Esta cidade com a serra ao fundo, ou esta montanha com a
cidade no sopé. É assim Seia, uma cidade pequena, ou uma vila de tamanho maior, que em certos dias cresce um pouco mais e se agita, e noutros fica quase sem ninguém na rua. Sinais dos tempos.
Hoje, porém, quarta-feira, a primeira de agosto, em dia de
feira semanal, registou-se grande movimento matinal na sua principal artéria, a
avenida 1º de Maio. De manhã, pelo menos, notava-se mais a presença maciça de emigrantes, que são
cada vez em maior número. Pessoas de Seia, mas certamente das várias aldeias do concelho que se vão despovoando ao longo dos anos. Emigrantes que encheram hoje e enchem por estes dias as lojas de comércio da pequena cidade, onde os cafés abarrotam e onde não há mãos a medir.
Pensei que muitas das tais quatro mil e tal pessoas do concelho que se foram embora entre 2000 e 2010 e das mil ou duas mil que partiram nos últimos dois anos, muitas estão
agora por aqui também, de carro novo, calção e sandália, poder de compra e
sotaque.
Num dos sítios da avenida onde parei, ouvi uma senhora dizer
assim ao homem, que devia ser marido - Ai João, já não conheço ninguém. E o
marido, supostamente marido, a responder-lhe assim, meio à bruta – eu não, já tou
farto de distribuir bacalhau. Estou farto de ver gente conhecida.
Mais adiante, no meio do carreiro de gente à pinha, a
caminhar do lado da sombra da avenida, ainda ouço uma senhora dizer que em
França é que é. Que lá as coisas são diferentes. A gente trabalha, mas vê o
dinheiro ao fim do mês. Pois é - responde a outra - a brincar a brincar, só em
pequenas coisas, esta manhã já gastei 400 euros. Também chegámos ontem e não tínhamos
nada lá em casa. E continuam a falar e eu continuo a caminhar até deixar de as
ouvir.
E passo junto à feira e levo com o perfume das bifanas e grelhados
que se vão fazendo lá em baixo junto às barracas, onde também não faltam
tintos, brancos e traçados e amendoins e tremoços e coiratos e petiscos e
outras coisas assim. E houve-se o cigano a oferecer duas camisolas pelo preço
de uma, ou mais adiante um cliente a regatear o preço de umas alpercatas e por
aí fora, nesta feira de farrapos que se faz há décadas, e que por estas alturas
triplica de clientes. No ar há música pimba e cheio a suor, quando a sirene dos
bombeiros já dá meio dia. E Seia, no sopé da serra, tem por estes dias nova
vida. Novas vidas, por uns dias até voltar a normalidade.
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