Crónica - Gostos discutidos em Agosto

A primeira frase que ocorre é de que “gostos não se discutem”, mas o que se verifica é que não há nada mais discutível do que afinal os gostos. E está fácil de ver, ou de constatar.
E porque eu gosto mais disto, ou mais daquilo, desta música ou daqueloutra, deste vinho ou daquele, desta cor ou daquela; trivialidades que dão começo a muitas prolongadas conversas e profundas discussões. Por isso, nada mais errado quando se diz que gostos não se discutem. O que pode estar certo é cada um ficar com o seu ponto de vista, como quando se diz ao fim de muita discussão, - fica lá com a bicicleta que eu fico com os pedais!
Imaginem o que seria ficarmos com a bicicleta toda, pedais incluídos?! Ainda apanhávamos com as finanças a exigir o talão da compra, ou com um cronista qualquer a querer saber porque é que não se levou até ao fim a questão da separação de gostos.
Tem de se contar com tudo.
Contudo, não se deve desvalorizar a importância do gosto e do ponto a que cada um leva o seu gosto. Uns até têm gostos estragados, que são assim uma espécie de quem anda mal com todos. Fora isso, o que se constata é que do gosto é que vem a coisa boa, porque para desgosto já basta a sina da vida quando dá para o torto. E não vale a pena contornar a questão, porque o que está em causa é saber se afinal os gostos se discutem ou não!
Nesse emaranhado de palavreado, quantas vezes não fomos assaltados por gente que ama o aberrante ou se atira de cabeça por um quadro mal pintado, uma música assim-assim, um texto mal tratado e o diabo ao quadrado? É o tal gosto que fica ao gosto de quem o diz e nesse particular, costumam ser os homem que mais mal o definem.
Uns gostam de loiras, outros de morenas. Uns vão pelo tinto, outros mais pelo branco e até há os que gostam tanto de branco como do tinto, no estilo gostoso e desastroso do que “vier morre”. Por falar nisso, até há os que gostam tanto, tanto, que acabam por morrer,… de amor ao vinho!
Na bolsa o caso já muda de figura, onde o gosto não tem lugar. É tudo frio e pragmático. Ou se tem ou não se tem poder de compra ou poder de decisão. É verdade que gostar é decidir, mas ali, naquele mar de apostas, só se decide pelo interesse. Só se vai para ganhar e não por gosto. Quem tem gosto, fica em casa!
E a intensidade do gosto também conta. Imaginem o que será da saúde de um indivíduo que gosta muito de panquecas ou de outra treta qualquer? O mais certo é comer muito, ficar doente e pedir ao médico que lhe receite um remédio para mudar de gosto.
Há pintores que gostam mais de abstractos, outros de naturismos, uns gostam de pincéis finos, outros já gostam de pintar à mão, e até há outros que gostam mais do Photoshop.

Agora imaginem o sofrimento dos homem que gostam tanto, tanto das suas amadas que não devem fazer mais nada que aturá-las! Ou vice-versa, claro, nada de gostos machistas.
Há quem goste assim, há quem goste assado. Uns gostam de passear o cão, outros não. Uns dá-lhe mais para laurear a pevide, outros para ir, outros para vir e assim sucessivamente e vice-versa.
Eu por exemplo, gostava de gostar ir-me embora, daqui para fora. Mas não, gosto de cá estar, de andar por aí, a dizer, a ver, a preencher, a pensar e a escrever textos assim, ao fim de um dia de Verão, numas férias sem nada para fazer, para entreter e fazer o gosto ao gosto de escrever. Sempre gostei de escrever, mas nem sempre tenho tido tempo ou disposição.

Nota:
Se houver por aí alguém que queira pegar no tema do gosto e quiser dar continuidade à crónica, faça favor de entrar!