sexta-feira, 13 de março de 2009

Qualquer coisinha da minha vida

Um destes dias, Artur Abreu enviou-me um questionário para a rública "QUALQUER COISA DA MINHA VIDA" do S_21 - Suplemento Cultural da OHs XXI - Fevereiro / 2009 - nº 32 , de Oliveira do Hospital, que é parte integrante do Jornal Correio da Beira Serra e que aqui publico, com a devida vénia:
1- A dinâmica cultural de Seia é única no contexto da Beira Serra. Foram os hábitos do concelho que exigiram um programador cultural ou foi o aparecimento deste que formou o público?
O fenómeno da programação cultural de Seia deve-se ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido ao longo dos últimos anos, criando hábitos culturais e novos públicos, através de uma programação regular, permanente e diversificada.
No meu caso particular, o que posso dizer é que fui durante vários anos adjunto do Presidente da Câmara e a dada altura pedi transferência desse cargo para dar vida à Casa Municipal da Cultura de Seia, uma vez que até aí, final de 2001, aquele edifício comportava o cinema e acolhia outras acções esporádicas. Ou seja, a partir de Fevereiro de 2002 assumi o papel de programador da Casa Municipal da Cultura, juntando aí todo um leque de eventos distribuídos ao longo do ano e atravessando várias áreas artísticas.
Em termos de gestão, pode-se dizer que a tarefa foi facilitada com a criação da Empresa Municipal, que em articulação com a Divisão de Cultura do Município desenvolve um trabalho consistente e planeado.

2- Quais são os três principais atributos necessários para formar um bom programador cultural?
Um dos propósitos essenciais, em minha opinião é proporcionar condições para a qualidade do produto cultural se manter a um certo nível elevado, evitando elitismos ou populismos, equilibrando a oferta para os diversos públicos do concelho.
As programações culturais, além de assentarem em contratos tipo “chave na mão”, como acontece também em Seia, devem incluir manifestações das colectividades, na perspectiva de promoção de oportunidades dos agentes locais, não descurando nunca a ideia de que programar significa – “Promover encontros felizes entre um produto cultural e o público”.
A comunidade Educativa deve também ser privilegiada no acesso às iniciativas, fortalecendo-se para tanto os laços com as escolas, numa lógica de acção pedagógica junto das camadas jovens, através de programas educativos diversificados.

3- Programar com qualidade é uma questão de ter dinheiro ou imaginação? E entre o arrojo e coragem ou uma boa agenda de contactos, qual é o mais importante?
Julgo que é importante ter alguma disponibilidade financeira, mas também espírito de iniciativa, criatividade e afectividade.
No caso de Seia, tem de dizer-se que em primeiro lugar houve uma aposta prioritária neste sector por parte do Presidente da Câmara. Essa é a condição principal e decisiva. A partir daí, cabe-nos a nós, agentes de desenvolvimento, fazer corresponder as iniciativas à decisão política. Foi o que fizemos. No meu caso,
tenho aproveitado a “experiência do terreno” para ajudar a implementar uma rede de programação consistente no concelho de Seia. Nalguns casos, convidámos personalidades para a direcção técnica de alguns festivais, como é o caso do Cinema e do Jazz e Blues.

