Aceitando o desafio provocador do jornal Porta da Estrela para apresentar ideias ou propostas para o futuro da Cidade e/ou do Concelho de Seia, coloco-me desde logo no papel de quem quer fazer um exercício de reflexão sobre o que deve ser feito para o reforço do desenvolvimento do nosso território.
Nunca como agora houve tanta necessidade de fabricar ideias em prol do progresso. E assim, não surpreenderá se vivermos num clima de chuva de ideias permanente, na linha de Edward de Bono. A mesma linha que eleva o pensamento criativo como forma construtiva de evolução e que sublinha a importância de romper com padrões dominantes.
Contudo, quem vive na frente de combate, no exercício do poder, tem dois tempos perfeitamente definidos – o tempo do pensamento e o tempo da acção. Pode o primeiro levar um ou dois anos, mas a partir daí tem de surgir o segundo, que leva aos resultados práticos, sob pena de se passar o tempo com boas ideias, boas intenções, sem uma concretização efectiva. E Seia, como em qualquer outro território, embora tenha que romper-se com padrões dominantes e tenha de introduzir-se novas formas de exercício de poder - porque os tempos e as realidades são outras – julgo que chegamos a esse tempo de transição de tempos!
Neste contexto e partindo do pressuposto de que a política e a economia são a arte dos incentivos, não será de descorar a ideia de que a frente de combate pelo desenvolvimento terá de envolver os diversos agentes da comunidade, num espírito de mobilização colectiva, da criação de uma linha de rumo por uma causa comum e do incremento de um sentido de missão colectiva, onde todos se sintam parte integrante dessa construção.
Alavancados neste espírito, mais do que construir obra física, impõe-se a criação de condições para o incremento de pequenos negócios, de actividades produtivas, com efeito multiplicador, de modo a gerar emprego e a criar riqueza.
Dito assim, parece fácil e banal, no entanto há um conjunto de ferramentas que poderão ser determinantes para que as tais ideias e intenções possam ser consequentes e exequíveis. Desde logo, pode ser importante a criação de um Conselho Municipal de Desenvolvimento Económico, de que venho falando há vários anos, onde periodicamente se reúnam os vários parceiros da comunidade para lançar estratégias, concretizar objectivos e avaliar resultados. E no seio desse Conselho Municipal, poderá ser criada uma rede de jovens agentes de desenvolvimento, aproveitando estagiários de várias áreas, para partirem para o terreno, estimulando, encorajando, acompanhando e encaminhando potenciais empreendedores, a quem pontualmente a autarquia poderá, ou não, disponibilizar também apoio técnico e material.
Há áreas profissionais que terão de ser dignificadas. A pastorícia é uma delas, assim como alguns sectores agro-alimentares. Um jovem que pense em dedicar-se à pastorícia não tem necessariamente de pensar que vai ser escravo, ter uma vida indigna de segunda a segunda, sem férias nem descanso e de que tem de envolver nessa labuta toda a família. Um projecto de pastorícia tem de ser encarado como um projecto empresarial normal - um investimento que contemple instalações condignas, mecanismos de ordenha (ou venda do leite para as fábricas), arrendamento de pastos, criação de dois ou três postos de trabalho para a guarda do rebanho, e por aí fora!
Se for feito um bom trabalho onde se explique como ultrapassar barreiras, onde se facilite burocracia e onde se encoraje as pessoas e se crie um clima de estímulo e confiança, pode ajudar a incrementar novas actividades.
Por outro lado, o Concelho de Seia já está dotado de uma boa rede de equipamentos de utilização colectiva, precisando agora também de ideias inovadoras que por um lado rentabilizem esses mesmos equipamentos e por outro estimulem igualmente o espírito empreendedor das pessoas em geral e dos jovens em particular.
Mário Jorge Branquinho
texto publicado no Jornal Porta da Estrela de 30 de Junho de 2011
1 comentário:
essa ideia da pastoricia pareece me muito positiva ate porque o queijo e requeijao da Serra da Estrela sao ja marca referenciada...
eugenio
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