Uma espécie de criativa
Uma flor ávida de orvalho, um pássaro solto em céu azul,
homens sedentos de tranquilidade interna e nós serenos a contemplar o lado
feliz da fugaz vida, a arrancar porquês na rotina. Porque afinal nem tudo é
complexo, nem tudo se resume a dimensões imensas, a perguntas arrojadas e a
velhas teorias do certo e do errado.
Uma gaivota e um navio não são a mesma coisa, como não é um
pescador confundível com o seu próprio peixe. Contudo, não deixamos de afundar
relações e analogias, de partilhar emoções e simpatias, com quem vai e com quem
volta, aos supetões, na doce partilha de interrogações. Na lonjura da espera, esperando
pelos que partem e não respondem. E espreitando, vemos partir, partilhando,
olhando e sonhando, nas imensas paisagens do que ao de leve soa a nossos
quereres, a nossas vontades. E no imenso mar de emoções, arrancamos perguntas
pertinentes, de quem tudo quer saber, de quem de tudo espera, de quem vai além
de perguntas, a ver para lá dos porquês.
Querendo saber, soçobramos na faina interrogativa de quem se
não contenta com ditosas definições, de um nacional
porreirismo, assente no “porque-sim”, sem mais, porque não sabe demais.
Porque afinal é bom demais ir além do azul das nuvens, com pássaros coloridos,
a ver partidas de navios, em manhãs de orvalho, com homens a sair para o
trabalho, sem ter de se contentar com o que dizem.
Se perguntamos, interrogamos mas não vamos além da aragem de
rotulagem que nos inferem, pelo que somos, do que rimos, pelo que fazemos e do
que pensamos, concentrados que andamos na suave engrenagem que engatamos. Assim
sem querer, enfrentamos interrogações nossas, descomprometidas, sem saber
sequer respostas e sem ter de dá-las, no impetuoso frente-a-frente que se quer,
entre nós e quem vier.
Perguntamos esperando e em suaves anonimatos, tantas vezes
calamos, nem ouvindo nem andando, a instantes por conveniências reinantes, a
calar fundo, a não dizer mais do que sim, sem perceber e por fim, procurar
saber.
Entre o desejo de orvalho da flor silvestre e o céu azul do
pássaro preto nas manhãs de ar cinzento, sussurra a ideia de que afinal não
vamos além da carreira, ou por medo de enfrentamento, ou por receio de não
estar à altura. Tantas vezes não aceitando o que não se entende por receio de
parecer descabido, por não fazer sentido, embrulhando de qualquer maneira e
feitio.
Na corrente de interrogações, acrescentamos definições de mar
profundo, para tudo e para salvar o mundo e não descortinamos uma nesga de
aragem para satisfazer os nossos porquês. Porque não sabemos o que queremos,
porque há perguntas a mais, perguntas tolas que ninguém recomenda, ninguém faz
nem responde. Porque porquês são
angústias a três, de mim, de ti e do outro, sem sabermos se no cruzamento
ditado, os interesses se cruzam, se o amor se interceta, se a perfídia
espreita, se a resposta dada se aceita, ou se afinal a verdade, essa crua
imagem da pressa, sempre cabe na razão e se interessa ou não.
Sem comentários:
Enviar um comentário