Estamos aqui hoje para assinalar o 39º aniversário da
revolução do 25 de abril, que marcou uma nova era na história de Portugal.
Já sabemos, todos os anos ouvimos ou dizemos que assinalamos
a liberdade, o fim da ditadura e o início de um novo paradigma de progresso e
de desenvolvimento que leva à melhoria das condições de vida dos portugueses e
ao progresso em geral do nosso país.
Os anos foram-se sucedendo, a democracia foi crescendo,
amadurecendo e agora apodreceu e o panorama complicou-se.
O diagnóstico está feito, todos sabemos e percebemos o que é
que nos levou até aqui, com a corrupção à cabeça, onde o interesse pessoal se tem
sobreposto aos desígnios dos povos, com os melhores a ficarem pelo caminho, os
mais espertos tomando conta dos aparelhos e dos destinos da coisa pública e o
país, que ao invés de produzir, tem consumido e tem-se consumido. E hoje, não há culpados e todas as
culpas morrem solteiras.
Feita a síntese do diagnóstico daquilo que nos trouxe até
aqui, resta-nos escolher um de dois caminhos: ou o da resignação e da lamúria
ou o da coragem e da afirmação pela positiva.
Por isso, importa mais saber olhar o futuro procurando forças,
coragem, inteligência e lucidez para nos movermos e estimularmos o próximo a mover-se
também, numa cruzada de desinquietação, porventura, das mais difíceis das
nossas vidas. E sem resignação, mas inspirados nos propósitos de abril, em
busca de soluções para salvarmos a europa, o país, o concelho e nós próprios.
Por isso, não basta dizermos mal, quando sabemos que isto, só
muda, quando este governo inverter a tendência teimosa que nos leva para uma
aspiral recessiva, agoniante e suicida.
Temos de dizer alto e bom som, em todas as assembleias, em
todos os fóruns, que basta de políticas recessivas, que se impõem políticas de
incentivo ao tecido económico.
É preciso dizer que as pessoas não são número, que é preciso
produzir e manter o Estado Social.
É preciso dizer que estamos cansados de políticas erradas e
cansados de nos revoltarmos.
É preciso dizer as vezes que forem necessárias, que os nossos
governantes têm de exigir uma Europa mais solidára, uma Europa que começa a ser
vista como um sonho a desmoronar-se, quando sabemos e percebemos que é um
projecto com futuro, e que, para todos
os países que a compõem é onde tudo começa e onde tudo se pode erguer.
E nesse capítulo, não é novidade para ninguém se dissermos
que não pode haver sucesso sem uma mudança do enquadramento europeu, se a União
Europeia não avançar no sentido de completar a união económica e monetária.
Porque, também não é novidade que a crise está actualmente a gerar níveis de
divergência inaceitáveis entre os países da zona euro.
Porque, como dizem os intendidos e nós percebemos, o mais
urgente é completar a união bancária e normalizar o acesso ao crédito nas
empresas dos países da zona euro em situação problemática. E nesse sentido, o
modelo português tem de ser mais competitivo, não pela via da compressão de
salários e do efeito recessivo, mas da criação de produtos de valor
acrescentado.
E nesse sentido, também percebemos, que há ajustamentos a
fazer, sem pôr em causa funções sociais do Estado.
O objectivo de Portugal, no seio da união europeia terá de
ser, como se depreende de tudo o que lemos, ouvimos e vemos, o de evitar cair
na espiral recessiva para consolidar as finanças públicas, e apostar no
crescimento e no pleno regresso aos mercados.
Os nossos governantes têm de pedir à Europa um plano de
salvação para Portugal. E isto também já todos percebemos, sem ser
especialistas. À semelhança de um plano Marshall, também os países do sul da
Europa carecem hoje de uma intervenção desta natureza, com a devida urgência.
Um plano de salvação que injecte dinheiro nos meios de
produção e faça de novo revitalizar a economia, sem a deixar cair nos gastos
excessivos e no consumismo exacerbado.
Encontrando-nos como nos encontramos, nos destroços de uma
guerra de consumismo e capitais virtuais, que nos levaram a viver acima das
possibilidades, serve-nos ao menos de emenda, podendo aprender com os erros e
assim, levantarmo-nos do chão e seguir novas vidas.
E aqui entra o espirito de luta e de sacrifício de cada um de
nós, para se salvar e para salvar o país.
Porque apesar de tudo, a palavra continua a ser uma arma,
devemos fazer uso dela e encontrar novos caminhos para salvarmos o que pode ser
salvo. Por isso, ao recordar e exultar abril, devemos ter a noção de que
precisamos de mais acção política, porque só a política consegue assegurar segurança,
justiça e direitos civis.
Porque vemos que estamos a ser governados por inexperientes,
que tratam as pessoas como números e afundam diariamente o país, numa lógica de
paranóia experimentalista, temos de renovar o espirito de abril e sair em
defesa do país e da nossa sobrevivência.
Também todos sabemos que os partidos da governação prometem
uma coisa na oposição e fazem outra na governação. Por isso, todos temos o
dever de denunciar e procurar evitar que este estilo de política seja
erradicado da prática política dos partidos do arco do governo.
Temos de contribuir, no debate político, para que o espirito
de missão política volte a fazer parte da prática diária dos governantes, de
modo a que estes coloquem os interesses da causa pública à frente dos
interesses pessoais.
