domingo, 10 de fevereiro de 2013

Abismo criativo

Espécie de criativa
 
 
Para o abismo é o que evitamos ir a todo o custo e embora parecendo tema banal e assaz corriqueiro, é o que nos apraz escrever e desenhar, sem tom moralista, mas assim-assim criativo, neste definhar de palavras e de tons que nos embalam. Não é que não tenhamos forças, esperança ou auto-estima suficientes, ou sequer a ideia do ridículo do que afinal representa escrever ou dizer sobre isto que nos cai em cima e de tão difícil descrição.
Mesmo assim, e no introito, do faz-que-não-faz,  faz-se por trocar as voltas desta quase fatalidade em que afinal vamos caindo, em que os dias parecem noites e as noites se prolongam em fugas tenazes a pesarosos ajustamentos, onde teimosamente espreitam fantasmas de descoloridas façanhas, a querer entrar-nos pelas entranhas e nós impotentes e frágeis a assistir a descalabros tamanhos. E tudo isto é estranho e tremendamente novo, grave e sério, sem respostas e com muitas inquietações e perguntas infundadas.  
Dizem que é o país que se afunda e o mundo vai atrás. E nós incrédulos a perscrutar horizontes, neste tempo estranho.  Tempo cinzento e enigmático, este que vivemos, com “cada vez mais gente sem casa e cada vez mais casas sem gente”, como se lê em murais citadinos de muita moral e pouca margem de manobra. Isso incomoda-nos e quase nos dá pesadelos. Isso e tudo aquilo que está a acontecer, em paulatino desmoronamento, sem sentido e sem dó nem piedade, no dealbar de um ciclo, que é tudo menos promissor e encorajador. É uma fase da vida, afinal sem final feliz, que nos impele para desafios em desequilíbrio e sem muito por onde escolher.
Dizem que é a mudança de paradigmas que se impunha em tempos tão conturbados como este, em que tudo muda e “isto e aquilo, tal e coisa e coisa e tal”, e nós a embrulhar e desembrulhar, perscrutando neste corrupio de inquietações à espera que algo aconteça. Mesmo assim, constata-se uma não abdicação do lado desafiador e inconformado das pessoas, - dos resistentes – dos que não desistem e rilham os dentes e cerram os punhos, e procuram arrepiar caminho na desolação. Dos que saem a terreiro, afoitos e ingénuos, desafiando essa adversidade cruelmente emergente e docilmente convidativa a novas paragens. E não se auguram dias melhores, nem prosas mais escorreitas, neste império meio perdido de heróis resistentes. Mesmo assim, emergem bolsas de resistência, sacos de soluções, celeiros de abastecimento público de moral e boas práticas, onde se inscrevem boas intenções, num inferno cheio de boas maneiras, a assinalar desejos. E nesse biltre de laços afetuosos, surgem medidas, ações, revoltas e partos difíceis, em pactos criativos que uns quantos assinalam, em contra-ciclo, para fazer nascer novas vidas e novos rumos.  Renascendo!

 

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