quarta-feira, 12 de março de 2014

Gerir, conservar, reivindicar e abrir novos caminhos



O Poder Local tem sido ao longo das últimas quase 4 décadas uma grande mola impulsionadora do desenvolvimento das regiões do nosso país. Com o passar dos anos, as vicissitudes vão-se alterando. Hoje, por exemplo, governar uma Câmara Municipal, como é o caso de Seia, é em minha opinião, assentar a ação política em 4 vetores fundamentais: gerir, conservar, reivindicar e abrir novos caminhos.

Apesar do município ter um orçamento da ordem dos 20 milhões de euros, face à situação financeira, com pagamento da divida e de outros encargos fixos, como sejam ordenados, águas, resíduos, eletricidade e outros, sobra pouco mais de um milhão de euros. Neste sentido, quase que se pode dizer que o Presidente será um gestor de pouco mais de 1 milhão de euros em Opções do Plano. Ou seja, é preciso procurar fazer muito, com pouco dinheiro e muita imaginação, como se tem visto até aqui.

Outro vetor importante é o da conservação dos equipamentos existentes, bem como a sua dinamização. Essa é uma tarefa complexa, face à escassez de recursos, mas mesmo assim, importa continuar a desenvolver mecanismos de dinamização e de incremento de atividades, para dar vitalidade ao concelho. Falamos de equipamentos importantes no quadro de dinamização cultural e desportiva como sejam museus, CISE, Biblioteca, Casa da Cultura, Pavilhões, etc.

Em simultâneo, julgamos de elementar importância o peso politico na reivindicação junto do Governo para manter serviços da Administração Central, como sejam o Hospital, o Centro de Emprego, o Tribunal, a Escola de Turismo e Hotelaria e outros serviços, com a qualidade que os cidadãos deste concelho merecem. Ou reivindicando vias de comunicação em falta, como os Itinerários da Serra da Estrela ou novos serviços da administração central.

Por aqui o Município de Seia liderado por Carlos Filipe Camelo também tem feito o seu caminho, embora esbarre muitas vezes no muro do silêncio dos vários Ministérios. O que na atual conjuntura se verifica é que os Ministros ou não recebem os Presidentes de Câmara ou nem sequer lhes dão respostas a solicitações, tal tem sido a estratégia de afunilamento de governação do país e em particular do Interior. Não bastava o forte ataque que este governo tem feito ao Poder Local, para se constatar esta falta de abertura ao que é reivindicado, independentemente das cores partidárias de cada município.

Mesmo assim, a luta tem de continuar e as reivindicações devem acentuar-se, em defesa das populações destas regiões deprimidas, pelo seu isolamento.

Por último, cabe às autarquia abrir novos caminhos para captar investimentos e gerar riqueza, face a desafios surgidos num quadro de mudança de paradigmas. As receitas de ontem não são mais as mesmas para os problemas de hoje e os erros do passado devem servir para corrigir estratégias. É preciso captar investimentos e embora a indústria têxtil e calçado deem sinais de solidez no mercado atual, há outros caminhos que devem continuar a ser seguidos, no quadro estratégico rumo ao ano 20. E um dos caminhos será certamente pela via da valorização do setor primário, com incremento de produtos agroalimentares e de pastorícia, associados ao setor turístico, a precisar de novo empurrão. Iniciativas incrementadas numa lógica de partenariado e viradas para o resultado, assentando sobretudo nos efeitos diferenciadores, em lógicas de competitividade saudável e coesão territorial indispensável.

É certo que vamos ter nos próximos 4 anos algum dinamismo na economia local com a construção da barragem de Girabolhos, mas em simultâneo teremos de continuar a procurar novos investimentos, que é quem nos pode salvar, travando a saída de pessoas, fixando-as pelo emprego. Porque hoje, já não é só o Interior do país que sofre o flagelo da saída de pessoas para o estrangeiro, mas o país todo, com a debandada de mais de 120 mil pessoas por ano e uma grande parte com cursos de formação superior.

Neste contexto, de várias frentes de combate, há ainda que ter coragem e resistir, resistindo, para continuar a viver no Interior, para continuar no país!



Artigo publicado na última edição do Jornal porta da Estrela.

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