foto: blogue Cabeça Web
Numa manhã de sábado, a pretexto de um Encontro de Blogues e
de leitores dos mesmos, participei numa pequena viagem maravilhosa e
fantástica, pelas ruas da Freguesia da Cabeça, no concelho de Seia.
O anfitrião foi José Pinto, autor dos blogues CabeçaWeb e Balancé da Cabeça
, para promover a aldeia e o grupo de cantares da localidade. Pinto, que tem
uma dedicação profunda à sua terra, qual guardião da aldeia, escolheu para tema
da visita, as Alminhas da Cabeça. Ou melhor, o Nicho das Alminhas, que são
pequenos templos talhados em pedra, normalmente em granito, com uma cruz de
pontas em trevo e que “constituem um património arquitectónico português, único
no mundo”, como refere na brochura que distribuiu aos participantes. E na
Cabeça, os três nichos - do Corte-Muro, da Malhada e do Largo de Santo António
- estão bastante preservados, e os seus painéis de azulejos remetem para o
Purgatório, um dogma criado pelo papa Gregório I em 593, confirmado mais tarde
pelo concilio de Florença em 1439 e ratificado no Concilio de Trento
(1545-1563).
Como se percebe, à luz desta inspiração cristã, foram sendo
construídos em Portugal milhares de nichos de alminhas, incitando as pessoas a
rezar. E na Cabeça, como o lema é preservar o património cultural, com enfoque
no religioso, também se remete à atenção dos visitantes para estas pequenas
marcas assinaladas na pedra e nos azulejos que adornam.
Além das Alminhas, a Cabeça tem muito mais para mostrar,
onde se incluem as suas igrejas e capelas, um pequeno museu particular e a casa
dos teares, os cantos e recantos, as ruas estreitas, os socalcos e a simpatia e
o acolhimento do povo, que sabe saudar e acolher os visitantes. Tudo isto, ao
redor de um espaço urbano reconstruído e arejado, onde o município de Seia
muito investiu e que agora urge aproveitar em proveito do desenvolvimento deste
território.
Cabeça, que não chega a ter 200 habitantes, é uma aldeia
típica de montanha, nas abas do maciço central da Serra da Estrela, com uma
notável zona histórica, onde sobressai, precisamente, um casco urbano
lindíssimo, num labirinto de calçadas e casas de xisto tradicionais. Esta
Freguesia que não quer deixar de o ser, e muito bem, é detentora desde 2011, da
classificação de Primeira Aldeia led de Portugal, por ter sido a primeira no
país a substituir a iluminação pública de toda a zona histórica por luminárias
com tecnologia LED. Uma forma
de mostrar que é amiga do ambiente, já que reduz os consumos energéticos na
ordem dos 80%, produzindo menos materiais recicláveis e não libertando CO2 para
a atmosfera.
Mas, Cabeça,
que foi elevada a Freguesia por Alvará de D. João VI em 13-01-1800, também pode ser a futura aldeia
presépio da Serra da Estrela, já que ganhou recentemente o concurso de ideias
lançado pelo município de Seia. Este projeto “Cabeça Aldeia Natal”
vai permitir instalar iluminação pública, iluminar fachadas das casas
particulares, promover o fogueirão de Natal, organizar um mercado, recriar
ambiente sonoro nas ruas, promover concertos de Natal, presépio humano e
sessões fotográficas.
Por isso, como se vê, a aldeia da Cabeça pode ter poucas
pessoas, mas tem alma e tem encanto e atrativos suficientes para a visitarmos.
Os seus habitantes, quer através da Junta de Freguesia, do Centro de Apoio à
Terceira Idade, do Grupo de Cantares e outros, no âmbito do projeto das Aldeias
de Montanha, impulsionado pelo município, têm aproveitado ao máximo reportagens
televisivas e outros trabalhos jornalísticos com difusão nacional e
internacional, para valorizar e divulgar estas potencialidades. E é isso que -
e muito bem - pretende continuar a fazer, podendo agora dar o salto para
trabalhar ainda mais com agências de viagens e mais ainda com unidades
hoteleiras da região, para incluírem todos estes atrativos no roteiro das suas
viagens.
E assim, haverá cada vez mais gente,
de dentro e de fora, ao redor da Cabeça, em fantásticas viagens, na descoberta
de tesouros escondidos nos mais variados recantos de uma terra encantadora.
Nota:
Para além de mim, participaram no encontro os bloguistas: José
Pinto, Tá Amaro, José Fernandes, Luís Silva, Manuel Dias e Nuno Pinheiro. e qualquer um deles tem excelentes reportagens fotográficas no Facebook.
3 comentários:
Estava eu a rascunhar alguma coisa para descrever o VII Encontro de Blogues de ontem, em Cabeça, quando me deparei com este artigo bem estruturado e muito oportuno do dr Mário Jorge Branquinho! Gostei, sinceramente, pois, aborda a reabilitação social e cultural da aldeia de Cabeça duma forma realista, a par do problema demográfico de todo o país.
É muito interessante porque, ao nível do concelho de Seia, temos assistido a uma nova realidade: o desabrochar de inúmeras valências sociais e culturais de iniciativa popular, espontânea, nas aldeias de montanha geograficamente isoladas. Estas iniciativas surgiram antes da reforma administrativa em curso e mantêm-se vivas não é só em Cabeça, mas também noutras aldeias/freguesias rurais do concelho de Seia.
A criação do projeto “Rede de Aldeias de Montanha” terá sido, porventura, uma resposta interessantíssima, um olhar atento sobre essa nova realidade. O Município deu a mão à publicidade, à coordenação e algum apoio logístico. As populações é que fazem o resto, tudo por sua conta! Admito que a aldeia de Cabeça seja um exemplo paradigmático. E não é por mim, pois o meu contributo tem fraca expressão. Há muita energia nas pessoas que vivem em Cabeça!
No momento em que os meios urbanos se deparam com o fenómeno dos vizinhos desconhecidos, apáticos, introvertidos, morrendo desacompanhados em habitações de propriedade horizontal, não estaremos perante o ressurgimento dum novo paradigma social? As aldeias não voltarão a ser apetecidas? Não será uma boa resposta ao despovoamento dos meios rurais?
(J Dias Pinto)
Neste caso, não seria mau, plagiar o que é bem feito.
Fica a sugestão.
eugenio
é uma aldeia lindíssima, cheia de tesouros maravilhosos,visitei e gostei.. recomendo visita la..
Pena é o governo ter esquecido esta aldeia e lhe retirar a sua autonomia, mas mesmo assim continuará a ser o orgulho da Serra da Estrela..
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