segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A propósito do Orçamento da Câmara de Seia para 2015


O meu discurso na Assembleia Municipal de hoje

Depois de termos debatido internamente nos órgãos próprios do PS, o Orçamento da Câmara e outros documentos relevantes para o concelho, como é habitual, gostaria de partilhar convosco, aqui e agora, algumas ideias que considero pertinentes, relativamente a este documento que vai nortear a vida do município no decorrer do próximo ano.
O que ressalta desde logo, é a continuidade da contenção orçamental, por contingências internas e das obrigações a cumprir no quadro do PRF e PAEL, e ainda sob vigilância da DGAL, baixando de um montante de 21 milhões do ano passado para 19,5 milhões de euros.

Um emagrecimento que mantém no entanto o investimento possível e necessário, tendo em conta outra contingência, que é o facto de nos situarmos entre dois quadros comunitários – um que ainda não fechou em definitivo e outro ainda em preparação.
Neste quadro de dificuldades, o município dá-nos confiança de conseguir conciliar a necessidade de investimento com o esforço suplementar de diminuição da divida, cumprindo as suas obrigações, como entidade de boa-fé e de boas contas.
Por isso, e muito para além da aritmética dos números, que qualquer um de nós já leu e percebeu, importa falar do rumo político e das opções seguidas no quadro autárquico para 2015.

Uma linha, onde teremos de continuar a dar estímulo e ânimo ao executivo para que possa continuar a promover a procura de desenvolvimento económico como tem vindo a fazer, com parcimónia e persistência. Com a noção de que nem tudo surge de uma hora para a outra. Já começaram as obras da barragem de Girabolhos, que vem dar algum dinamismo temporário, mas é preciso persistir e alargar o esforço nos outros domínios de busca de investimento. Um caminho e um esforço que tem de ser ancorado na disponibilidade de todos, de quem governa e de quem é oposição. E o que se tem verificado, permitam que o diga, é que se instala em Seia, uma espécie de obscurantismo, por parte de alguns setores, do chamado Banco Mau, que persistem na maledicência e no permanente bota-abaixo, como se o pior para o concelho seja o melhor para o mundo deles.

espírito crítico não pode ser confundido com bota-abaixo, porque só um espirito de discussão franca e construtiva pode fazer mover montanhas e neste caso ser benéfico para o concelho. Estimulo, bom-senso e boas palavras é o que é preciso também!
Voltando ao documento, é importante frisar o empenhamento redobrado nas funções sociais do município, seja na área da educação, saúde, habitação e ação social, sempre na perspetiva de que as pessoas estão em primeiro lugar.
Que as pessoas não são números.

É preciso lembrar os financiamentos para refeições e transportes escolares, a reconstrução de habitações, o apoio e encaminhamento de famílias carenciadas, apoio na compra de medicamentos, isenções de taxas, licenças, etc., etc. Nesta área a Câmara substitui muitas vezes aquele que devia ser o papel do governo no apoio aos mais desfavorecidos.

Naturalmente que compreendemos que as maiores fatias vão para saneamento, resíduos sólidos, água, luz pública e operações de divida e salários, mas isso não impede que a ação social e outras necessidades primárias sejam salvaguardadas.

Num tempo tão difícil, a área cultural tem também contribuído e deve continuar a contribuir para dar notoriedade a Seia, promovendo a inclusão, participação, formação e valorização cultural dos nossos munícipes, reforçando a nossa auto-estima e devolvendo em simultâneo o orgulho da nossa identidade e matriz cultural, um caminho que deve continuar, para que o marasmo nunca se instale no nosso concelho. E sobretudo a ideia de que só o conhecimento e a Inovação são decisivos para a valorização da pessoa e desenvolvimento dos territórios.

Assim como no Turismo, uma área que não aparece nos documentos como rubrica própria, mas que surge disseminada em vários domínios, o que não quer dizer que seja uma aposta menor, pelo contrário.

Quando falamos na melhoria de uma estrada ou na reivindicação de melhorias para o maciço central da Serra da Estrela, falamos de turismo.

Quando falamos de feiras e realização de outros eventos – das aldeias de montanha, das aldeias do baixo concelho e de festivais culturais, falamos de turismo.

Quando promovemos produtos e empresas hoteleiras e de outros ramos do concelho, falamos de turismo.

Quando articulamos com várias entidades, ações promocionais do nosso território, ou quando fomentamos intercâmbios ou promovemos na comunicação social as boas práticas que se realizam no nosso concelho, falamos de turismo e valorizamos este importante setor económico.

Quando reforçamos a marca Seia nas ações desenvolvidas, assim como as valiosíssimas marcas - Serra da Estrela e Queijo da Serra, estamos a apostar no Turismo. Não é por acaso que quando se fala de Seia no exterior, se associa logo ao Queijo da Serra e à Serra da Estrela.

Mas claro, é sempre pouco, porque este setor é vital para o nosso concelho, por isso necessitamos de captar mais investimento privado nesta área;

Necessitamos de melhorar o que está a ser feito, sobretudo através de projetos que contribuam para a diferenciação, acrescentando novos valores;

Necessitamos ser ambientalmente ainda mais cuidadosos;

Necessitamos de ter um site exclusivamente turístico de Seia, em complemento ao site da Câmara; de continuar a valorizar a rede de museus e espaços culturais, reforçando a promoção das nossas potencialidades, à medida que desenvolvemos mecanismos que aperfeiçoem a qualidade dos serviços que prestamos.

Para além da aposta no Turismo, é imperioso seguir o rumo do desenvolvimento económico noutras áreas e isso está espelhado nos documentos:

Quando se criam mecanismos de incentivo e atratividade para instalação de novas empresas;

Quando se requalifica a zona industrial, se disponibilizam lotes, se faz levantamento de antigas fábricas para poderem vir a receber novas indústrias;

Quando se elaboram dossiers de investimento e de atratividade concelhia;

Quando se prosseguem ações alinhadas com os parceiros sociais locais – Associação Empresarial, Associação de Artesãos, ADRUSE, etc.;

Quando se preparam projetos para o novo quadro comunitário de apoio, através da CIM das Beiras e Serra da Estrela, num espirito intermunicipal, de modo a podermos potenciar várias infraestruturas, como sejam – o Aeródromo da Serra da Estrela, um Living Lab no CISE, um Cowork nas antigas instalações da MRG, a reconversão do Planalto da Torre, o modo de funcionamento da limpeza de neve nos acessos à serra, etc.;

Uma palavra também para os Presidentes de Junta, que têm sabido interpretar o esforço do município, procurando também eles contornar as dificuldades com imaginação e empenhamento. As Juntas de Freguesia e demais instituições do concelho – Escolas, IPSS, coletividades, etc. são e devem continuar a ser molas impulsionadoras de progresso, ancorando a ação da Câmara, independentemente das cores partidárias de cada dirigente.