4- Artes plásticas, jazz, cinema, publicidade, stand up comedy… De que forma convivem as modernas formas de arte com a cultura tradicional? A vanguarda é compatível com a tradição? E qual delas recebe a preferência do público de Seia?
Em Seia tem havido uma preocupação de equilíbrio na oferta cultural de modo a satisfazer os vários públicos.
Por um lado, desafiamos os criadores locais e proporcionamos condições para revelarem o seu trabalho, como acontece na área da pintura e da fotografia, assim como da música e do teatro. Chegamos a ter cerca de meia centena de artistas locais na ARTIS. Temos um grupo de teatro amador residente na Casa da Cultura que tem apresentado trabalhos excelentes. Todos os anos promovemos um curso de iniciação teatral, que de ano para ano tem vindo em crescendo, em termos de inscrições. Este ano, a adesão foi tanta que tivemos de criar duas turmas. Tenho para mim que um programador não deve limitar-se a acolher e a agendar eventos, mas deve ser também parceiro do desenvolvimento artístico. Deve ser cúmplice dos criadores e envolver-se no processo criativo.
Por outro lado, seguimos uma orientação multicultural, pondo em confronto visões do mundo antagónicas em diversos registos. Daí o confronto e tensão saudável de culturas, de géneros e estilos, mas também a satisfação de oferta diversificada. Em suma, o município cumpre o seu papel de agente que cria condições de oferta de vários “bem culturais”, deixando às pessoas a liberdade suficiente de usufruto. E este é também o grande desafio do programador – despertar o interesse e levá-lo à salas e outros espaços de fruição.

5- Artis, Seia Jazz & Blues, CineEco, Stand Up Comedy, Festival de Publicidade… Há algum filho dilecto entre os certames que ajudou a erguer?
Uma cidade deve ter eventos fortes que proporcionem momentos felizes aos públicos, mas que ao mesmo tempo sejam factores de afirmação desse território. No caso de Seia isso tem acontecido com os vários certames, embora nuns casos com mais peso do que noutros. O Cine’Eco vai fazer agora quinze anos, está a atingir uma dimensão internacional respeitável e é um caso de estudo. Está a deixar marcas profundas no que se refere à área do cinema e sobretudo na educação ambiental. Foi a partir deste festival que se construiu o CISE, que é o Centro de Interpretação da Serra da Estrela, uma estrutura de excelência que Seia dispõe.


6- As pessoas frequentam a cultura por interesse genuíno e curiosidade ou porque é moda e fica bem aparecer. A definição está correcta? Qual a que melhor se aplica ao público da região?
Eu penso que a adesão tem sido espontânea, o que é gratificante. No entanto isso faz com que um determinado evento desperte muito interesse e grandes adesões, mas também o contrário. E programar é isso mesmo, é sentir a “angustia do guarda-redes antes do penaltie”, correndo o risco de ver muita gente a acorrer ao espectáculo ou ter muito pouca gente, sem ter a tentação de programar apenas para as multidões.,

7- Na caminhada pelo roteiro da inovação cultural qual é o próximo passo a ser dado?
Eu penso que os concelhos devem apostar cada vez mais neste sector, aliado aquilo a que hoje está muito na moda e que são as indústrias criativas.
Com a crise que se tem instalado nos vários sectores económicos da sociedade, este é um caminho que pode ser seguido, com os pés bem assentes na terra, mas de forma decisiva.
A criação de residências artísticas pode ser uma aposta decisiva, atraindo criadores e dinamizando o território do ponto de vista criativo, envolvendo as comunidades nesse processo
, mas ao mesmo tempo projectando os concelhos no contexto nacional e internacional.
O ensino artístico e a “educação criativa” são também factores decisivos no processo de desenvolvimento cultural e social das cidades de pequena dimensão.

3 comentários:

Antonio Fernandes Pina disse...

Não tenho dúvidas:- O Senhor Dr. M.J.B. é um programador cultural de excelência.
Não tenho dúvidas:- O concelho de Seia ficar-lhe-à inteiramente grato pelo trabalho que tão brilhantemente vem desenvolvendo.
Não tenho dúvidas:- Hoje o Senhor é uma referência e um exemplo a seguir.
Não tenho dúvidas:- A sua humildade e carácter fazem de si um grande Homem.
Não tenho dúvidas:- O Senhor ficará na história Senense e do País.
Não tenho dúvidas:- Os Senenses e o País precisam de si.
Estas palavras poderão parecer aos olhos de muitos que as digo sem sentimento, mas dir-lhe-ei, sem sombra de dúvida, que elas estão dentro de mim.
Estou velho e cansado e como sabe não procuro quaisquer contrapartidas. Procuro sim afirmar o meu pensamento que possa contribuir de alguma forma para uma sociedade mais justa e fraterna.
Conheço o Mundo que me rodeia e o que posso garantir é que no concelho de Seia a cultura não é politizada.
Vivemos hoje num concelho e num País modernos. Passamos por grandes dificuldades provocadas pelas crises que atravessam a Europa e o Mundo mas tenho esperança que ela vai passar e que os Portugueses conseguirão entrar numa nova era de franca expansão. Eu acredito.
Os meus sinceros parabéns Dr.M.J.B.

