segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Perguntando porquê


 Uma espécie de criativa


Uma flor ávida de orvalho, um pássaro solto em céu azul, homens sedentos de tranquilidade interna e nós serenos a contemplar o lado feliz da fugaz vida, a arrancar porquês na rotina. Porque afinal nem tudo é complexo, nem tudo se resume a dimensões imensas, a perguntas arrojadas e a velhas teorias do certo e do errado.

Uma gaivota e um navio não são a mesma coisa, como não é um pescador confundível com o seu próprio peixe. Contudo, não deixamos de afundar relações e analogias, de partilhar emoções e simpatias, com quem vai e com quem volta, aos supetões, na doce partilha de interrogações. Na lonjura da espera, esperando pelos que partem e não respondem. E espreitando, vemos partir, partilhando, olhando e sonhando, nas imensas paisagens do que ao de leve soa a nossos quereres, a nossas vontades. E no imenso mar de emoções, arrancamos perguntas pertinentes, de quem tudo quer saber, de quem de tudo espera, de quem vai além de perguntas, a ver para lá dos porquês.

Querendo saber, soçobramos na faina interrogativa de quem se não contenta com ditosas definições, de um nacional porreirismo, assente no “porque-sim”, sem mais, porque não sabe demais. Porque afinal é bom demais ir além do azul das nuvens, com pássaros coloridos, a ver partidas de navios, em manhãs de orvalho, com homens a sair para o trabalho, sem ter de se contentar com o que dizem.

Se perguntamos, interrogamos mas não vamos além da aragem de rotulagem que nos inferem, pelo que somos, do que rimos, pelo que fazemos e do que pensamos, concentrados que andamos na suave engrenagem que engatamos. Assim sem querer, enfrentamos interrogações nossas, descomprometidas, sem saber sequer respostas e sem ter de dá-las, no impetuoso frente-a-frente que se quer, entre nós e quem vier.

Perguntamos esperando e em suaves anonimatos, tantas vezes calamos, nem ouvindo nem andando, a instantes por conveniências reinantes, a calar fundo, a não dizer mais do que sim, sem perceber e por fim, procurar saber.

Entre o desejo de orvalho da flor silvestre e o céu azul do pássaro preto nas manhãs de ar cinzento, sussurra a ideia de que afinal não vamos além da carreira, ou por medo de enfrentamento, ou por receio de não estar à altura. Tantas vezes não aceitando o que não se entende por receio de parecer descabido, por não fazer sentido, embrulhando de qualquer maneira e feitio.


Na corrente de interrogações, acrescentamos definições de mar profundo, para tudo e para salvar o mundo e não descortinamos uma nesga de aragem para satisfazer os nossos porquês. Porque não sabemos o que queremos, porque há perguntas a mais, perguntas tolas que ninguém recomenda, ninguém faz nem responde. Porque porquês são angústias a três, de mim, de ti e do outro, sem sabermos se no cruzamento ditado, os interesses se cruzam, se o amor se interceta, se a perfídia espreita, se a resposta dada se aceita, ou se afinal a verdade, essa crua imagem da pressa, sempre cabe na razão e se interessa ou não.



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