A dureza da realidade não permite grandes veleidades nem demagogias balofas. Este não é o Orçamento que todos queríamos, é o Orçamento possível, dentro da realidade que se nos depara. Por isso, resta-nos que o município continue a ser governado com sentido de responsabilidade e rasgo político, para ultrapassar barreiras e enfrentar desafios, procurando o melhor para o concelho, numa lógica de proximidade e de verdade. Só se diz o que se faz e só se faz o que se pode, sem falsas demagogias e reivindicando, reivindicando muito junto do Poder Central, esse monstro insensível que não tem dado sinais de sensibilidade para os problemas do Interior do país.

A realidade é dura e nenhuma conjuntura ajuda! E não há varinhas mágicas para resolver grandes problemas em poucos minutos. Por isso, e com base no que li na imprensa local, acho que a coligação Pelo Valor da Nossa Terra ou futuro Movimento Autárquico Independente de Seia - MAIS, como já vão insinuando, tem de ser realista e apresentar propostas concretas para a solução dos problemas financeiros da autarquia. Só isso!

Nós acreditamos nas pessoas e nas potencialidades do nosso concelho, assim como acreditamos que o PS é o Partido mais preparado para continuar a governar o nosso território.

Precisamos por isso, de continuar a trabalhar afincadamente, cada um no seu patamar e grau de legitimidade, porque Seia tem futuro e nós esperança em dias melhores!

Seia, 24 de Novembro de 2014
Mário Jorge Branquinho, PS


domingo, 23 de novembro de 2014

Tempo livre dedicado à politica, acreditando em melhores dias



Nos tempos livres estou na política. Ainda estou, porque desde pequeno acredito na nobreza da política, do espírito de missão que deve nortear os agentes políticos. Estou até ir embora! Mas enquanto estou e não desanimo, procuro responder aos desafios, na putativa esperança que isto melhore. Quase numa utopia a dissipar-se, mas pronto! Pelo menos até ver.


Assim, e num momento particularmente negro para o sistema político português, irei estar nestes dias em vários palcos, modestamente a ver e a contribuir, para a dignificação dos lugares que ocupo e valorização das acções que se entendem ser as melhores para levar à prática.

Esta semana estarei em duas Assembleias. Segunda-feira, dia 24 na Assembleia Municipal de Seia, que decorrerá no CISE a partir das 9:30 horas, para discussão e votação do Plano e Orçamento do Município de Seia para 2015, entre outros pontos e sobretudo Regulamentos Municipais. Num momento de grandes constrangimentos, em tempos difíceis, que se exige dinamismo, criatividade e persistência e ânimo.

Na sexta-feira, dia 28 de novembro estarei a presidir à Assembleia da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE) que decorrerá no Auditório da Casa Municipal da Cultura de Seia, a partir das 15 horas, e para a qual, todas as pessoas interessadas estão convidadas. Ali será apresentado o Plano Estratégico de Desenvolvimento Integrado da CIM-BSE e discutido e votado o Plano e Orçamento para 2015, entre outros assuntos. Um momento importante, numa altura em que estão a ser alinhavadas as principais linhas dos projectos que serão financiados pelo próximo quadro comunitário de apoio e que será por ventura a ultima grande oportunidade para a nossa região se desenvolver.

No sábado e domingo serei um dos congressistas do PS em Lisboa, onde espero que António Costa anuncie uma “varredela”, para limpar o partido e dar oportunidade a outros fora de esquemas, negociatas e vícios. Para dar a Portugal um novo rumo e concretizar uma esperança, num dos tempos mais negros da política portuguesa, minada pela corrupção, à esquerda e à direita.

No fim-de-semana seguinte integrarei uma comitiva socialista da Federação da Guarda ao Parlamento Europeu, para reivindicar ajudas para esta região Interior do país. Um Distrito marcado pela desertificação e permanentemente ostracizado pelo Poder Central.

E assim vou continuar, uma espécie de voluntário político, que vive do seu salário e que nos tempos livres ainda sonha poder dar pequenos contributos para a política, local, regional e nacional. Pelo seu próprio pé e convicção sua. Assim vou, pelo menos, por enquanto. Enquanto não desisto e vou na ilusão de melhores dias.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O CineEco de Seia na Amazónia



O CineEco como imagem de marca de Seia, na qual o município tem vindo a apostar, contínua o seu percurso de afirmação no mundo, consolidando-se como festival de cinema ambiental de referência. Por ser assim, continua a ser convidado para realizar mostras de filmes das suas secções competitivas em vários pontos do globo, porque como temos vindo a dizer, juntamos em Seia “o melhor da produção mundial”. Isto deve orgulhar-nos, enquanto senenses, enquanto pessoas que vibram com as vitórias. E por tão pouco, poupando o erário publico. Mesmo assim, o CineEco de Seia continua a disputar a “champions”. Ainda recentemente foi convidado para assumir a liderança da rede de festivais que fundamos - GFN e aceitámos apenas continuar a dar contributos no núcleo duro dessa rede networking de 26 festivais de todo o mundo.



Desta vez chegou-nos o convite do FestCineamazonia e dos seus diretores Fernanda Kopanakis e Jurandir Costa para integrar o Júri da competição e para realizarmos uma pequena mostra de filmes CineEco. E o resultado foi muito positivo. Por aqui tivemos oportunidade de ver um festival “impactante”, pelos filmes exibidos na competição e nas Mostras, assim como pelas atividades paralelas desenvolvidas – Debate sobre poesia, concertos, animações, homenagem ao ator Osmar Prado, etc. Várias atividades culturais com enfoque no cinema, com sessões para as quais também é mobilizado público escolar e público em geral. 




Enquanto em Seia o símbolo do festival é a campânula hermínii – planta endémica da Serra da Estrela, aqui o símbolo é o Mipinguari, uma criatura que faz parte de uma lenda da amazónia. Mipinguari cujo grito foi várias vezes entoado pelo apresentador Cácá Carvalho nas sessões de abertura.
Foi bonito ver a reação do público ao filme de Jorge Pelicano Ainda há Pastores?, e de ter o grato privilégio de ter sido portador de um filme que passados 8 anos continua a ser muito solicitado e debatido.



