quarta-feira, 25 de abril de 2012

O meu discurso na sessão da Assembleia Municipal de Seia evocativa do 25 de Abril


Passados 38 anos sobre a revolução dos cravos, eis-nos aqui nesta Assembleia Municipal a assinalar simbolicamente esse fenómeno histórico que contribuiu para uma nova fase da vida do nosso país.
Passados 38 anos continuamos a reunir-nos para comemorar uma data que significou um novo ponto de partida da sociedade portuguesa, até então mergulhada na pobreza, na miséria e nas guerras coloniais. Reunidos num ato de cariz evocativo da liberdade, sublinhamos o simbólico, retirando do esquecimento um marco importante da nossa história.
Passados 38 anos aqui estamos e perguntamo-nos, no entanto, que significado tem, continuarmos a reunir aqui e por todo o país, em cerimónias solenes e simbólicas que remontam à memória, como espaço de resistência e seiva da cidadania. Uma data histórica, que independentemente do seu significado, poderá e deverá ser repensada à luz da nova reforma da lei eleitoral autárquica. É que passados tantos anos, pode deixar de fazer sentido este tipo de sessão solene.
Mas mesmo assim e passados 38 anos, aproveitamos o momento para lhe dar significado e solenidade merecida.
E nesse contexto, olhamos então para trás, do ponto onde nos encontramos, refletimos inevitavelmente sobre o caminho andado e sobre a situação a que chegámos, para procurarmos perceber o rumo que levamos. Para, por ventura, nos embaraçarmos no raciocínio a seguir e no caminho a tomar, dada a enorme transformação operada pelo sistema democrático que ao longo deste tempo nos tem governado.
38 anos é muito tempo e por isso dá bem para constatar que estas comemorações do 25 de Abril de 2012, ocorrem num clima de grande incerteza, de receio e de muita amargura pela  situação que o país, a Europa e o mundo atravessam.
Todos os dias vemos o país a afundar-se pela difícil situação em que nos encontramos, fruto de políticas erradas, sobretudo dos últimos 25 anos, mas também pelas duríssimas e insensíveis medidas tomadas pelo atual governo que nos leva a crer que não vamos morrer do mal, mas da cura que nos impõe.
E nós não podemos consentir que se ataque fortemente nos direitos e lance impostos para tudo, fazendo com que circule cada vez menos dinheiro e que haja cada vez menos negócio.
Não podemos admitir que se privatize tudo o que interessa aos privados, nem admitir que se deixe para trás muita gente, desprovida de apoio social, de saúde e de justiça. E não se dê futuro aos nossos jovens, que se formam e qualificam e não encontram trabalho. É que ao longo da história do nosso país, somos a geração que não está a dar esperança de um futuro melhor às gerações a seguir à nossa!
Por isso, com o povo no limite da sua resistência, é preciso uma saída que, naturalmente não é fácil, mas que em matéria de política nacional, nos remete para uma reivindicação de mais investimento e menos austuridade, sobretudo com o desbloqueamento de verbas do quadro comunitário para apoio às empresas e para execução de um caudal minímo de obras públicas.
É neste quadro, pintado de bem negro, que também o nosso concelho se situa, num confronto difícil, numa caminhada árdua do município, em busca de soluções para os novos problemas de hoje e sobretudo de investimentos para estancar o fenómeno de desertificação carateristico das zonas de Interior do país.
Um concelho que procura responder aos desafios, com medidas consistentes e criativas, com projetos simples e inovadores, com programas aliciantes e de baixo custo, enfim, um concelho como tantos outros que tem cada vez mais de fazer mais por menos.
Por isso se procura e se estimula o investimento privado, numa estratégia de proximidade aos seus cidadãos e agentes económicos e numa linha de rumo coerente capaz de dar frutos.
Por isso se caminha com os pés bem assentes na terra, em direção a programas coerentes e sustentáveis, longe da ilusão dos dias e de fantasias irresponsáveis que em nada nos beneficiam.
Por isso se procura cortar no assessório e centrar naquilo que é essencial, de modo a que não faltem os apoios minimos indispensáveis para a melhoria das condições de vida dos nossos municipes, sobretudo dos mais desfavorecidos.
Por isso se elege a área social como prioritária, através de programas de apoio a vários níveis – de combate à pobreza, alcoolismo e toxicodependência, de construção habitacional, etc. Porque é preciso estar do lado de quem mais precisa.
Por isso se aposta no turismo e na cultura, ressalvando-se, no entanto a necessidade de não cair na tentação do populismo e da demagogia, retirando a estes setores o apoio merecido, como tem feito o governo, por considerar estas áreas como elos mais fracos.
Por isso se procuram respostas para melhoria de prestação de cuidados primários de saúde, como aquelas que estão em marcha, procurando colmatar o encerramento de extenções de saúde, assim como do reforço das valências hospitalares de que os nossos cidadãos necessitam.
Por isso, em Seia, com virtudes e no reconhecimento humilde das falhas e dos defeitos, há esperança no futuro, uma esperança que procura manter-se, num discurso simples e de verdade, apesar do mar de adversidades que a Câmara enfrenta, sobretudo em matéria de finanças municipais.
