quinta-feira, 25 de abril de 2013

O meu discurso do 25 de abril na Assembleia Municipal de Seia

Estamos aqui hoje para assinalar o 39º aniversário da revolução do 25 de abril, que marcou uma nova era na história de Portugal.
Já sabemos, todos os anos ouvimos ou dizemos que assinalamos a liberdade, o fim da ditadura e o início de um novo paradigma de progresso e de desenvolvimento que leva à melhoria das condições de vida dos portugueses e ao progresso em geral do nosso país.
Os anos foram-se sucedendo, a democracia foi crescendo, amadurecendo e agora apodreceu e o panorama complicou-se.
O diagnóstico está feito, todos sabemos e percebemos o que é que nos levou até aqui, com a corrupção à cabeça, onde o interesse pessoal se tem sobreposto aos desígnios dos povos, com os melhores a ficarem pelo caminho, os mais espertos tomando conta dos aparelhos e dos destinos da coisa pública e o país, que ao invés de produzir, tem consumido e tem-se  consumido. E hoje, não há culpados e todas as culpas morrem solteiras.
 
Feita a síntese do diagnóstico daquilo que nos trouxe até aqui, resta-nos escolher um de dois caminhos: ou o da resignação e da lamúria ou o da coragem e da afirmação pela positiva.
Por isso, importa mais saber olhar o futuro procurando forças, coragem, inteligência e lucidez para nos movermos e estimularmos o próximo a mover-se também, numa cruzada de desinquietação, porventura, das mais difíceis das nossas vidas. E sem resignação, mas inspirados nos propósitos de abril, em busca de soluções para salvarmos a europa, o país, o concelho e nós próprios.
Por isso, não basta dizermos mal, quando sabemos que isto, só muda, quando este governo inverter a tendência teimosa que nos leva para uma aspiral recessiva, agoniante e suicida.
Temos de dizer alto e bom som, em todas as assembleias, em todos os fóruns, que basta de políticas recessivas, que se impõem políticas de incentivo ao tecido económico.
É preciso dizer que as pessoas não são número, que é preciso produzir e manter o Estado Social.
É preciso dizer que estamos cansados de políticas erradas e cansados de nos revoltarmos.
É preciso dizer as vezes que forem necessárias, que os nossos governantes têm de exigir uma Europa mais solidára, uma Europa que começa a ser vista como um sonho a desmoronar-se, quando sabemos e percebemos que é um projecto com futuro,  e que, para todos os países que a compõem é onde tudo começa e onde tudo se pode erguer.
E nesse capítulo, não é novidade para ninguém se dissermos que não pode haver sucesso sem uma mudança do enquadramento europeu, se a União Europeia não avançar no sentido de completar a união económica e monetária. Porque, também não é novidade que a crise está actualmente a gerar níveis de divergência inaceitáveis entre os países da zona euro.
Porque, como dizem os intendidos e nós percebemos, o mais urgente é completar a união bancária e normalizar o acesso ao crédito nas empresas dos países da zona euro em situação problemática. E nesse sentido, o modelo português tem de ser mais competitivo, não pela via da compressão de salários e do efeito recessivo, mas da criação de produtos de valor acrescentado.
E nesse sentido, também percebemos, que há ajustamentos a fazer, sem pôr em causa funções sociais do Estado.
O objectivo de Portugal, no seio da união europeia terá de ser, como se depreende de tudo o que lemos, ouvimos e vemos, o de evitar cair na espiral recessiva para consolidar as finanças públicas, e apostar no crescimento e no pleno regresso aos mercados.
Os nossos governantes têm de pedir à Europa um plano de salvação para Portugal. E isto também já todos percebemos, sem ser especialistas. À semelhança de um plano Marshall, também os países do sul da Europa carecem hoje de uma intervenção desta natureza, com a devida urgência.
Um plano de salvação que injecte dinheiro nos meios de produção e faça de novo revitalizar a economia, sem a deixar cair nos gastos excessivos e no consumismo exacerbado.
Encontrando-nos como nos encontramos, nos destroços de uma guerra de consumismo e capitais virtuais, que nos levaram a viver acima das possibilidades, serve-nos ao menos de emenda, podendo aprender com os erros e assim, levantarmo-nos do chão e seguir novas vidas.
E aqui entra o espirito de luta e de sacrifício de cada um de nós, para se salvar e para salvar o país.
Porque apesar de tudo, a palavra continua a ser uma arma, devemos fazer uso dela e encontrar novos caminhos para salvarmos o que pode ser salvo. Por isso, ao recordar e exultar abril, devemos ter a noção de que precisamos de mais acção política, porque só a política consegue assegurar segurança, justiça e direitos civis.
Porque vemos que estamos a ser governados por inexperientes, que tratam as pessoas como números e afundam diariamente o país, numa lógica de paranóia experimentalista, temos de renovar o espirito de abril e sair em defesa do país e da nossa sobrevivência.
Também todos sabemos que os partidos da governação prometem uma coisa na oposição e fazem outra na governação. Por isso, todos temos o dever de denunciar e procurar evitar que este estilo de política seja erradicado da prática política dos partidos do arco do governo.
Temos de contribuir, no debate político, para que o espirito de missão política volte a fazer parte da prática diária dos governantes, de modo a que estes coloquem os interesses da causa pública à frente dos interesses pessoais.