Foi igualmente gratificante estabelecer contatos com responsável do Instituto de Cinema Cubano, na perspetiva de realizarmos uma Mostra em Seia. Ou de estabelecer contatos com diretores e realizadores peruanos, diretores e jornalistas brasileiros, actores e diversas personagens do mundo das artes. Porque, como dizia há dias o Xavier, “vale mais um bolso de contatos que um bolso de dinheiro”! E no FestCineamazónia, valeu muito também pelos contatos, além de termos constatado que o CineEco é conhecido, reconhecido, estimado e admirado.




Com trabalho e saindo do nosso pequeno universo, conseguimos valorizar e alargar horizontes. Como se impõem em qualquer projeto, para valer a pena, porque a alma não é pequena. Nem pode! Para crescer, quase sem limites, como se faz nos grandes eventos, como fazem os festivais, como fazem os responsáveis do FestCineamazónia.



O festival decorre em Porto Velho, capital da Rondónia, que faz fronteira com a Bolívia, uma cidade com cerca de 500 mil habitantes e um clima muito quente e muito húmido, quase sempre acima de 80%. Durante 5 dias, e depois de uma longa e atribulada viagem de quase dois dias, tive oportunidade de estabelecer contatos, ver filmes, ver como se faz, falar do que fazemos, e sobretudo falar do CineEco e de Seia. Da tarefa bonita de explicar onde fica Seia, na Serra da Estrela, no Centro de Portugal. Um festival que não se realize em Lisboa!


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Adesão e fruição nos primeiros dias do CineEco



Mais de mil espetadores passaram nos dois primeiros dias no Auditório e Cineteatro da Casa Municipal da Cultura de Seia, no arranca da 20ª edição do CineEco. Adesão maciça e espontânea, para filmes em competição e para sessões especiais, revelando que o festival cria o seu público e faz o seu caminho. Ou seja, no fim-de-semana, quando as pessoas não trabalham, encontram mais disponibilidade para ir ao festival e marcam presença nas várias sessões realizadas. Durante a semana, naturalmente que as escolas marcarão maior presença, o que não quer dizer que os outros públicos não marquem igualmente presença, sobretudo ao fim da tarde e inicio de noite. Na perspetiva de que a comunidade se revê e vai ao CineEco, sempre que pode, usufruindo. Apesar dos recursos limitados, quer pelas iniciativas paralelas, quer pela promoção na imprensa, incluindo a parceria com a SIC Noticias, o festival tem sido falado e tem feito caminho em vários canais de comunicação.
Deste primeiro fim-de-semana, destaca-se o facto de pela primeira vez ter sido exibido na sessão de abertura oficial, um filme em competição e com sala quase cheia. Mais de 300 pessoas viram em estreia mundial Love Thy Nature, de Sylvie Rokab, um filme soberbo do ponto de vista ambiental. Que fala de tudo um pouco – da ligação do homem à natureza, de hábitos de vida saudável, de alimentação, de espiritismo e acima de tudo, da importância de uma boa relação do homem com a natureza, num tempo que corre muito depressa. Uma sessão que contou também com o documentário de Eduardo Amaro, encomendado pelo Município e que assinala a 20ª edição do CineEco.


Outro momento alto do fim-de-semana foi a exibição em sessão especial de Trama, uma curta-metragem de Luísa Soares, que também quase esgotou o Cineteatro, com a presença de muitas pessoas ligadas no passado à indústria têxtil. E este constitui mais um forte contributo do festival para a valorização do património histórico-cultural do concelho de Seia. Um contributo para a evidência criativa dos agentes culturais locais. Um filme da região, assente num aspecto cultural identitário, que diz muito às comunidades locais – a memória dos têxteis – numa abordagem de excelência, fora de hipotéticos amadorismos e com conta, peso e medida, capaz de emocionar.

A presença do Secretário de Estado do Ambiente também chancelou importância e notoriedade ao festival, numa cerimónia onde o Presidente da Câmara reiterou o desejo da autarquia em manter no seu calendário cultural a realização do CineEco. 

O contributo dos parceiros e patrocinadores, que são cada vez mais, revela igualmente o interesse no festival e no seu simbolismo, enquanto espaço de afirmação e de encontro de plataformas criativas e de reflexão.  Assim como a presença de diretores, realizadores, jornalistas e espetadores de outras paragens, que vão despontando e vêm espreitar este pequeno fenómeno na Serra da Estrela.


Um excelente começo de festival, em Seia que faz do CineEco uma imagem de marca e que acrescenta à cidade mais notoriedade e afirmação no plano cultural e ambiental. Que acrescenta um pouco mais ao ego de cada um dos seus habitantes, em tempos difíceis marcados pela dureza das conjunturas e da estigmatizante interioridade alapada a estes territórios ditos de baixa densidade.

MJB

domingo, 5 de outubro de 2014

Seia e o Interior têm de voltar a apostar nas indústrias tradicionais para se salvarem


A minha Crónica de Seia no Jornal Terras da Beira, Guarda


Do que o Concelho de Seia, o Distrito da Guarda e o Interior do país mais precisam para se salvarem, é mesmo de fixação de empresas para criar postos de trabalho. Parece demasiado evidente, mas há evidências que têm de se escrever as vezes que forem necessárias para fazer prevalecer este questão e despertar os atores do desenvolvimento. Como tenho vindo a defender em vários fóruns e ainda na última reunião da Assembleia Municipal de Seia sublinhei, a juntar ao esforço que tem vindo a fazer-se, tem de dar-se mais passos em frente. Particularmente numa altura em que as indústrias de calçado e têxtil voltam a ter grande impacto na economia portuguesa, registando bons níveis de exportação.

É por isso urgente a inventariação de instalações de antigas fábricas desativadas no concelho e ver de quem são e seus custos, para que se junte ao dossier que é entregue a potenciais empresários, para que saibam que neste concelho há vários fatores de atratividade. Instalações baratas, que podem ser adaptadas para se instalarem empresas, sem ter de se construir pavilhões de raiz, caras e com burocracias de licenciamento demoradas. Há um Centro de Formação, há tradição e know-how no têxtil e calçado e há fundos comunitários disponíveis para as empresas.

Várias vezes tenho igualmente usado a velha frase de que – “já foram inventadas todas as frases para salvar o mundo, falta mesmo salvá-lo”. Neste caso, também já todos os projetos e soluções foram e são diariamente invocados por todos nós. Todos sabemos e dizemos como se salva o Interior, mas tarda a sua salvação, acentuando-se a desertificação e abandono. Por isso, precisamos todos de fazer contatos, de estimular eventuais empresários e sobretudo, despertar um governo que só tem ajudado a enterrar o país com o encerramento de serviços públicos e de não ter impulsionado qualquer incentivo. Nem encaminhamento de investimentos, nem baixa de fiscalidade, nem nenhuma descriminação positiva.

