Uma espécie de criativa
De que se fala quando não se quer usar termos fortes, se o que se pensa não é o que se diz? De que adiante aprofundar questões, se o que conta é a superficial comezaina dos dias e a espuma virtuosa que embala o discurso e se mostra pomposa no dia-a-dia que passa?
De que fulgor é feito afinal o desejo de querer mais, sempre mais, se por meros acasos se chega ao fulcro e se faz ver que afinal não custou nada chegar, ver e vencer?
De que vale à gente ter carro, casa, emprego, se não tem o melhor, que é a oportunidade de molhar a sopa no mel da vida, servida num balde de felicidade em moldes de fantasia?Percebem?
E fará sentido falar destas ausências virtudes individuais, se no plano colectivo estamos tramados e apalermados a ver desabar o mundo?
E fará sentido falar de moralismos ou falsos proselitismos ou mesmo fazer estas perguntas todas?
É que, tudo isto é muito bonito, mas o que se ouve dizer é que a felicidade é um conceito vago e cada vez mais arredio do quotidiano. Que antes se morria de miséria e agora se morre por comer muito, ou de colesterol, de diabetes ou do “diabo a quatro”!
E isto para não falar das injustiças, dos que têm tudo e tudo lhes é permitido e perdoado e dos que não têm nada e tudo lhes é exigido.
E depois espantam-se quando se diz que isto está a ficar perigoso.
Quem é que aguenta ver tanta roubalheira nos bancos se quem deve pouco tem de pagar sempre e no prazo, com língua de palmo?
Quem é que não se revolta com o que vê à volta?
Enfim, como diz o Joaquim, resta-nos a esperança de que até ao fim do ano uma morna brisa aqueça esta coisa da economia e dê passagem para a sobrevivência de milhares no mundo, quando se percebe agora que o abismo do capitalismo se aproxima, quando enfim o mundo nunca mais dá resposta às perguntas e aos amargos de boca de quem quer e não pode andar.
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