O país tem futuro, mas o futuro tem de ser construído a partir da essência da democracia que são os partidos e estes têm de deixar de ser feudos de personagens aparelhísticas, sob pena de continuarmos nesta escalada vertiginosa de encontro ao abismo, sem salvação possível.
É importante também, neste dia, reflectirmos sobre os destinos do concelho de Seia, à luz do espirito de abril, quando se impõe arrepiar caminho, para atenuar os danos de uma conjuntura altamente desfavorável e profundamente comprometedora para o progresso do nosso território.
E quando falamos de Seia, falamos do entusiasmo que colocamos e que temos de colocar constantemente no que fazemos, para que o nosso concelho continue a ser uma referência de desenvolvimento regional e um polo de atração e de dinamismo económico, cultural e social.
Falamos inevitavelmente na necessidade de reivindicar permanentemente, incansavelmente junto dos organismos centrais, para vermos satisfeitos programas e projectos a que temos direito por mérito próprio e que são alavanca do nosso desenvolvimento.
Seia reivindica, mas tem de reivindicar cada vez mais. E tem de dar permanentemente sinais de vitalidade, de acção liderante por um lado e descentralizante por outro, para continuar a liderar, como o tem feito.
O Poder local, foi o responsável pelo surto de desenvolvimento no nosso país e em particular no concelho de Seia ao longo destes quase quarenta anos, embora tenha sido seriamente afectado nos últimos dois anos. Muito se fez, muita infraestrutura foi construída, contribuindo decisivamente para a melhoria substancial da qualidade de vida das pessoas.
Poucos concelhos do Interior do país tiveram o surto de desenvolvimento e crescimento que Seia teve nestes anos e por isso, não podemos querer sol na eira e chuva no nabal, ou seja, não podemos reivindicar crescimento e ao mesmo tempo criticar a necessidade de pagar as obras feitas.
É certo que os tempos agora são outros, ou seja, nada favoráveis a construções, todavia, abrem caminhos a novas ideias e projectos criativos e diferenciadores, com a consequente acção em torno deles. Um tempo que dá espaço a conceitos académicos, mas que impõe acção concreta e prática politica, mais do que tecnocrata, que nem sempre dá frutos desejados e imediatos.
E num tempo que não há dinheiro para nada, sobra e tem de sobrar cada vez mais espaço para boas palavras, estímulos e incentivos. Nervo político, e espirito que transcenda a mediania.
Seia faz, mas tem de fazer cada vez mais e melhor. E cada vez com menos, que os tempos são outros.
É preciso dizer a certas pessoas que estão a chegar ao palco político, que Seia não vai lá com soluções á moda antiga, quando não há dinheiro para nada e quando os modelos mudaram e os fundamentos que sustentam o desenvolvimento se alteraram profundamente.
O concelho de Seia vai lá com empatia, responsabilidade, sentido ético e institucional, com entusiasmo e com cada partido a fazer o que lhe compete.
Estamos em ano eleitoral autárquico, o debate que devia ter acontecido nestes 3 últimos anos, e que foi um autêntico vazio dos partidos da oposição, vai ter tendência agora para se acentuar e em vários casos para se azedar até ao outono.
Independentemente da forma, o conteúdo é o mais importante e no caso do nosso concelho, temos de saber reescrever as linhas mestres do nosso caminho.
Temos de pensar o que ainda podemos fazer em matéria cultural, turística, artesanal, agrícola, florestal e de pastorícia, como áreas fundamentais no nosso concelho. Setores produtivos, onde a inovação e a excelência, podem ser determinantes para o crescimento económico local.
E em tempos difíceis como este que atravessamos, julgamos que se propicia caminho para fazer renascer o espirito associativo e acção prática de cidadania, como contributos capazes de fazer fortalecer os laços das nossas comunidades e de revitalizar as manifestações culturais, sociais e desportivas, numa perspectiva diferenciadora. Já há sinais neste sentido, que importa incrementar, num surto galvanizador, capaz de dar mais vida à vida do nosso quotidiano local.
Não podemos cair na demagogia de atacar a cultura como área dispensável, quando tem sido este sector, um dos de maior afirmação do nosso concelho. Há em Seia escolas de excelência e projectos artísticos que despontam nas chamadas indústrias criativas à escala do nosso território.
Há eventos âncora que são referência nacional e internacional e que constituem imagem de marca de Seia e que precisamos valorizar, dando contributos válidos.
Seia não pode parar, porque independentemente das discordâncias políticas, é a terra que nos une.
Seia tem futuro e tem tanto mais, quanto maior for o nosso contributo e menor for o nosso grau de lamúria e de emperramento que a tentação nos dite.
Seia somos todos nós, e só com espirito de abril, de luta, de revolta para dar a volta e de revolução criativa, conseguiremos continuar a manter-nos na frente do desenvolvimento. E ninguém pode dormir na forma, porque da forma que vemos governar o país, todos somos chamados a intervir e a reclamar.
Mário Jorge Branquinho, Partido Socialista
Assembleia Municipal de Seia, 25 de abril de 2013

2 comentários:

luis machado disse...

muito bem, parabéns tocou no essencial e que muitos não gostam de ouvir..as verdades..

Anónimo disse...

PS, PSD, CDS, pouco importa. O que importa é o interesse de classe que servem e representam