Temos de contar com os nossos municípios, as diversas instituições e com cada um de nós e só assim poderemos trilhar novos caminhos de progresso, para salvarmos o Interior. E sem termos de andar permanentemente a lamentar-nos de que somos esquecidos e ostracizados, mas a tomar em mãos iniciativas que levem a resultados práticos.




sábado, 4 de outubro de 2014

Assim vai o país

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Neste país de brandos costumes, sofre-se da asneira, sofre-se do mal e não há consequências.

Há um Ministro da Educação que faz asneira atrás de asneira, pede desculpa, continua a errar e a desrespeitar quem devia estimar – os professores e a chamada culpa, vai morrendo solteira”. E de consequências, nada!

Há uma Ministra da Justiça que parece não andar boa de boa saúde, a fazer asneiras políticas, a pedir desculpa, a bloquear o sistema e a derreter dinheiro, numa trapalhada sem fim, num bloqueio da justiça sem paralelo e nada!

Um Primeiro-Ministro enredado no seu passado duvidoso, muito mal explicado no que recebeu e não recebeu e nada. Que, ainda por cima, jura não baixar impostos, e nada.
Um outro Ministro da coligação, em rota de colisão a dizer que sim, que há margem para compensar o sacrifício dos portugueses e nada!

Há ainda o Presidente da República que não diz nada, nem se está de boa saúde.

Há submarinos a afundar, dinheiro dos contribuintes a ser consumido e derretido em negociatas, sem explicações e nada e nada, mil vezes nada.

Pelos vistos há também empresas do Estado que não servem para nada, a não ser pagar chorudos ordenados a quadros amigos e também nada se faz para cortar tais gorduras.

E um povo que resiste, na tristeza e na miséria, entre dentes cerrados e punhos fechados, à espera de melhores dias e mais nada, a não ser um certo cheiro a fim de ciclo e esgotamento de ideias, com um Secretário de Estado a sair e outros com vontade de ir também embora.

E assim vai o país.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

CineEco homenageado no Rio de Janeiro



Testemunho na primeira pessoa

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O CineEco, imagem de marca de Seia, foi por estes dias homenageado no Brasil, pela organização do Filmambiente, festival parceiro na rede Green Film Network. Uma distinção por ocasião dos seus 20 anos, na bela, mítica, complexa, rica, imensa e maravilhosa cidade do Rio de Janeiro.

Enquanto responsável do festival ao serviço do município de Seia e convidado a participar nas iniciativas, apraz-me dar testemunho público da experiência, relatada na primeira pessoa.

A homenagem constou de uma Mostra retrospetiva dos 20 anos do festival de Seia, que decorreu no Instituto Moreira Sales, onde participei no comentário aos filmes exibidos, na presença de alguns portugueses, entre eles o senense José Dinis, a trabalhar naquela cidade brasileira. Um outro senense, a residir no Brasil, Eduardo Pinto, juntar-se-ia igualmente ao festival, por estes dias, revelando dedicação, estima e grande generosidade no acolhimento.

Outro ponto da homenagem foi a realização de um debate sobre a evolução do cinema ambiental nos últimos 20 anos, com o mote lançado a partir da experiência do CineEco. 

Foi para mim uma honra ter sido um dos oradores do referido debate que decorreu no Oi Futuro, um equipamento cultural de referência no Rio de Janeiro. Um momento particularmente importante e impressivo, graças, mais uma vez, ao reconhecimento de Suzana Amado, pelo meu trabalho e pelo desafio que me lançou. Falar no meio de duas grandes referências brasileiras – Paula Saldanha, conhecida no Brasil pelo seu percurso de 40 anos como jornalista da Globo e realizadora de reportagens e filmes ambientais e o professor e economista Sérgio Besserman, um intelectual de renome no Brasil. Num debate moderado pelo também renomado jornalista da Globo, Agostinho Vieira.

Uma jornada rica de conteúdo, valorizada pelo exemplo português de que fui portador, num tempo de grandes preocupações ambientais, e na constatação das apostas necessárias no plano cultural, para a afirmação dos territórios. O exemplo dado por uma pequena cidade do interior de Portugal, onde um município aposta nas áreas culturais e ambientais, à sua medida, com poucos gastos, mas com alcance incomensurável.




Uma admiração partilhada também pelo cônsul de Portugal no Rio de Janeiro, Nuno de Melo Bello e sua esposa, que nos receberam num almoço oferecido a toda a comitiva do festival Filmambiente, em homenagem ao CineEco. Uma surpresa, termos sido recebidos num espaço de Portugal no Brasil e aí reconhecidos pelo trabalho feito na nossa terra, em Seia. Um almoço para o qual foi também convidado o Presidente da Câmara Portuguesa de Comércio e Industria do Rio de Janeiro, Ricardo Vieira Coelho, a quem falei do festival e de Seia. No meio da surpresa e no momento alto e simbolicamente importante e sem protocolo, aproveitei a oportunidade para lhe transmitir a aposta que Seia faz nos seus produtos regionais e da necessidade de coloca-los noutros mercados, assim como da aposta que está a ser feita para atrair investimentos para este concelho. 


Um pretexto para criar laços e abrir caminho a contactos com o município, à semelhança do que já havia feito no FICA, em Goiás, com o início de contactos com administração de uma grande fábrica de calçado de Franca, do Estado de São Paulo e que lançou os primeiros sapatos biodegradáveis do mundo.

Enquanto director do CineEco, entendo que o festival deve alargar a sua acção à diplomacia e aproveitar as portas que em tempos difíceis se abrem, para que o município possa entrar, procurando capitalizar conhecimentos e acções decorrentes deste seu evento.

Tudo isto pode ser simbólico, vale o que vale, mas é seguramente um caminho a percorrer, fazendo-nos valer de uma marca que temos e do valor que lhe é atribuído no exterior. Porque independentemente das suas debilidades, é um ativo importante do município, e Seia deve orgulhar-se de ter um festival com 20 anos, que é reconhecido no mundo. E não é por acaso que este ano, teremos em Seia uma cimeira de 7 diretores de festivais de cinema de todo o mundo e mais uma vez sem grandes gastos, porque o festival é financiado por programa comunitário. 

Neste contexto, mesmo ainda antes de Seia prestar homenagem ao seu festival pela 20ª edição, que ocorrerá de 11 a 18 de outubro, foi o Festival do Rio de Janeiro, no coração do Brasil, a reconhecer a importância e grandeza do único festival de cinema ambiental que se realiza em Portugal e um dos mais antigos do mundo. Uma homenagem simbólica, pelo que acima se diz e ainda pela integração no Júri Internacional do meu companheiro de jornada neste percurso de 20 anos, Carlos Teófilo. Uma participação de referência na dinâmica do festival, nos laços criados e afetos partilhados.

