Uma espécie de criativa
E tudo mudou. Parece redundante, mas por muito
que se tente, tudo aquilo que sabíamos já quase não vale nada e olhamos de alma
cansada. Atropelados nos paradigmas emergentes, quais agentes atolados,
frequentemente desolados, giramos meio desnorteados a procurar saídas.
Rodopiamos à procura de norte, em busca de sorte para saídas airosas, de
situações embaraçosas. Parece redundante, mas em cada instante muda a forma e o
conteúdo e já não se nasce, não se educa, não se ama, não se trabalha nem se
faz política, nem se envelhece suavemente como antigamente.
Tudo
mudou e parece que a culpa é da globalização, da tecnologia e da correria
empreendida e desmedida. Emergências do mundo contemporâneo, abalado por entre
sismos e cismas desenfreadas da raiz até ao tutano. E não há fulano que escape
a tanto dislate, nem sicrano que atente a tanta mudança e a tanto gosto
imposto. Resvala-se de conceito em preconceito, em grande dança, em nome da
esperança, por embalos tais, até sobrar ciência e paciência no palco da nossa
inquieta conveniência. Quase nem damos conta, mas quase tudo se impõem, muito
se esvai e na crista da onda, sem dizer “ai”, lamentamos e enfrentamos aquilo a
que chamamos “crise contemporânea”.
Tudo
mudou e tudo o vento leva na leveza de novas emergências, arrastando falências,
deslocando-nos na corrente que a gente sente e nos efeitos produzidos. E vamos
e vão as vãs esperanças de políticas acertadas e fundadas em pergaminhos de
incerteza. Sobram miudezas, sobramos nós e sobra a selva da violência que de
nós se apodera, sem espera, produzida nas galhas da euforia que um dia termina
e nas vanguardas subliminares da comunicação e de muitos canais em desconstrução.
Parece
banal dizer que tudo muda, se o mundo não para, se na inquietude do momento, sobressaem
o assento do vagar e as velhas teorias de melhores dias. E na indefinida
impreparação que assiste, cada um que desiste, salta fora por não se moldar à
fúria e á força. Parece banal, mas o confronto no equilíbrio do que sabemos com
o que vemos, resvala no desconforto da fragilidade das nossas perceções e
convicções. Em milésimos de segundo saltamos de heróis a vitimas, de bestiais a
bestas, de crédulos a incrédulos, de eufóricos a cabisbaixos, de fracos a
fortes, de bons a maus, de recomendáveis a insuportáveis, de ricos a pobres e
de pobres a ricos e assim por diante, em margem constante, na incerteza das viragens
e na estranheza das aragens.
Tudo
muda e nós aplaudimos, porque só não muda quem não acompanha nem quer sair do
lugar. Tudo muda e assistindo à rapidez e ligeireza, estranhamos à vez, na
nossa firme certeza, por desconfortavelmente nos confrontarmos a miúde com a
vertigem da inadaptação. Se é certo que evoluímos e avançamos, construímos e
modernizamos, também é certo que nunca fomos tão infelizes com tanto, nem tão
frágeis por tão pouco. E isso é que é grave, na grandeza desajustada, entre o
ter e o ser, entre conversa afiada e posse material efetiva, na riqueza e na
certeza de ter de ser de qualquer jeito.
Tudo
isto porque se fala do declínio do homem e da coisa pública, na aceleração dos
processos e na perda de parâmetros e valores, nas variáveis das novas vidas e
novos mundos. Tudo isto porque o nosso estado de alma se interroga e o estado
dos Estados se enfraquece e se desajusta, sem radares para compreender novos
arranjos e novos modos de vida pós-moderna, saltando à vista, cada vez mais
individualista.
Mas
tendo esperança, quando tudo muda, a gente sempre alcança.
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