domingo, 14 de julho de 2013

Ao redor da Cabeça, aldeia fantástica


foto: blogue Cabeça Web

Numa manhã de sábado, a pretexto de um Encontro de Blogues e de leitores dos mesmos, participei numa pequena viagem maravilhosa e fantástica, pelas ruas da Freguesia da Cabeça, no concelho de Seia.
O anfitrião foi José Pinto, autor dos blogues CabeçaWeb e Balancé da Cabeça , para promover a aldeia e o grupo de cantares da localidade. Pinto, que tem uma dedicação profunda à sua terra, qual guardião da aldeia, escolheu para tema da visita, as Alminhas da Cabeça. Ou melhor, o Nicho das Alminhas, que são pequenos templos talhados em pedra, normalmente em granito, com uma cruz de pontas em trevo e que “constituem um património arquitectónico português, único no mundo”, como refere na brochura que distribuiu aos participantes. E na Cabeça, os três nichos - do Corte-Muro, da Malhada e do Largo de Santo António - estão bastante preservados, e os seus painéis de azulejos remetem para o Purgatório, um dogma criado pelo papa Gregório I em 593, confirmado mais tarde pelo concilio de Florença em 1439 e ratificado no Concilio de Trento (1545-1563).


Como se percebe, à luz desta inspiração cristã, foram sendo construídos em Portugal milhares de nichos de alminhas, incitando as pessoas a rezar. E na Cabeça, como o lema é preservar o património cultural, com enfoque no religioso, também se remete à atenção dos visitantes para estas pequenas marcas assinaladas na pedra e nos azulejos que adornam.

Além das Alminhas, a Cabeça tem muito mais para mostrar, onde se incluem as suas igrejas e capelas, um pequeno museu particular e a casa dos teares, os cantos e recantos, as ruas estreitas, os socalcos e a simpatia e o acolhimento do povo, que sabe saudar e acolher os visitantes. Tudo isto, ao redor de um espaço urbano reconstruído e arejado, onde o município de Seia muito investiu e que agora urge aproveitar em proveito do desenvolvimento deste território.

Cabeça, que não chega a ter 200 habitantes, é uma aldeia típica de montanha, nas abas do maciço central da Serra da Estrela, com uma notável zona histórica, onde sobressai, precisamente, um casco urbano lindíssimo, num labirinto de calçadas e casas de xisto tradicionais. Esta Freguesia que não quer deixar de o ser, e muito bem, é detentora desde 2011, da classificação de Primeira Aldeia led de Portugal, por ter sido a primeira no país a substituir a iluminação pública de toda a zona histórica por luminárias com tecnologia LED. Uma forma de mostrar que é amiga do ambiente, já que reduz os consumos energéticos na ordem dos 80%, produzindo menos materiais recicláveis e não libertando CO2 para a atmosfera.
Mas, Cabeça, que foi elevada a Freguesia por Alvará de D. João VI em 13-01-1800, também pode ser a futura aldeia presépio da Serra da Estrela, já que ganhou recentemente o concurso de ideias lançado pelo município de Seia. Este projeto “Cabeça Aldeia Natal” vai permitir instalar iluminação pública, iluminar fachadas das casas particulares, promover o fogueirão de Natal, organizar um mercado, recriar ambiente sonoro nas ruas, promover concertos de Natal, presépio humano e sessões fotográficas.

Por isso, como se vê, a aldeia da Cabeça pode ter poucas pessoas, mas tem alma e tem encanto e atrativos suficientes para a visitarmos. Os seus habitantes, quer através da Junta de Freguesia, do Centro de Apoio à Terceira Idade, do Grupo de Cantares e outros, no âmbito do projeto das Aldeias de Montanha, impulsionado pelo município, têm aproveitado ao máximo reportagens televisivas e outros trabalhos jornalísticos com difusão nacional e internacional, para valorizar e divulgar estas potencialidades. E é isso que - e muito bem - pretende continuar a fazer, podendo agora dar o salto para trabalhar ainda mais com agências de viagens e mais ainda com unidades hoteleiras da região, para incluírem todos estes atrativos no roteiro das suas viagens.

E assim, haverá cada vez mais gente, de dentro e de fora, ao redor da Cabeça, em fantásticas viagens, na descoberta de tesouros escondidos nos mais variados recantos de uma terra encantadora.

Nota:

Para além de mim, participaram no encontro os bloguistas: José Pinto, Tá Amaro, José Fernandes, Luís Silva, Manuel Dias e Nuno Pinheiro. e qualquer um deles tem excelentes reportagens fotográficas no Facebook.


3 comentários:

* J Pinto disse...

Estava eu a rascunhar alguma coisa para descrever o VII Encontro de Blogues de ontem, em Cabeça, quando me deparei com este artigo bem estruturado e muito oportuno do dr Mário Jorge Branquinho! Gostei, sinceramente, pois, aborda a reabilitação social e cultural da aldeia de Cabeça duma forma realista, a par do problema demográfico de todo o país.
É muito interessante porque, ao nível do concelho de Seia, temos assistido a uma nova realidade: o desabrochar de inúmeras valências sociais e culturais de iniciativa popular, espontânea, nas aldeias de montanha geograficamente isoladas. Estas iniciativas surgiram antes da reforma administrativa em curso e mantêm-se vivas não é só em Cabeça, mas também noutras aldeias/freguesias rurais do concelho de Seia.
A criação do projeto “Rede de Aldeias de Montanha” terá sido, porventura, uma resposta interessantíssima, um olhar atento sobre essa nova realidade. O Município deu a mão à publicidade, à coordenação e algum apoio logístico. As populações é que fazem o resto, tudo por sua conta! Admito que a aldeia de Cabeça seja um exemplo paradigmático. E não é por mim, pois o meu contributo tem fraca expressão. Há muita energia nas pessoas que vivem em Cabeça!
No momento em que os meios urbanos se deparam com o fenómeno dos vizinhos desconhecidos, apáticos, introvertidos, morrendo desacompanhados em habitações de propriedade horizontal, não estaremos perante o ressurgimento dum novo paradigma social? As aldeias não voltarão a ser apetecidas? Não será uma boa resposta ao despovoamento dos meios rurais?
(J Dias Pinto)

Anónimo disse...

Neste caso, não seria mau, plagiar o que é bem feito.
Fica a sugestão.
eugenio

luis Fonseca disse...

é uma aldeia lindíssima, cheia de tesouros maravilhosos,visitei e gostei.. recomendo visita la..

Pena é o governo ter esquecido esta aldeia e lhe retirar a sua autonomia, mas mesmo assim continuará a ser o orgulho da Serra da Estrela..