O Jornal A Guarda, um dia destes entrevistou-me. Primeiro hesitei, porque dar entrevistas é expormo-nos demais e dar azo aos que nos querem mal a revelaram os seus ódios de estimação. Mas pronto, acedi. Também há mais de vinte anos que me exponho, não vai ser agora que me retraio.
SECÇÃO: Entrevista
Mário Jorge Branquinho, responsável pela Casa Municipal da Cultura de Seia
O município de Seia tem “um conjunto de eventos âncora, dos quais se destacam o Cine’Eco, o “Seia Jazz & Blues”, a ARTIS”
A Guarda: Quem é Mário Jorge Branquinho?
Mário Jorge Branquinho: Sou um simples cidadão do mundo, que olha para a vida pelo lado positivo. Que procura fazer por si, pelos seus e pala comunidade. Um cidadão inconformado, que não está bem com o que tem, ou com o que faz e se faz com frequência ao caminho. Que tem horror à apatia, ao conformismo e ao burocrata manga-de-alpaca e abomina a arrogância e a prepotência. Alguém que procura pensar, dizer e escrever, mas sobretudo fazer! Enfim, alguém que agita consciências, que ainda acredita no espírito de missão e procura dar sentido às coisas que faz e às causas que abraça. Às vezes revejo-me como uma pessoa de oito ofícios todos alinhadinhos, sem grande dispersão, mas com empenhamento e dedicação em mais de 12 horas diárias. Mesmo assim sobra-me tempo para escrever o que penso no blogue pessoal – seiaportugal.
A Guarda: Que ligação tem a Seia?
Mário Jorge Branquinho: Nasci no Sabugueiro, a 1.100 metros de altitude, onde vivi até à maioridade. Daí para cá vivo em Seia, mas não deixo de subir quase todos os dias os 10 quilómetros de estrada em direcção à serra.Seia tem a particularidade de ser uma pequena cidade no sopé da Serra, onde muito se tem feito, mas onde há um imenso espaço para a criatividade e inovação. Ciente disso, tenho-me dedicado ao longo de mais de vinte anos, a diversas causas culturais e sociais, quer no plano profissional quer num quadro de cidadania.
A Guarda: Qual a sua ocupação profissional?
Mário Jorge Branquinho: Sou Técnico Superior da Divisão de Cultura do Município de Seia, desempenhando funções de responsável da Casa Municipal da Cultura.
A Guarda: Como aparece a sua ligação à Casa Municipal da Cultura de Seia e desde quando exerce as funções de programador?
Mário Jorge Branquinho: Eu fui durante vários anos assessor do Presidente do Município e nesse quadro procurei desenvolver vários projectos culturais para o concelho. Foi aí que procurei meios e apoios políticos dos executivos para a implementação de diversos eventos e manifestações artísticas na cidade e que fazem hoje parte do calendário concelhio.Há cerca de 8 anos pedi para deixar o cargo de Adjunto do Presidente da Câmara para me dedicar por inteiro à dinamização da Casa Municipal da Cultura de Seia. Daí para cá, temos vindo a desenvolver uma programação planeada e consistente e que vai de encontro aos vários públicos. O que complicou foram as obras que se atrasaram e cortaram a dinâmica empreendida, mas agora tudo isso está ultrapassado.
A Guarda: Que actividades são desenvolvidas pela Casa Municipal da Cultura?
Mário Jorge Branquinho: No quadro da programação anual, o Município tem hoje na Casa Municipal da Cultura um conjunto de eventos âncora, dos quais se destacam o Cine’Eco, o “Seia Jazz & Blues”, a ARTIS, o Encontro de Folclore, para além da programação pontual ao longo do ano, nas várias áreas: Teatro, dança, música, cinema, artes plásticas.Sendo a programação cultural, o meio pelo qual uma determinada entidade apresenta a sua ideia de cultura, julgo que o Município de Seia tem dado ao longo destes anos, um bom exemplo do que deve ser feito neste domínio. A dinâmica empreendida tem sido significativa e tem proporcionado encontros felizes dos públicos com os vários espectáculos e demais criações, além de promover o concelho como território atractivo e moderno. Na área do teatro, por exemplo o Município organiza anualmente o Motin, que é uma Mostra de Teatro que envolve os alunos das várias escolas do concelho, além de um curso de iniciação teatral realizado anualmente. Daqui tem resultado, por um lado formação de públicos e por outro a preparação das pessoas na área do teatro, sobretudo jovens. O Grupo “Senna em Palco”, residente na Casa Municipal da Cultura é também já o resultado da aposta do município nesta área.Na interacção com a comunidade, o Município apoia igualmente alguns festivais e eventos pontuais realizados na Casa da Cultura - Festival de Música Coral, Festival de Orquestras de Musica Ligeira, Festival da Canção Jovem e Festival de Tunas. Para este ano e até 2012 o município aderiu a um pacote de programação cultural em rede, (CULTREDE) com mais 16 municípios, para acesso a financiamento comunitário que lhe permite reduzir a factura na programação e proporcionar novos espectáculos. Além da programação já definida para este ano, há a destacar a adesão do município às comemorações do Centenário da República, que contempla vários espectáculos, exposições e outras iniciativas.