O país tem futuro, mas o futuro tem de ser construído a
partir da essência da democracia que são os partidos e estes têm de deixar de
ser feudos de personagens aparelhísticas, sob pena de continuarmos nesta
escalada vertiginosa de encontro ao abismo, sem salvação possível.
É importante também, neste dia, reflectirmos sobre os
destinos do concelho de Seia, à luz do espirito de abril, quando se impõe
arrepiar caminho, para atenuar os danos de uma conjuntura altamente
desfavorável e profundamente comprometedora para o progresso do nosso
território.
E quando falamos de Seia, falamos do entusiasmo que colocamos
e que temos de colocar constantemente no que fazemos, para que o nosso concelho
continue a ser uma referência de desenvolvimento regional e um polo de atração
e de dinamismo económico, cultural e social.
Falamos inevitavelmente na necessidade de reivindicar
permanentemente, incansavelmente junto dos organismos centrais, para vermos
satisfeitos programas e projectos a que temos direito por mérito próprio e que
são alavanca do nosso desenvolvimento.
Seia reivindica, mas tem de reivindicar cada vez mais. E tem
de dar permanentemente sinais de vitalidade, de acção liderante por um lado e
descentralizante por outro, para continuar a liderar, como o tem feito.
O Poder local, foi o responsável pelo surto de
desenvolvimento no nosso país e em particular no concelho de Seia ao longo
destes quase quarenta anos, embora tenha sido seriamente afectado nos últimos
dois anos. Muito se fez, muita infraestrutura foi construída, contribuindo
decisivamente para a melhoria substancial da qualidade de vida das pessoas.
Poucos concelhos do Interior do país tiveram o surto de
desenvolvimento e crescimento que Seia teve nestes anos e por isso, não podemos
querer sol na eira e chuva no nabal, ou seja, não podemos reivindicar
crescimento e ao mesmo tempo criticar a necessidade de pagar as obras feitas.
É certo que os tempos agora são outros, ou seja, nada
favoráveis a construções, todavia, abrem caminhos a novas ideias e projectos
criativos e diferenciadores, com a consequente acção em torno deles. Um tempo
que dá espaço a conceitos académicos, mas que impõe acção concreta e prática
politica, mais do que tecnocrata, que nem sempre dá frutos desejados e
imediatos.
E num tempo que não há dinheiro para nada, sobra e tem de
sobrar cada vez mais espaço para boas palavras, estímulos e incentivos. Nervo
político, e espirito que transcenda a mediania.
Seia faz, mas tem de fazer cada vez mais e melhor. E cada vez
com menos, que os tempos são outros.
É preciso dizer a certas pessoas que estão a chegar ao palco
político, que Seia não vai lá com soluções á moda antiga, quando não há
dinheiro para nada e quando os modelos mudaram e os fundamentos que sustentam o
desenvolvimento se alteraram profundamente.
O concelho de Seia vai lá com empatia, responsabilidade,
sentido ético e institucional, com entusiasmo e com cada partido a fazer o que
lhe compete.
Estamos em ano eleitoral autárquico, o debate que devia ter
acontecido nestes 3 últimos anos, e que foi um autêntico vazio dos partidos da
oposição, vai ter tendência agora para se acentuar e em vários casos para se
azedar até ao outono.
Independentemente da forma, o conteúdo é o mais importante e
no caso do nosso concelho, temos de saber reescrever as linhas mestres do nosso
caminho.
Temos de pensar o que ainda podemos fazer em matéria
cultural, turística, artesanal, agrícola, florestal e de pastorícia, como áreas
fundamentais no nosso concelho. Setores produtivos, onde a inovação e a
excelência, podem ser determinantes para o crescimento económico local.
E em tempos difíceis como este que atravessamos, julgamos que
se propicia caminho para fazer renascer o espirito associativo e acção prática de
cidadania, como contributos capazes de fazer fortalecer os laços das nossas
comunidades e de revitalizar as manifestações culturais, sociais e desportivas,
numa perspectiva diferenciadora. Já há sinais neste sentido, que importa
incrementar, num surto galvanizador, capaz de dar mais vida à vida do nosso
quotidiano local.
Não podemos cair na demagogia de atacar a cultura como área
dispensável, quando tem sido este sector, um dos de maior afirmação do nosso
concelho. Há em Seia escolas de excelência e projectos artísticos que despontam
nas chamadas indústrias criativas à escala do nosso território.
Há eventos âncora que são referência nacional e internacional
e que constituem imagem de marca de Seia e que precisamos valorizar, dando
contributos válidos.
Seia não pode parar, porque independentemente das
discordâncias políticas, é a terra que nos une.
Seia tem futuro e tem tanto mais, quanto maior for o nosso
contributo e menor for o nosso grau de lamúria e de emperramento que a tentação
nos dite.
Seia somos todos nós, e só com espirito de abril, de luta, de
revolta para dar a volta e de revolução criativa, conseguiremos continuar a
manter-nos na frente do desenvolvimento. E ninguém pode dormir na forma, porque
da forma que vemos governar o país, todos somos chamados a intervir e a
reclamar.
Mário Jorge Branquinho, Partido Socialista
2 comentários:
muito bem, parabéns tocou no essencial e que muitos não gostam de ouvir..as verdades..
PS, PSD, CDS, pouco importa. O que importa é o interesse de classe que servem e representam
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