De volta a um lugar de partidas e
chegadas. Num aeroporto pequeno, o das Lages, na Ilha Terceira, por mais de
quatro longas horas, entre voos, do Faial para aqui e daqui para Lisboa. Entre
tempestades e suspiros meus, a ver se o tempo passa, na esperança de seguir
viagem e enquanto isso, rememorar. Intentar uma espécie de incursão pelo
passado ou por momentos de vida que nos marcaram. Só quando paramos, temos
tempo para pensar e nem sempre parados, pensamos. Os aeroportos são lugares propícios,
sobretudo quando estamos sozinhos.
Neste caso, intento o exercício.
Uma intenção de quem passou o meio século e vai desfiando histórias de vida, do
que se lembra para memória futura. Do que poderá ler-se mais tarde, com
substância e substrato, relatado de modo a perceber os caminhos, com interesse
e sentido. As deambulações vividas, nesta corda de vida a esticar-se por
emoções lembradas, por circunstâncias passadas e a ver se servem no laço armado
de enredos de storitelling. E tantas histórias que todos temos, e tanta vontade
de partilhar!
Fora de saudosismos, inscritos na
brisa do vento, sustento a escrita, por entre viagens e paragens, dando asas ao
desejo de assinalar passagens de um percurso de vida deste passageiro, talvez a
meio de percurso. Entre viagens, em plataformas de itinerários dispersos, a
fazer incursões pela memória dos dias, na esperança de encontrar episódios de
vida dignos de partilha. Cenas de uma vida real, nossa ou dos outros, porque há
sempre muito que contar, circunstancias banais, ou não, interessantes ou sim,
para a prosa que se quer escorreita e apelativa.
Quando se mata o tempo
aproveitando o tempo de que se dispõe para pensar sobre histórias nossas, do
nosso percurso de vida, é sempre um exercício arriscado, no risco da banalidade
contada e da acrescida vulgaridade de exposição intima. Mesmo assim e apesar
disso, assume-se a intenção do risco, e redige-se prosa, como prova de vida
apressada e passada, para que conste. Simplesmente para que conste, nesta
partilha de vida intima, cada vez mais vulgar, nesta quase necessidade de
falarmos de nós. Na decifração daquilo que pensamos, do muito que passamos e
das infinitas maneiras de redigir histórias passadas, na primeira pessoa. Sem
mais!
E assim, neste interposto de
viagens, corro a socorrer-me dos apontamentos mentais que fui anotando, para
ver se escrevo, para tentar partilhar e quem sabe, tirar ilações.
Todos nós, temos livros em nós, prontos
a brotar, do parto ao presente, com amigos e outros, com sangue, suor e lágrimas,
com magias e ternuras e frases furibundas e fases menos boas, com altos e
baixos, com figuras marcantes, umas tontas e outras extraordinárias, cativantes
e desmotivantes e assim e assado.
Enquanto isso, enquanto consulto
o livro, olho o horizonte a ver se chega o avião, a ver se parto daqui, antes
que me leve o desânimo de esperar sentado.
Ilha Terceira, 9 de Junho de 2017
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