A Guarda: Que balanço faz da edição deste ano do Festival “Seia Jazz & Blues”?
Mário Jorge Branquinho: É um balanço francamente positivo. Mais uma vez o Município proporcionou ao público de Seia e da região dois grandes concertos – na sexta-feira com os lendários The Animals, que vieram de Inglaterra propositadamente a Seia para este concerto, assim como o francês Richard Galliano, que no Sábado deliciou o publico com o seu concerto.Outra parte bastante importante do festival foi a rubrica “O Jazz vai à escola”, que proporcionou uma aula diferente, sobre a história do Jazz a mais de 300 alunos de 4 estabelecimentos de ensino do concelho. A Escola Superior de Turismo e o Conservatório de Música também acolheram Jam Sessions, o Centro Musical um Workshop de Trompete e a Casa da Cultura uma Feira de Livro e CD Jazz. Em três dias, perto de 1.500 pessoas desfrutaram do festival nas suas várias facetas. Queixamo-nos apenas da falta de visibilidade na comunicação social nacional, mas esse é um fardo que carregamos e uma luta que travamos ano-a-ano, com persistência.
A Guarda: Que razões o levaram a liderar o Movimento pela Construção dos Itinerários Complementares da Serra da Estrela?
Mário Jorge Branquinho: Sabe, a Serra da Estrela fica sempre para o fim em tudo e quando chega a sua vez, já não há dinheiro! Foram criadas expectativas pelo governo com a publicação de um despacho para a execução destes 3 itinerários que servem para tirar esta região do atraso em que está metida. À última da hora, nas negociações com a oposição para a viabilização do Orçamento de Estado, eis que cortam no elo mais fraco, mantendo grandes e luxuosos investimentos no Litoral. Em face deste golpe desferido aos justos anseios das populações desta região, que espera há 30 anos por estes traçados, decidi, juntamente com outro cidadão de Seia (Pedro Conde) lançar uma petição, que já ultrapassou as 2.500 assinaturas e encetar formas de luta num quadro de cidadania activa. Neste momento, está criado um núcleo duro, com um ou dois representantes dos concelhos da região, com vista a legalizarmos o Movimento de Apoio à Construção dos Itinerários da Serra da Estrela. Temos o blogue www.itinerar-ioserradaestrela.blogspot.com onde vamos colocando toda a informação das acções desenvolvidas e não sossegaremos enquanto não virmos estas justas reivindicações atendidas. O governo que tem feito muito pelo combate às assimetrias regionais, neste caso não andou bem e, por isso, a nossa revolta.
A Guarda: Que objectivos tem o Movimento?
Mário Jorge Branquinho: Tem por objectivo pressionar o governo para a execução dos Itinerários Complementares da Serra da Estrela (IC6, IC7 e IC37).Entendemos que o governo, que tem tido a preocupação de combater as assimetrias regionais, não teve neste caso a sensibilidade que se impunha para com esta questão. Por isso, iremos até ao fim, para ver concretizados estes traçados, que ligam Seia, Gouveia, Oliveira do Hospital e outros concelhos aos grandes centros – Viseu e Porto, Covilhã e Coimbra e mesmo a Guarda. É um Movimento supra-partidário que não dará tréguas ao governo enquanto não vir atendidas estas pretensões.
A Guarda: Que potencialidades tem a Serra da Estrela que, em sua opinião, ainda não estão devidamente aproveitadas?