Receba um grande abraço

Do sempre amigo

Assina: António Fernandes Pina.

Antonio Fernandes Pina disse...

Não tenho dúvidas:- O Senhor Dr. M.J.B. é um programador cultural de excelência.
Não tenho dúvidas:- O concelho de Seia ficar-lhe-à inteiramente grato pelo trabalho que tão brilhantemente vem desenvolvendo.
Não tenho dúvidas:- Hoje o Senhor é uma referência e um exemplo a seguir.
Não tenho dúvidas:- A sua humildade e carácter fazem de si um grande Homem.
Não tenho dúvidas:- O Senhor ficará na história Senense e do País.
Não tenho dúvidas:- Os Senenses e o País precisam de si.
Estas palavras poderão parecer aos olhos de muitos que as digo sem sentimento, mas dir-lhe-ei, sem sombra de dúvida, que elas estão dentro de mim.
Estou velho e cansado e como sabe não procuro quaisquer contrapartidas. Procuro sim afirmar o meu pensamento que possa contribuir de alguma forma para uma sociedade mais justa e fraterna.
Conheço o Mundo que me rodeia e o que posso garantir é que no concelho de Seia a cultura não é politizada.
Vivemos hoje num concelho e num País modernos. Passamos por grandes dificuldades provocadas pelas crises que atravessam a Europa e o Mundo mas tenho esperança que ela vai passar e que os Portugueses conseguirão entrar numa nova era de franca expansão. Eu acredito.
Os meus sinceros parabéns Dr.M.J.B.

Receba um grande abraço

Do sempre amigo

Assina: António Fernandes Pina.

Sérgio Reis disse...

Concordo absolutamente com António Fernandes Pina e acrescento que, seja de que perspectiva for, uma visão justa dos últimos vinte anos senenses incluirá sempre o Dr. Mário Jorge Branquinho, não só como programador, mas sobretudo como raiz e centro nevrálgico de um impressivo movimento de renovação cultural em Seia. Muitas vezes, ele foi a mola impulsionadora e o trabalhador incansável da actual identidade cultural do concelho (que Artur Abreu evoca com admiração no questionário), acumulando afazeres, desdobrando-se em actividades e responsabilidades, e mesmo assim sempre disponível para novos desafios. Recorde-se a organização do Debate sobre o Estado da Cultura em Seia, em Maio de 1994, que representou na prática uma viragem importante, ou a criação da Associação de Arte e Imagem de Seia, ou a preparação e dinamização de actividades muito para além dos meros horários de trabalho, com sacrifícios pessoais e familiares, ou a inegável dinâmica imprimida à Casa Municipal da Cultura (que ficou vazia e esfriou ainda antes de fechar para obras)e também o estilo afectivo e "cúmplice" dessa dinâmica, ou o envolvimento empenhado com as mais diversas colectividades e criadores de todas as áreas.
E isto apenas na área da cultura (onde também participa como autor, com dois livros publicados, e fotógrafo amador premiado), pois outra obra importante vem desenvolvendo noutras áreas, com destaque para a solidariedade social - através da Associação de Beneficência do Sabugueiro, sua terra natal. Porque a verdadeira Cultura não é feita só de livros, obras-primas, sinfonias.

Sérgio Reis