Por tudo isto e muito mais, reitero enorme agradecimento a Suzana Amado, directora do Filmambiente, pela homenagem ao CineEco, que é uma distinção a Seia e também um agradecimento ao Presidente da Câmara, Carlos Filipe Camelo, por acreditar em mim, na condução do festival que idealizei e ajudei a lançar no longínquo ano de 1995.

http://www.filmambiente.com/




sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Todos em defesa dos interesses do Concelho de Seia


Texto de opinião no Jornal de Santa Marinha

O concelho de Seia precisa cada vez mais do contributo de todos, para valorizar e potenciar os recursos existentes e para ajudar a contrariar a tendência nacional de emigração que se faz sentir nos últimos anos.

É evidente que o desenvolvimento do território se faz pela ação direta dos políticos, através dos partidos políticos, mas também pelo contributo de todos – empresários, dirigentes e comunidade em geral. Por isso, é sempre oportuno interrogarmo-nos sobre o que é que cada um pode fazer pelo seu concelho, pela sua terra, numa perspetiva de dedicação, paixão e inovação. O município de Seia tem procurado ser uma mola impulsionadora dessa intervenção comunitária e há resultados concretos bem visíveis da intervenção de empresas, escolas e outras instituições, através de investimentos e iniciativas mobilizadoras.

Sendo certo que o único motor do crescimento da economia é a criação de empresas, gerando empregos, todos os esforços são necessários para segurar e atrair investimentos, tendo papel fundamental as associações empresariais. Assim como a Comunidade Intermunicipal, que em torno da marca “Serra da Estrela” prepara projetos de interesse comum para candidatura a fundos comunitários.

Há por isso um esforço coletivo que deve continuar a acentuar-se, porque esta é uma questão do interesse de todos os setores, onde se incluem os vários municípios e partidos políticos em geral. Este é o desígnio que nos une e nos deve mobilizar, assim como na procura do reforço dos serviços da administração pública. Em defesa do hospital, para reforço das suas valências, das escolas, do tribunal, do centro de emprego e reivindicação de melhores acessos. Independentemente de quem governa, o que nos deve unir é a nossa terra e os seus interesses, para melhoria das condições de vida das pessoas. Todos somos poucos para procurar influenciar os governos centrais. Ainda agora, há um alerta que fazemos, para Câmara e todos nós estarmos atentos à Portaria nº 123 que começa a definir critérios para as redes nacionais de especialidades hospitalares, à luz do qual teremos de acautelar o nosso hospital de Seia. Já lancei o alerta na última reunião da Assembleia Municipal e faço-o aqui também, porque o que fizermos agora pelo hospital, marcará o seu futuro, para o bem ou para o mal. Por isso, esta é uma matéria em concreto, de que temos de bater o pé ao governo e indicar à ULS da Guarda as especialidades que queremos, porque as pessoas do concelho de Seia têm direito aos melhores serviços de saúde.

Conscientes da noção de responsabilidade e da limitação dos recursos, porque há cada vez menos dinheiro para obras físicas, impõem-se novas ideias, firmeza na defesa intransigente dos melhores serviços e na reivindicação daquilo a que temos direito.


Porque Seia tem futuro!

Seia, 31 de Julho 2014

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Caraterização do concelho de Seia


Seia, simplesmente Seia *


Falar de Seia, por parte de quem aqui mora, por quem aqui vive, por quem a vive e a sente, pode significar um ato de tendência exagerada, ora apontando fragilidades, ora acentuando virtudes de sub-reptícias formas. Por isso, e neste contexto em que escrevemos, inclinamo-nos para um breve olhar cruzado, por entre uma realidade de um espaço comunitário, que mergulha nas suas raízes históricas, se afinca nas suas potencialidades e se abalança nos desafios que espreitam, época após época, de conjunturas diferentes, num mundo que é cada vez mais conturbado. Um olhar breve, numa espécie de curto guião, que não deixa de ser um convite a revisitar memórias deste concelho com futuro.

Posto isto assim, começamos na raiz e viajamos ao período pré-histórico, para dizer que a maioria dos historiadores considera que a presença humana neste território, remonta a 450 anos antes de Cristo. Pouco tempo depois, em 139 antes de Cristo, surge pelos chamados “Montes Hermínios” um bravo pastor Serrano, Viriato, que se diz ter nascido, entre outros lugares na Póvoa Velha. Fundada pelos Túrdulos, a Oppidum Sena, antiga cidade de Sena, pela sua posição geográfica constitui-se como um ponto estratégico na luta contra a invasão romana. Muito mais adiante, em 910 é tomada por Ordonho II, rei da Galiza e Leão, passando posteriormente para o domínio muçulmano, acabando por ser reconquistada por D. Fernando Magno, em 1055.

Percorrendo ainda factos históricos relevantes, ficamos a saber que no processo de reconquista cristã e arroteamento deste território, em 1132, D. Afonso Henriques encontrou Seia num estado de ruína e despovoamento, consequência das lutas consecutivas entre mouros e cristãos. Com efeito, procedeu à sua doação ao seu valido João Viegas, por reconhecimento de serviços prestados, e em 1136 concedeu o primeiro foral, onde a denominava de Civitatem Senam (Cidade de Seia).

Apesar de não haver nenhum documento que o comprove, pensa-se que em 1390 reuniram-se em seia os famosos Doze de Inglaterra, sendo alguns deles de Seia, Linhares, Gouveia, Melo, Celorico, Pinhel e Trancoso. Outra data histórica escreve-se em 1807, com as Invasões Francesas que vieram devastar Santa Comba, Pinhanços, Santa Eulália, Paranhos e Girabolhos, tendo incendiado em seia a Casa das Obras (atual Câmara Municipal), Igreja da Misericórdia e Matriz, deixando tudo em ruínas. Estes e muitos outros factos históricos relevantes constam de várias publicações e sobretudo na Monografia da cidade e concelho de Seia, de José Quelhas Bigotte (1992), até hoje o trabalho mais aprofundado da história do concelho de Seia.

Ressalva-se entretanto algumas publicações referentes a épocas históricas balizadas de relevante importância, como sejam “Seia uma terra de fronteiras nos séculos XII e XIII”, de Maria Helena da Cruz Coelho (1986), “”Seia na Idade das Trevas” de José Matoso (1986) “O Concelho de Seia em tempo de mudança” de Lúcia Moura (1997) e mais recentemente “O Marcelismo e o 25 de Abril vistos em dois jornais locais” de Luís Vieira Rente (2004) e “A Casa da Luz”, de João Orlindo Marques (2009).