Mário Jorge Branquinho: Em nossa opinião falta executar estes traçados para nos aproximar sobretudo do turismo do Centro e Norte do país, já que neste momento apenas o turismo da Covilhã está a beneficiar, com a A24, que canaliza todo o fluxo de Lisboa e Sul, além de estar também a desviar em Viseu o fluxo que vem do Norte.Quanto ao resto, julgo que no lado de Seia faltam mais unidades hoteleiras e faltará qualificar alguns serviços e lançar novos produtos, para juntar ao queijo da serra, ao pão, ao vinho, às maçãs e aos enchidos. Também acho que devia acabar o monopólio da Turistrela e defendo que a sede da Turismo Serra da Estrela (TSE) devia mudar para Seia, uma vez que está sediada na Covilhã e esta cidade já saiu deste organismo. Ou seja, não faz sentido ter um organismo numa cidade que hostiliza esse mesmo organismo. Acresce ainda que a Câmara da Covilhã saiu da região Turismo Serra da Estrela, em rota de colisão, com providências cautelares, acabando por criar um organismo autónomo. Entendemos para além disso que, por natureza a serra da Estrela tem tido pouco peso político o que dificulta o seu desenvolvimento. Já o disse na Assembleia Municipal de Seia e reafirmo-o sempre que posso, - tem havido subserviência a mais por parte de vários dirigentes distritais da Guarda e um abandono completo por parte de figuras de primeiro plano que são desta região, mas que se esquecem dela quando chegam aos lugares cimeiros de decisão.
A Guarda: Qual a situação actual da Associação de Beneficência do Sabugueiro, a que preside?
Mário Jorge Branquinho: A Associação do Sabugueiro inaugurou em Setembro do ano passado, uma nova e moderna Residência Sénior, com capacidade para 31 utentes, para além do espaço de ATL, apoio domiciliário, serviço de apoio médico à aldeia e escola de música. Temos um outro edifício, um Centro Social, onde funcionam cursos de formação. Temos ainda a decorrer desde Março do ano passado os projectos “Alavanca” e “Pontes do Alva”, apoiados pelo IDT – Instituto da Droga e Toxicodependência, no âmbito do PORI – Programa Operacional de Respostas Integradas, que são supervisionados pelo CRI da Guarda. O “Alavanca” abrange os concelhos de Seia e Gouveia e actua ao nível da Reinserção. O “Pontes do Alva” abrange o concelho de Seia e coloca-se num patamar de Redução de Danos e Minimização de Riscos. Julgo que são dois projectos de grande alcance social e o que me levou a aceitar este desafio para a minha Associação foi o facto de haver uma lacuna neste sector, com grandes dramas humanos ao nível do alcoolismo e da toxicodependência e nenhuma instituição destes concelhos ter aceitado concorrer aos programas de apoio. Acho que há muita preocupação para com os idosos, que é legítima e necessária, mas falta trabalho noutras áreas sociais, como nestas em que estamos a trabalhar e nas da Deficiência.
A Guarda: Que projectos desenvolve?
Mário Jorge Branquinho: Para além destes projectos, que no total já empregam quase 40 pessoas, destacamos a Escola de Música, a organização de caminhadas, a organização anual da Mostra Gastronómica do Sabugueiro (Maio e Junho) que envolve 11 Restaurantes da aldeia; temos para aprovação dois cursos de formação EFA; dinamizamos o site www.sabugueiro.pt como elemento essencial de promoção de alojamentos, restaurantes e outras lojas e potencialidades locais e contamos ter pronta no final da Primavera uma piscina coberta acoplada à Residência para hidroterapia e talassoterapia.
3 comentários:
muitos parabens, Mário! tens feito um trabalho digno e notavel nas areas referidas , o concelho só tem a ganhar....em algumas cidades do Pais, surpreendem-se com a actividade cultural que vai "borbulhando" em Seia.
muitos parabens
eugenio
Parabéns pelo percurso até aqui percorrido.
É de pessoas com o carácter, vontade e determinação e também persistência que o nosso concelho necessita.
Não estagnarmos no tempo, mas sim procuramos alcançar mais e melhor em prol das nossas gentes.
Com os melhores cumprimentos,
Tiago Antunes Da Silva
Não percebi o seu receio inicial.
Parabéns pela entrevista e pelo seu trabalho.
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