No entanto, é bom que o governo reconheça o esforço e a abnegação que por aqui se revela, compensando de forma real e efetiva, este concelho de grandes potencialidades, de modo a que se faça o que ainda não foi feito. Se concretize a execução de pelo menos um traçado dos Itinerários Complementares que servem esta região e se execute um conjunto de outros investimentos necessários, mesmo em tempos difíceis como este. É que, governar não é só tirar, é preciso acrescentar e o concelho precisa que se acrescente no lado do investimento. Precisa de sinais de esperança para prosseguir a caminhada.
Comomerar Abril, hoje, é analisar a realidade que nos circunda, na Europa, no país e neste caso, no nosso concelho e apontar caminhos.
Por tudo isto também e passadas quase quatro décadas, é importante beber os ensinamentos de Abril e transportá-los para a nova realidade atual, construída em paradigmas ainda incertos e frágeis, na busca de novas receitas para um futuro melhor.
Porque apesar de tudo, temos de ter esperança e procurar inverter o rumo que tem sido seguido.
Temos de nos levantar do chão e procurar responder às imensas exigências que se nos colocam e pensar se não chegou a hora de pensar efetivamente mais nos deveres do que nos direitos.
Porque o desafio é de todos, já que há cada vez mais espaço para a cidadania.
Ao ponto a que tudo isto chegou é fundamental não deixar que a sociedade em geral se resigne e baixe os braços, desistindo de lutar e de acreditar.
É preciso acreditar e lutar, num momento particularmente difícil que afeta uma maioria e resguarda uns quantos, gerando sentimentos de injustiça e de revolta profunda.
Momentos e sentimentos que nos levam a sugerir um novo 25 de Abril para Portugal ao nível de novas mentalidades, de novas atitudes e de novas políticas que nos salvem.
Atitudes e caminhos que promovam e fortaleçam uma cultura de responsabilidade, um Estado de rigor, justo, produtor e não gastador, que combata de forma real e efetiva a corrupção, que facilite o acesso à saúde e incremente um ensino que promova o caráter, o mérito e a inovação.
Por tudo o que vemos da ação governativa da coligação maioritária e do acumular de más condutas de sucessivos governos, que nos trouxeram para este estado de decadência económica e social em que nos encontramos, é que precisamos de um abanão.
Num momento em que se instala o medo - o mesmo medo característico do Estado Novo, que amarrava os cidadãos à pobreza e à repressão - sentimos que o sistema precisa desse tal abanão que estremeça toda a classe política e estimule efetivamente os vários agentes da sociedade.
Precisaremos por isso, de um novo 25 de Abril centrado, não nas armas, mas na atitude e na ação governativa, nos seus patamares económico, social e cultural, que permita uma sociedade civil mais ativa e mais livre, neste intrincado processo de sobrevivência.
Uma revolução silenciosa que permita que a política mais madura e mais assertiva, lidere efetivamente os destinos do país e das instituições, rompendo com supremacias tecnocráticas e interesses económicos instalados que nos arruínam diariamente.
É urgente um novo 25 de Abril nas ideias e nas atitudes, que restitua a confiança no futuro e que volte a criar um sonho coletivo, reabilitando o direito ao futuro por parte das próximas gerações.
Um novo 25 de Abril que leve a democracia a refazer-se e a aprofundar-se, num momento em que se desqualifica diariamente nos discursos e nas ações. Num momento em que se tomam medidas duríssimas que em vez de darem indicações de melhoria, nos afundam cada vez mais.
Criar um novo 25 de Abril de mentalidades, apostando na Educação e na cultura, combatendo a pobreza, o desperdício dos fundos públicos, o desequilíbrio na distribuição da riqueza e apostar em novas formas de criação de riqueza e de emprego.
Dizer isto assim, parece retórica, porque é aquilo que ouvimos todos os dias - de que o país vai mal, que é preciso mudar, que os políticos são todos iguais – mas é urgente fazer alguma coisa que inverta a situação de depressão e agonia social em que mergulhamos.
É preciso, é urgente, uma revolução criativa que mobilize os cidadãos para as causas e coisas da democracia, de modo a encontrar caminhos que levem a novos empregos e a novos sustentos.
Atitudes que dependem de cada um de nós, no nosso dia-a-dia, mas que em muito dependem das opções governativas dos Estados, numa altura em que precisamos de um novo Jean Monet para refundar a Europa e de um novo Keynes para nos ajudar a sair da crise, como diz o Professor Freitas do Amaral.
Como se vê e constata, vivemos um tempo em que os sonhos do passado parecem ter desaparecido, mas não podemos perder a ambição de um tempo melhor. Está nas nossas mãos realizar os sonhos, reinventar a esperança.
É possível vencermos se nos mantivermos unidos e coesos e se os sacrifícios forem repartidos de uma forma justa e se se perceber que as exigências do presente têm um sentido de futuro, têm um propósito e uma linha de rumo coerente.
Só assim teremos razões legítimas para sonhar, as mesmas razões que há 38 anos nos deram a liberdade e a democracia. Razões de heróis que não tiveram medo do futuro e acreditaram na mudança.
Por isso, não é menor o patriotismo heróico que se exige a todos nós, que teremos de ser os heróis do nosso tempo, em que unidos, não devemos recear. E começar já hoje a construir um país digno da memória de Abril e da sua esperança.


 
Seia, 25 de abril de 2012
Mário Jorge Branquinho - PS

2 comentários:

Anónimo disse...

Para quê mais comenrários, está tudo dito.

António

Anónimo disse...

Balelas e mais Balelas...

José Silva