Espécie de criativa
Para o abismo é o que evitamos ir a todo o custo e embora
parecendo tema banal e assaz corriqueiro, é o que nos apraz escrever e
desenhar, sem tom moralista, mas assim-assim criativo, neste definhar de
palavras e de tons que nos embalam. Não é que não tenhamos forças, esperança ou
auto-estima suficientes, ou sequer a ideia do ridículo do que afinal representa
escrever ou dizer sobre isto que nos cai em cima e de tão difícil descrição.
Mesmo assim, e no introito, do faz-que-não-faz, faz-se por trocar as voltas desta quase
fatalidade em que afinal vamos caindo, em que os dias parecem noites e as
noites se prolongam em fugas tenazes a pesarosos ajustamentos, onde
teimosamente espreitam fantasmas de descoloridas façanhas, a querer entrar-nos
pelas entranhas e nós impotentes e frágeis a assistir a descalabros tamanhos. E
tudo isto é estranho e tremendamente novo, grave e sério, sem respostas e com
muitas inquietações e perguntas infundadas.
Dizem que é o país que se afunda e o mundo vai atrás. E nós
incrédulos a perscrutar horizontes, neste tempo estranho. Tempo cinzento e enigmático, este que vivemos,
com “cada vez mais gente sem casa e cada vez mais casas sem gente”, como se lê
em murais citadinos de muita moral e pouca margem de manobra. Isso incomoda-nos
e quase nos dá pesadelos. Isso e tudo aquilo que está a acontecer, em paulatino
desmoronamento, sem sentido e sem dó nem piedade, no dealbar de um ciclo, que é
tudo menos promissor e encorajador. É uma fase da vida, afinal sem final feliz,
que nos impele para desafios em desequilíbrio e sem muito por onde escolher.
Dizem que é a mudança de paradigmas que se impunha em tempos
tão conturbados como este, em que tudo muda e “isto e aquilo, tal e coisa e
coisa e tal”, e nós a embrulhar e desembrulhar, perscrutando neste corrupio de
inquietações à espera que algo aconteça. Mesmo assim, constata-se uma não
abdicação do lado desafiador e inconformado das pessoas, - dos resistentes –
dos que não desistem e rilham os dentes e cerram os punhos, e procuram arrepiar
caminho na desolação. Dos que saem a terreiro, afoitos e ingénuos, desafiando
essa adversidade cruelmente emergente e docilmente convidativa a novas
paragens. E não se auguram dias melhores, nem prosas mais escorreitas, neste
império meio perdido de heróis resistentes. Mesmo assim, emergem bolsas de
resistência, sacos de soluções, celeiros de abastecimento público de moral e
boas práticas, onde se inscrevem boas intenções, num inferno cheio de boas
maneiras, a assinalar desejos. E nesse biltre de laços afetuosos, surgem
medidas, ações, revoltas e partos difíceis, em pactos criativos que uns quantos
assinalam, em contra-ciclo, para fazer nascer novas vidas e novos rumos. Renascendo!
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