É assim
todos os anos. E este ano, que pensávamos que íamos escapar da tragédia dos
fogos, já que agosto tinha passado, sem grande fumaça e eis que vem o vento e
vira a sorte e má fortuna a nossa. Tempo quente e seco e um “boi de vento” a
soprar, para tornar as labaredas fortes e fartas, e tragicamente devastadoras.
Dias difíceis
por estes lados, para cumprir a triste sina que ocorre
todos os anos por esta altura. Momentos de angústia, num corre-corre de bombeiros, que acodem de várias
partes do país a correrem à ocorrência, quase sempre com várias frentes de
combate, nesse triste teatro de operações a que chamam fogos de verão.
Foto: Carlos Amaro
É uma
espécie de guerra temporária que se sabe ter um tempo limitado, mas onde,
invariavelmente as horas são meses e os dias anos, por nunca mais acabar a
força bélica, nesse combate desigual, que faz jorrar toneladas de água ou
depósitos imensos de suor e angústias por entre a fúria das labaredas.
E de um
qualquer lugar de onde contemplemos, somos sempre impotentes num flagelo que
irrompe quase sempre onde já pouco de bom pode suceder. E sempre, mas sempre, ou
quase sempre, são os mais desfavorecidos, os mais atingidos, nessa fugaz e
forte e medonha labareda que leva a paciência e nos impele a querer amarrar o
filho da mãe culpado a um poste e queimá-lo vivo.
É a dureza
da realidade anual que cumpre a profecia e queima e leva para longe as réstias
de esperança de um futuro melhor em terras já de si depauperadas. E tudo vai na
voragem, ardendo na noite escura e nos dias quentes e secos. E são matos, lojas
de gado, fábricas, galinhas, coelhos, pastos, casas, carros, pessoas e meios e
latas e tudo.
É o fogo. É
o fogo!
Agora vem
tudo à cabeça, e raivas e discursos e estratégias e formas de combate, e
relatórios e dinheiro e limpezas e caminhos e negligências e atos de heroísmo,
e vãs promessas, que depois de tudo passar, há-de ficar tudo na mesma como
está, à espera do próximo ano. Mesmo que se limpe, se faça e se previna, nunca
é suficiente para evitar esta guerra. E para o ano, mais ou menos nesta altura,
aqui estaremos a ver cumprir-se a profecia de fugir do fogo e de voltar a dizer
as mesmíssimas coisas que aqui agora dissemos e que dizemos há mais de 30 anos.
Triste sina
a nossa!
1 comentário:
...é com mágoa que se assiste a perdermos o tão pouco que nos restava....ar puro, tranquilidade e paisagem linda!!
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