quinta-feira, 20 de julho de 2017

Morreu José Hortêncio


O senense José Hortêncio, morreu hoje, 20 de Julho de 2017, aos 88 anos, vítima de doença oncológica.

Partiu um homem bom de Seia. Dinâmico e muito dedicado ao associativismo, com relevância na área da música. Enquanto músico autodidata e enquanto dirigente de várias formações.

Para a posterioridade fica a sua obra, sucintamente retratada nesta biografia que elaborei com ele ainda em vida e que publiquei em 2009. Agora só acrescentei um pouco mais, do muito que ainda acrescentou nestes anos.

Biografia

José Manuel Mendes Hortêncio nasceu na Rua 1º de Dezembro, em Seia, a 29 de Junho de 1929. oitenta e oito anos de vida e mais de setenta de músico.

Começou a sua carreira musical em 1941, na Banda dos Bombeiros Voluntários de Seia, regida na altura por António Augusto Rosa. Nesses tempos, cruza-se ainda com os maestros Basílio Monteiro, Laurentino de Serra e Moura, Sena Pinheiro e António Campos e com os directores Albano Gomes Cabral e Manuel Toscano Pessoa.

Nos princípios da década de 50 interrompeu a sua actividade na banda, por incompatibilidades com a actividade profissional na Companhia Herminios, voltando em 1964, na altura em que era regente o seu irmão Virgílio.


Em 1966 foi transferido da Companhia de Transportes Hermínios para a Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela (EHESE), no mesmo ano em que era fundada a Banda desta empresa, tendo José Hortênsio ainda tocado simultaneamente na Banda de Seia e na chamada “Banda da Empresa”. Nesse mesmo ano, foi também um dos fundadores da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Seia. Nos anos seguintes, fez parte da Orquestra da Folgosa do Salvador e dos Grupos “Sena Jazz”, “Ases do Ritmo” e “Diapasão”, parando em 1979, por motivos de saúde. Voltou mais tarde à Banda de Seia, em 1983 (até 1994), quando era maestro Manuel Pancão Cola.

Como instrumentista, executou trompete, saxofone alto e tenor. Passou transitoriamente também pelas Bandas Filarmónicas de Arcozelo da Serra, Gouveia, Paços da Serra e Moimenta da Serra.

Além de músico, ao longo destes anos foi também director da Banda de Seia, Director do Rancho Folclórico e Director Artístico da tocata do mesmo, na altura em que foi gravado o disco do Rancho.

Foi autor de algumas marchas e letras para a Rua Nova e Bairro Salazar, nas Marchas Populares de Seia.

No Orfeão de Seia, além de ter sido Tesoureiro da Direcção, foi coralista entusiasta, pondo também muito do seu empenho na organização do “Festival de Música Coral em Terras de Sena”.

Na Academia Sénior de Seia, integrou o Grupo “Cantares e Cantigas”, numa forma descontraída e saudável de lazer e convívio, próprios de quem muito tem dado à causa pública.

Fez parte da Orquestra Juvenil da Serra da Estrela como fundador e executante, tendo exercido cargo de vice-presidente. E aqui, tem naturalmente de destacar-se o empenhamento de José Hortênsio na realização do Festival de Orquestras de Música Ligeira, numa caminhada conjunta com Marco Paulo Santos. No final deste ano o festival cumpre a sua 18ª edição. Uma ocasião para a qual já tinha assegurado a presença da Orquestra Ligeira do Exercito.


Já em 2007, com o seu irmão Virgílio e Cesário Mota - três conceituados músicos despontados ao longo dos tempos em Seia - criaram o grupo “Lendários”, que acompanhados por 4 familiares, gravaram um CD e DVD com músicas dos anos 50.
Em 29 de Novembro, integrado no X Grande Festival de Orquestras de Música Ligeira de Seia, que decorreu na Casa Municipal da Cultura, José Manuel Mendes Hortêncio foi homenageado pela Orquestra e público presente.

No Feriado Municipal de Seia, 3 de Julho de 2010 foi-lhe atribuída pelo Presidente Carlos Filipe Camelo a ”Campânula Municipal de Mérito e Dedicação”, pelo seu trabalho enquanto dirigente associativo.

A sua última aparição pública foi no concerto da Orquestra Juvenil da Serra da estrela, no ultimo Feriado Municipal de Seia, 3 de Julho, após a cerimónia de entrega de Câmpanulas de Mérito Municipal.

No decurso destes 80 anos de vida, José Manuel Mendes Hortênsio viveu feliz, rodeado da família – os “Ceiras” - conhecidos por terem excelentes dotes musicais e que muito têm dado ao panorama musical do concelho de Seia. Dádivas, das quais foi retirando como compensa, o gosto pelo trabalho, as canseiras dos desafios e as incompreensões que sempre surgem num percurso longo e difícil e tantas vezes escasso de meios.


Muito mais haveria para dizer, da vida de José Hortêncio dedicada à causa do associativismo através da música, mas fica o essencial de um percurso longo e saudável, de um senense temperado na forja de um auto-didatismo feliz e voluntarioso. De um homem honesto e humilde, que sempre soube criar laços e cultivar a amizade ao longo dos tempos, nesta “Seia querida”!

Mário Jorge Branquinho


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