segunda-feira, 13 de abril de 2020

O “amigo Zeca de Seia” provoca onda de solidariedade com máscaras e viseiras



Já é conhecido por todo o país como o “Amigo Zeca de Seia”, pela onda de solidariedade que a partir do seu atelier, tem desenvolvido, confecionado máscaras recicláveis e viseiras de acrílico, para distribuir gratuitamente por várias instituições sociais e de saúde.

Em meados de março, com o eclodir explosivo da pandemia, começou por confecionar máscaras de proteção recicláveis para utilização em contexto extra-hospital, fornecendo a instituições, de forma totalmente gratuita.

Associou-se ao jovem empresário de malhas, Filipe Marques, que tinha encerrado a sua empresa por falta de encomendas de cachecóis dos clubes europeus de futebol. A última encomenda seria destinada a um jogo do Bayern de Munique para 20 de abril, ao que se sabe!

Do material dos cachecóis tentaram uma espécie de manga, que não resultou, tendo optado pela confeção de uma bolsa, levando por dentro um elemento filtrante, descartável. Coseram o elástico, testaram e em pouco tempo reuniram com o município de Seia a quem apresentaram o projecto, em forma de oferta. Foi precisamente a 20 de março, no dia de aniversário do Zeca, quando já havia alguns municípios a fazer máscaras, mas com tecido sobre tecido, sem elemento filtrante.

Sem muitas delongas, o município de Seia adquiriu o primeiro lote para distribuir por todas as IPSS do concelho, aproveitando a disponibilidade do empresário senense José Rogeira que financiou de imediato, o custo da matéria prima e maquinaria deste primeiro lote, para o qual foi também decisiva a colaboração de vários voluntários na costura final, de Loriga, Vila Cova, Seia, S. Romão, Torrozelo, Paços da Serra e Manteigas.

Por isso, o Zeca realça sempre que tudo isto só é possível graças a uma equipa de pessoas, membros da GNR, farmacêutico, comerciantes locais, estudantes, associados a um saudável espirito de camaradagem e convívio em tempo de pandemia. Aqui o Zeca, é o José Loureiro e toda uma equipa sem a qual não conseguia, e indica os nomes, para que conste: Paulo Brás, Carlos Silva, Tiago Ferreira, Pedro Daniel Conde, Amândio e Marcelo Daniel, Jorge e Pedro Pinto, Afonso Rogeira, João Quaresma, Fábio Fernandes, João Oliveira, António Magina. João Ferreira, Carla Reis e Olga Oliveira.

E em pouco tempo ao atelier chegavam pedidos e colaborações, numa onda conjunta de quem precisa e de que está disponível para colaborar. Tem havido inclusivamente pessoas que levam comida e bebida para quem se envolve neste projeto solidário.

Sempre são vários dias e horas, fechados na faina de fazer, coser, atar e andar!

Exausto em alguns momentos, mas entusiasmado o tempo todo, o nosso Zeca abre, entretanto, uma outra frente solidária, a da conceção de viseiras, desenvolvendo uma ideia a partir de um modelo fornecido por um seu amigo Kika do Minho. E começa outra etapa desta onda solidária, no tal espírito de equipa.


Aproveitando todos os restos de acrílico da sua oficina, recicla-os e quando dá conta, está a distribuir mais de mil viseiras pelo comércio local, GNR e outras instituições de diversos pontos do país. Tudo gratuitamente. E a máquina de corte da sua oficina não para. Tem cortado mais em quinze dias do que nos últimos meses. Já depois de acabar todo o acrílico que havia por ali no pavilhão, foi encomendando mais, até chegarem mais sobras de outras empresas, sensibilizadas pela sua ação, ligando-se a esta rede solidária deveras impressionante. Tão impressionante como a simplicidade do Zeca, dedicado por vezes mais de 16 horas por dia à causa, fazendo e distribuindo, orientando e explicando sempre que “não é nada”, apenas disponibilidade e colaboração. Tem havido pessoas a querer pagar e lá vai explicando, pausadamente, que não, que é gratuito, que é para proteger quem precisa ser protegido, no trabalho, na saúde e na vida confinada que se abateu sobre todos.



Já lá vão mais de 6 mil viseiras, leves, funcionais e práticas, oferecidas para onde são precisas, em toda a região da serra da Estrela, pelo país e por alguns países da europa. E a fama do “Zeca de Seia” alastra, ao ponto de alguém numa vila das proximidades oferecer uma máscara a uma senhora idosa de um pequeno comercio e ela perguntar se era uma “mascara do Zeca”! Ou daquele outro senhor da Guarda, que foi a uma loja perguntar se tinham viseiras para as suas filhas que trabalham no hospital e alguém na fila para atendimento lhe diz que ligue para o “Zeca de Seia” que ele tem e lhe dá o contacto na hora.

Entretanto, há poucos dias começa outra etapa deste storytelling. Uma enfermeira de uma localidade próxima de Seia mostra uma “viseira do Zeca” ao marido, que é um engenheiro a trabalhar na PSA de Mangualde, que por sua vez vê ali uma ideia para levar a quem manda. E não foi preciso esperar muito tempo para que o grupo PSA e a fábrica PSA de Mangualde ficassem sensibilizados com este projeto solidário e com o espírito de entreajuda que está na base da iniciativa. Associaram-se ao projeto e à colaboração do Zeca.

Mário Branquinho