No que se refere a monumentos, em Seia sobressai a capela de S. Pedro, com mais de mil anos e que é monumento nacional, de estilo românico com laivos mozárabes. Do vastíssimo espólio arquitetónico que encontramos pelo concelho, podemos ainda destacar a Capela do Santo Cristo do Calvário, em Seia, o Pelourinho do Casal de Travancinha, a Ponte Romana de Sandomil, a Anta do Carvalhal e de data mais recente a escultura de vulto feminino em bronze junto ao jazigo do Republicano Afonso Costa, no Cemitério de Seia.

Retomando a história de Seia no início do século XX, apraz registar uma atividade que seria marcante do ponto de vista económico até aos nossos dias e que é a construção do aproveitamento hidroelétrico da serra da Estrela.

Este facto transporta-nos para 1907, ano em que se iniciou a construção do primeiro aproveitamento hidroelétrico, dos quatro existentes sobre o Rio Alva, através da criação da Empresa Hidroelétrica da Serra da Estrela (EHSE). E é a partir da primeira central construída na Senhora do Desterro que em 23 de Dezembro de 1909 a energia chega a Seia pela primeira vez. A partir daí, a empresa liderada por Marques da Silva foi construindo um importante complexo hidroelétrico através da EHSE, que marcou a economia do concelho durante décadas e que viria a ser nacionalizada em 1975, integrando a EDP.

Posteriormente, na década de 60, há outro fenómeno que marca a economia e a vida social do concelho de Seia, com o surgimento da indústria têxtil. Impulsionada pelo empresário Joaquim Fernandes, o têxtil transformou-se em pouco tempo numa mono-indústria deste concelho, chegando a empregar perto de 4 mil trabalhadores em várias fábricas, mas sobretudo na Vodratex e Fisel, em redor das quais foram mesmo construídos bairros sociais. No início da década de noventa este setor viria a entrar em crise profunda, fruto da conjuntura económica da época, sendo hoje uma atividade residual.

Segundo os Censos de 2011, o Concelho de Seia tem 24 mil habitantes, tendo perdido cerca de 4 mil em relação ao ano 2001, em que registava 28 mil habitantes.

Até Outubro deste ano de 2013 o concelho era composto por 29 freguesias e mais de 100 localidades, mas com a reforma administrativa implementada, e com as agregações que foram impostas, passou a ter 21 freguesias.

Uma parte destas freguesias situa-se na zona montanhosa, correspondente às chamadas aldeias de montanha - Alvoco da Serra, Cabeça, Lapa dos Dinheiros, Loriga, Sabugueiro, Sazes da Beira, Teixeira, Valezim e Vide, que são caracterizadas por densidades populacionais muito baixas. Territórios com imensas belezas paisagísticas, que nos levam ao ponto mais alto, a quase dois mil metros de altitude e à descoberta de tesouros e magias escondidas por entre veredas.

Por esta via, o Turismo tem vindo a ocupar nas últimas décadas um relevante papel na economia local, quer pelos programas de animação organizados nestas aldeias, quer pela valorização do património cultural e paisagístico, quer pelo incremento de vários produtos associados à região.

O queijo da serra é uma das várias imagens de marca de Seia, fruto do incremento da pastorícia ao longo de décadas e também pela instalação de várias unidades de produção industrial que abastecem os vários mercados do país e alguns do circuito internacional. Mas para além do queijo da serra, sobressai o requeijão, o pão do Sabugueiro, os enchidos, os vinhos, o mel, vários licores e diversos outros produtos artesanais que os poderemos encontrar nas chamadas Feiras do Queijo, realizadas anualmente no sábado de Carnaval.

Chegados aqui, desembocamos no papel que a cultura tem desempenhado no quadro de desenvolvimento do concelho de Seia, fruto da ação do seu município. Uma estratégia que tem passado nos últimos trinta anos pela construção de um conjunto de equipamentos culturais e na realização de eventos considerados relevantes na agenda cultural do concelho.
O principal evento que mais se identifica com a cidade de Seia e os propósitos culturais e ambientais seguidos na governação local, é o CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental, que se organiza em Outubro desde 1995 de forma ininterrupta. Trata-se do único festival de cinema ambiental que se realiza no nosso país e que constitui um cartaz internacional de grande projeção internacional e que traz à cidade muitas personalidades do mundo do cinema, do teatro, dos movimentos ambientalistas, etc.

Para além deste, podemos ainda identificar outros “eventos ancora” no calendário cultural do município, como sejam o Festival Jazz & Blues, O Festival de artes plásticas – ARTIS, as Jornadas Históricas, as festas da cidade, a Feira do Queijo, as Marchas Populares, e todo um conjunto de ações pontuais, do município e da comunidade, que compõem a programação dos vários espaços da cidade.

A rede de equipamentos culturais de Seia estrutura-se em três grandes domínios: equipamentos de exposição e consulta, equipamentos de espetáculo e equipamentos comunitários. Independentemente do tipo de equipamentos, verifica-se que escassas são as freguesias que não dispõem de nenhum equipamento, ainda que se verifique uma acentuada concentração nas freguesias de Seia e de São Romão. No âmbito desta rede, há 7 equipamentos que importa destacar, quer pela projeção concelhia promovida e subsequente atração de visitantes, quer pela centralidade que assumem na programação cultural concelhia.

A Casa Municipal da Cultura, situada no centro da cidade, é um equipamento polivalente, com um Cineteatro com capacidade para 345 pessoas, auditório para 150 pessoas, Galerias Municipais e Espaço Internet, a funcionar na sua plenitude desde 1995. Um equipamento dotado de recursos humanos próprios, e com uma programação diversificada, estruturada e de qualidade, com espetáculos de teatro, dança, concertos, exposições e sessões semanais de cinema, o que lhe confere o estatuto de verdadeiro “centro cultural do concelho de Seia”.

A Biblioteca Municipal, que entrou em funcionamento em 1993, situa-se em pleno centro histórico da cidade e apresenta atualmente uma vasta oferta cultural, destacando-se o espólio documental de livros e em formato audiovisual. Através desta estrutura, tem-se assistido a organização de feiras de livro, sessões de contos, concursos literários e outras atividades de promoção da leitura.

O Arquivo Municipal, que foi criado em 1994, tem como finalidade central a preservação, inventariação e estudo dos documentos de interesse municipal, disponibilizando um espólio arquivístico informatizado. O Arquivo organiza anualmente em Novembro, as chamadas Jornadas Históricas do Concelho e proporciona visitas guiadas pelo centro histórico e organiza esporadicamente exposições na Casa da Cultura.

