Uma espécie de criativa
Hoje esteve um dia de sol, daqueles em que debaixo do manto
diáfano de ténues nuvens intrometidas, se escondia um breve conceito de brisa
morna, a modos de adornar a pressa e as preces, numa espécie de calmaria, sem
azo a grandes desventuras ou desaforos.
Ou dito de outro modo – esteve um dia passado em brasas, sem
direito a céu azul, mas com acesso a descontos emocionais, por via de um sol
escondido amiúde debaixo das ténues nuvens a rolar sem pedir licença e sem
vontade de falarmos.
Ou dito ainda de outro modo – hoje fez um tempo tonto, de
modo a deixar zonzos e a deixar passar por baixo de nuvens intrometidas e de
uma brisa morna que escalda a pressa e foi entornando o apetite para encarar
certas veleidades.
Ou seja, o tempo esteve para o tempo, como o tempo esteve
para nós, sem percebermos bem se afinal é o tempo que nos molda ou se a nossa
moldura não assenta nessa réstia a que chamam tempo. Mas mesmo assim, na breve
dúvida que assiste, neste emaranhado de sensibilidades atmosféricas, há
contemplação que vai além das mornas brisas deambulantes nestas encostas despidas
de afetos, a dar espaço e tempo, para ver o que acontece.
Podemos esperar sentados, com nuvens ou sem nuvens, com
brisa de serra, no veraneio do tempo, ou rolando no colorido amarelado dos
campos secos, encosta acima ou perdendo o norte.
Podemos até subir às árvores, tirar a temperatura ao vento,
gritar ao mundo e voltar a descer, na frágil ilusão dos dias quentes de nuvens
mornas, brisas doces e olhares langues.
Podemos acreditar nas previsões e enrolar na brisa que passa
a nossa teimosa esperança, de que tudo comece a partir do zero do
contentamento, a partir das nuvens e a partir do tempo que faz ou fez. Até
podemos querer e crer que surja no meio ou no fim, a doce consolação de termos
sido suficientemente lúcidos a tentar decifrar o emaranhado górdio desta
improvável declaração de impasse. Até pode ser. Só não sei se adianta alguma
coisa estar com este tipo de conversa numa altura destas!
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