para evitar esta guerra. E para o ano, mais ou menos nesta altura, aqui estaremos a ver cumprir-se a profecia de fugir do fogo e de voltar a dizer as mesmíssimas coisas que aqui agora dissemos e que dizemos há mais de 30 anos.
Triste sina a nossa!

1 comentário:

Jotap disse...

...é com mágoa que se assiste a perdermos o tão pouco que nos restava....ar puro, tranquilidade e paisagem linda!!