O Museu do Brinquedo, instalado no antigo solar de Santa Rita, é um equipamento museológico que reúne uma vasta coletânea de brinquedos portugueses e internacionais, de diferentes épocas. Inaugurado em 2002, tem exposições temporárias e itinerantes alusivas a temáticas diversificadas.

O Museu Natural da Eletricidade, que foi inaugurado pelo Município de Seia no dia 11 de Abril de 2011, é um espaço museológico que nasce a partir da centenária Central da Senhora do Desterro, e que pretende divulgar o património tecnológico, natural, social e cultural que lhe está associado.

A Ludoteca Municipal, que foi criada em 1994 está instalada na antiga casa dos Magistrados, constituindo um espaço destinado a crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 16 anos, e que desenvolve uma atividade muito meritória.

O Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE) é uma estrutura do Município de Seia, criada em 2000, vocacionada para a promoção do conhecimento e divulgação do património ambiental da serra da Estrela. Sedeado numa quinta no centro de Seia, o CISE apresenta um conjunto de espaços e equipamentos multivalente que o convertem num local modelar para o desenvolvimento de atividades de educação e divulgação ambiental, promoção turística e investigação e um ponto privilegiado para partir à descoberta da serra da Estrela.

Por último, uma referência ao espaço Museológico da Misericórdia com um vasto e rico espólio de arte sacra, o Museu Etnográfico do Rancho Folclórico de Seia, bem como ao Museu do Pão. Este último é uma unidade privada, criada em Setembro de 2002 e que constitui uma das principais atratividades de Seia e da Serra da Estrela.

Nesta descrição sumária, cabe também uma referência à existência de mais de 100 coletividades, de natureza eminentemente cultural. Estas agrupam-se em três grandes tipologias: bandas filarmónicas (7), ranchos folclóricos 5 (dos quais 3 são federados), grupos de cantares (3) e orfeões (2), sendo considerados parceiros importantes na preservação e valorização da património etnográfico concelhio.

As associações registam uma repartição territorial diferenciada em função da sua natureza, enquanto que, as de base cultural e recreativa têm um padrão locativo marcado pela dispersão, as de base cultural e desportiva caraterizam-se por uma acentuada concentração na sede de concelho e freguesias circundantes, não obstante, destas últimas serem quantitativamente mais numerosas.

Podemos ainda referenciar neste capítulo, a existência de 3 corporações de Bombeiros – Seia, São Romão e Loriga - e mais de 3 dezenas de Instituições de Solidariedade Social (IPSS), um setor com um peso significativo na economia local e que desenvolve um conjunto de atividades e valências consideradas relevantes.

Na área da Saúde, Seia possui um moderno Hospital com várias valências e consultas de especialidade em funcionamento, além do Centro de Saúde de Seia e São Romão e outras unidades ainda em funcionamento nalgumas freguesias. Possui ainda uma unidade de Cuidados Continuados da Misericórdia, a funcionar desde 2011, que é uma unidade de referência a nível nacional.

Todavia, são as escolas os grandes motores de desenvolvimento deste concelho, destacando-se atualmente a Escola Superior de Turismo e Hotelaria (IPG), a Escola Profissional da Serra da Estrela, Conservatório de Música de Seia, os dois agrupamentos de Seia e a Escola Evaristo Nogueira, de São Romão.

De toda a abordagem feita até aqui, importará talvez destacar ainda a situação geográfica de Seia, como cidade do interior do país, que vive desse isolamento, do drama de estar fora dos grandes eixos rodoviários e de ter de redobrar esforços para estancar o fenómeno do despovoamento. Um fenómeno que vem sendo contrariado pela aposta no setor turístico, aproveitando a imponência da serra e suas paisagens, através de atividades de hotelaria e restauração, bem como de produção de produtos locais. Umas vezes com maior expressão e afinco, outras mais tenuemente, o certo é que, como se constata, ao longo da sua história, os seus habitantes sempre souberam ultrapassar dificuldades e nesta fase critica, de conjuntura altamente desfavorável, saberá responder aos desafios.
Porque Seia tem futuro!

Mário Jorge Branquinho

* texto publicado no livro: Momentos de Cultura com Orfeão de Seia, de Fernando Beco

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Discurso no 25 de Abril 2014



O meu discurso na sessão solene do 25 de Abril de 2014, na Assembleia Municipal de Seia



Vir aqui falar, impõe-se desde logo perguntar, que sentido faz vir aqui a este púlpito discursar, em sessão solene, sobre a revolução do 25 de abril ocorrida há 40 anos? Que consequências e de que adiantará fazê-lo? Falaremos para nós em efémera passagem, sem resultados palpáveis e pronto?

Passados 40 anos de uma revolução ocorrida no nosso país, interrogamo-nos sobre o peso das palavras em discursos comemorativos e perguntamo-nos se vale a pena. Passados estes anos e porque a alma não é nem deve ser pequena, vamos pelas palavras e não desistimos, pelo menos em acção simbólica, sublinhando a importância do acto e do facto.

Passados 40 anos continuamos a falar de abril e a fazer discursos, não para cumprir calendário, mas para continuar a manter viva a chama dos propósitos que tiraram o país da ditadura. Para repetir as vezes que forem necessárias, tanto os termos como as frases do dicionário próprio de abril. Porque as memórias não se apagam e porque através delas seguimos novos rumos, cumprimos abril, sempre que discursamos, sempre que lembramos. E se é verdade que as palavras não mudam a realidade, também é verdade que nos ajudam a pensar, a conversar e a tomar consciência e a consciência pode ajudar a mudar a realidade.

Por isso, permitam-me que oriente a minha intervenção pela consciência critica que em primeiro lugar nos deve nortear, no sentido de ajudarmos a construir um novo país. Permitam-me então que comece pela raíz, pelos mais novos, pelas crianças e jovens, para quem tudo isto é estranho, para quem estas comemorações podem ter significado.
Permitam-me que fale daqui para todos, como quem fala para crianças e jovens e ao contar a história breve da profunda transformação que se operou a partir de 1974, ajude a entender a história recente do país.
Porque houve um ditador que durante meio século fez mergulhar o país num profundo atraso económico, cultural e social, quase tão mau como o que hoje assistimos. Um país guiado por Deus, que amava a pátria, quando jogava o Eusébio e cantava a Amália e que vivia em torno da família, mas que morria na miséria, de pão e de liberdade, em tenebrosa opressão. Num sistema de governo de um homem só, em ditadura, como contraponto a um outro homem que em democracia e em liberdade nos tem também marcado a vida, ora como ministro ou primeiro-ministro e agora como presidente da República. Um homem político como tantos outros destes últimos 40 anos, que nos têm conduzido a caminhos sem retorno. Políticos que apesar de terem muitos recursos ao dispor da comunidade europeia, que entretanto foi receptiva à nossa entrada, nos têm cortado a esperança e os braços para trabalhar. Políticos que nos têm levado ao sítio onde nos encontramos, tantas vezes sem ânimo e sem perspectivas de emprego, ou tendo emprego, nos fazem viver, pobres e pouco honrados, por tantos roubos e esquemas armadilhados.

