Um vírus não se vê à vista desarmada, mas tudo o que quer
estatuto de viral, tem de ser visto por milhares ou milhões, sem recurso a
qualquer ponta ótica ou estreito de ilusões. Apenas na ótica da diferença, da
crença ou do inusitado, face à vulgaridade da norma.
Viral, pelo que se vê ou não vê e crê, e tudo a espalhar-se
como um vírus, voraz, derramando na imensidão que se estende, sem ângulo e sem
lânguida visão.
Tanto pode ser como quem tenta sobreviver a uma epidemia
apocalítica, em quarentena, como reforçando ao máximo a exposição para o
fenómeno fátuo. Uma que se quer, outra que se evita, por onde der ou por onde
puder.
Hoje virou negócio no mercado de valores virtuais fazer vídeos
virais, que não são mais que histórias breves inusitadas. Histórias simples que
despertam curiosidades, em bom rigor, matreiras, por tanto fazer subir como
descer um índice de popularidade. Ou criar atratividade, ou gerar distâncias ou
repugnâncias, ou admirações ou frustações, ou espanto ou desilusões.
Seja. Vídeo viral tem estatuto. E adquire-o do alto poder de
circulação na internet, como algo que se mete, configurando fenómeno de
popularidade. Na verdade, vídeo só é viral se for visto em larga escala, se for
além de visualizações normais em quantidade, independentemente da qualidade.
Quase sempre resultam da espontaneidade. Quase sempre brotam da captação
oportuna, do instinto da bruma ou da circunstância que a fúria assuma.
Fúria de ver e mostrar, ânsia de a todos chegar, seja na
ótica do comprometido utilizador ou no instinto do manipulador. Nem tudo o que
se vê é o que se veja, nem tudo que sobeja é. Seja por ser virtual, espontâneo
ou composto, não deixa de ser real o fenómeno que corre o mundo,
independentemente de credos, conceitos e preconceitos.
Consta que sim, que o que é viral-virtual é bom, mas,
assim-como-assim, nada como ter certas reservas, não vá o vírus ir além do efémero
e instalar-se no mal que perdura e dure para sempre. Até ao fim.
Mário Jorge Branquinho
Junho 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário