terça-feira, 20 de março de 2012

O Idoso no século XXI – Como o tempo passa!


* para ler e refletir, com tempo!


E pronto, quase sem dar por isso, a pessoa passa pela vida, por vários ciclos da vida e chega a pontos de pensar que já tem pouco tempo à frente para gozar essa mesma vida, ou olhar o futuro com confiança. É o tempo que vai faltando, esse tempo que tinha de sobra, quando espreitava a rotina da vida, nesse ritmo que não abrandava e que apenas ia dando sinais das etapas de um calendário em delírio.

O tempo, sempre o tempo, esse mesmo que antes sobrava e que agora tanta falta faz, na dor lida que o sustem, quando a agonia se afunda à medida que se mira ao longe o fim.

Tantas vezes acompanhado, como outras desamparado ou incompreendido, mas sempre meio angustiado, não por ser trapo, mas se julgar fardo, sendo ou não inválido, gasto ou empedernido e nem sempre perdido.

Quantos laços desfeitos, quantas famílias enfim, ao largo, desamarradas de gerações e de obrigações, que os estilos de vida tecem e as correrias da sobrevivência financeira obrigam.

Em pleno século XXI, no emaranhado de obrigações e de rótulos, que leva tantas vezes à incerteza do caminho, seja velho, idoso ou sénior, nota-se que vive e vai vivendo, esse que tem anos a mais de experiência e lhe sobra em paciência. O mesmo que prefere a solidão à confusão, ou que não se importa de trocar um sorriso espontâneo por um abraço forçado de ocasião. Ou que trauteia nessa imensa e permanente novidade a que chamam esperança de vida, que de tão curtas, uma e outra – a esperança e a vida - mais parecem invisíveis ou inexistentes. Mas mesmo assim, trauteiam e seguem e não se importam do caminho, ou do canto aonde os arrumam, como que atirados ao fundo de um baú ou a um sótão cimeiro, à espera do dia da partida. E que aconteça de vez, no célere desejo de partilhas, já que pode não haver tempo para tratar de quem precisa, mas sobrar para a faina de açambarcar daquilo que vai deixar.

Assim vai, quem já passou por tudo, ou quase tudo. E assim se sente – parto não parto, mais um dia, mais uma vitória – e segue o caminho e cada dia uma conquista.

No fim de tudo, é entre esse efémero tempo passado e o curto que ainda sobra, que parece jorrar a inaudita vontade de andar, de ouvir, de ser e ainda amar, ao mesmo tempo sonhar, forçado ou não, e sorrir para não atrapalhar. Mas seja como for, há planos e projetos, programas e arquétipos, em nome de uma vida melhor e promessas de conforto e de qualidade de vida. E tanto uns como outros, os novos que dão ou querem dar e fazem por acreditar e os tais velhos, vão indo, espreitando, empurrando ou levados na doce ternura de quem não tem tempo para mais. Porque há uma certeza - agora há mais conforto e beleza, não há é tempo para nada, que o tempo passa a correr e a vida também!

Mário Jorge Branquinho
Seia, 14 de Fevereiro de 2012

Escrito a pedido, para o jornal do Agrupamento de Escolas de Seia

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