Podem os jovens de hoje ter dificuldade em perceber estes cruzamentos de história e de vidas políticas assim, mas fala-se de ditaduras como a de Salazar, como se pode falar das ditaduras das democracias, que nos esmagam de impostos, nos obrigam a muitos deveres e nos oprimem na ditadura do capitalismo selvagem.

Podem os mais novos achar estranho falarmos assim se temos cama, mesa e roupa lavada à custa dos país e se ainda por cima temos telemóveis e smart-phones, e vamos aos shoping’s, comemos no McDonald’s, saímos aos bares com os amigos e vamos andando. Podem até outros achar estranho porque não somos felizes com tanta abundância que aparentemente nos rodeia, se antes se era feliz com pouco.

O estranho desta história da história recente de Portugal é que os ricos ficaram muito ricos e os pobres, uns ficaram remediados e outros desempregados, tendo uns que partir de novo para o estrangeiro e outros arrumar-se nas ruas vazias das inquietações, a morrer aos poucos.
O estranho desta história é perceber, porque é que tendo modernos hospitais se morre tanto nos corredores, em nome da contenção, uma palavra que veio, depois dos políticos de Portugal e do resto da Europa terem usado o nome – Expansão. Depois de nos pressionarem durante mais de duas décadas para que gastássemos, para que expandíssemos.
O estranho é ter escolas sem gente e gente sem alma e sem esperança, porque os políticos que trouxeram até aqui o país, não descobriram que o país só melhora, se os portugueses melhorarem.
Estranho é o Estado tirar dinheiro do ordenado aos pais dos jovens, sempre aos que trabalham e não tirar às grandes empresas que fizeram negócios chorudos em esquemas cruzados de interesses públicos e privados.

Tudo isto é estranho e é o fado do fardo que carregamos e que às vezes já nem ligamos, porque quando ligamos as televisões é sempre a mesma cantiga. Um fado dum país que não é para velhos, mas onde se teima em tirar aos reformados cada vez mais das suas parcas reformas em nome de outras reformas estruturais que não se fazem. Um país que não é para velhos, mas que está a ficar velho e que manda os novos embora, depois de investir na sua formação.

Falar de abril aos jovens é contar-lhes a história recente de Portugal e fazê-los perceber que não foi para isto que os capitães ousaram e derrubaram um regime opressor. Falar de abril aos jovens é fazer-lhes entender que não podemos regredir, que o futuro faz-se em direcção ao progresso e não ao retrocesso. Que é possível todos fazermos esforços, mas sermos compensados pelo que de bom fizemos e não sermos massacrados constantemente como ao que estamos a assistir.
Que apostar no desenvolvimento cultural e no conhecimento não é desperdício, mas investimento.
Falar de abril e tentar perceber porque é que Portugal, saindo de um longo ciclo de pobreza, marcado pelo atraso e pela sobrevivência, voltou a ver regressar a pobreza, agora, sem as redes das sociedades tradicionais. Com um ordenado mínimo que vale hoje menos do que o de então e com direitos e regalias conquistadas e deitadas agora a perder, num país com cada vez mais desigualdades.

Chegados aqui, minhas senhoras e meus senhores, caros jovens, ocorre citar Almada Negreiros _ "(...) quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade." É o que ocorre dizer sobre Portugal. Todos sabemos dos males, incompetências e das incongruências, das corrupções que minam o sistema; dos males em excesso e dos bens em escassez, da nossa pequenez e das nossas limitações, no meio das incompreensões. Todos sabemos que só nos salvamos se houver mais empregos, porque só assim há progresso, se reduz a emigração, se nasce mais e o país cresce.

Todos sabemos que o país só se salva se todos colaborarmos, se formos empreendedores, se os políticos forem responsabilizados e se houver espírito de missão na política, e isto e aquilo. Todos temos ideias, todos os levantamentos foram feitos, todos os projectos bem elaborados, todas as boas intenções definidas e delimitadas, mas falta então salvar o país e devolvê-lo em bom estado às pessoas.

Falando assim, importa dizer, parafraseando Sampaio da Nóvoa, “Não podemos prescindir nem de liberdade nem de futuro”. E nesta história triste que vamos contando e assistindo, só fará sentido falar de liberdade e de futuro se for devolvida às pessoas a sua dignidade social. Porque as pessoas não são número e porque temos de mudar trajectórias teimosas que não nos levam a bom porto.

Porque o país está doente, o nosso concelho de Seia não pode estar de perfeita saúde. E se nos últimos 40 anos tivemos melhores e piores governos, todos constatamos que o actual governo é de longe o maior de má memória, porque nos enterra vertiginosamente a cada dia que passa e nos inferniza a vida, provocando ao país o maior retrocesso histórico e civilizacional de que há memória.

Um governo insensível e governantes impreparados, numa deriva liberal, de ideologia de direita, que teima em esmagar o povo com impostos e outras obrigações, defendendo grandes interesses instalados. Um governo que teima em não dar prioridade às vias de comunicação para a nossa região. Que desfere o maior ataque alguma vez visto ao Poder Local, que são a Câmara e as Juntas de Freguesia, cada vez mais limitadas na sua acção de bem-fazer pelas comunidades. Os órgãos do Poder local são os mais próximos das pessoas e são aqueles que mais têm sido atacados, para além das ameaças de esvaziamento de serviços públicos a funcionar na nossa cidade.

É preciso estarmos atentos e vigilantes e não permitirmos o esvaziamento do nosso Hospital, do Tribunal, do Centro de Emprego e das nossas escolas, porque isso significa abandonar as populações do Interior à sua sorte e assim condenar este território à morte. Temos o direito à indignação, essa grande conquista de abril. E quando todas as vias do diálogo estiverem esgotadas, não devemos ter receio de sair à rua reclamar e escancarar as portas que abril abriu, porque Portugal e Seia têm futuro e ele também depende de cada um de nós. Daquilo de que formos capazes. O país precisa de mudar de rumo, o governo tem de ser mudado, para que a esperança prevaleça.

Mário Jorge Branquinho
Partido Socialista de Seia
25 de Abril 2014